Figura 1: Ilustração Jornal Rio de Flores |
No Facebook, encontrei uma publicação que
me prendeu a atenção. Aludia sobre a rara ocorrência das chamadas Pedras
Parideiras, em Arouca, Portugal. Lembrei que eu tinha o registro de minha
viagem com imagens do referido local, no ano de 2007, quando lá estive pela
primeira vez. Resolvi contar-lhes sobre a minha pequena coleção de pedrinhas.
Conheço outras pessoas que desenvolveram
hábitos colecionistas, juntando chaveiros, isqueiros, moedas, cartões postais,
selos etc. No meu caso, sem chegar a ser um colecionador respeitável, gosto de
trazer pedrinhas, pedaços de cerâmica velha ou cacos de parede, até pedaços
amorfos de argila ressecada, que vou recolhendo nos lugares que visitei. Nada
valiosos, são coisas simples e pouco significativas aos olhares de outras
pessoas. Para mim, são capazes de emocionar! Pego-os antes de chegarem a virar
pequenos grãos de areia, perdidos nas praias e fundos de oceanos! Não sei
explicar a atração que tenho por “pedras”, talvez seja em razão do sobrenome
Rocha.
Grandes poetas e escritores já escreveram
algo, sobre pedras que encontraram nos caminhos da vida! Carlos Drummond de
Andrade, cantava ou chorava, em seus versos, porque havia uma pedra, uma única
pedra e específica pedra, no meio do caminho! Na Bíblia, são conhecidas as
Parábolas das casas edificadas nas rochas. De maneira geral, entendemos o
significado das rochas, como sendo a presença de um sentimento de força e fé em
Deus, mas também, sem qualquer apelo ao sentimento judaico das lamentações, há
apelos de paz, em Israel, afastando dificuldades, padecimento e dor. Outro
importante legado dos livros sagrados, refere-se ao apedrejamento da mulher
adúltera, onde, serve como referência, o sentido de jogar pedras é a punição
máxima de um crime. Ainda, nos nossos tempos, ditos civilizados, existem povos
que adotam o apedrejamento, como uma forma de condenação à pena de morte. A
sabedoria popular se refere também, certamente, ao desafio feito por Jesus:
“Quem não tiver pecado, que seja o primeiro a jogar pedras!”. Como se sabe,
naquela ocasião nenhuma foi jogada! E quem se arriscaria a atirar, ainda que
fosse alguma bem pequenina?
Entretanto, podemos encontrar na
literatura, passagens que dão às rochas, não importando o tamanho, um
significado nobre, edificante, ou inversamente um sentido de dificuldades,
desafios e obstáculo ao progresso da humanidade. Até mesmo as mais ingênuas histórias
infantis, por exemplo, dão à habitação, quando construída com pedras e tijolos,
a ideia de segurança e capacidade de resistir as intempéries! Lembra da fábula
dos três porquinhos e o lobo mau, divulgada em 1853, pelo escritor australiano
Joseph Jacobs? Quando crianças, nós cantávamos músicas alegres, formando no
quintal, cirandinhas, mãos dadas! Lembram? Por favor, parem de ler um pouco!
Cantem: “Se essa rua; Se essa rua fosse minha; Eu mandava; Eu mandava
ladrilhar; Com pedrinhas; Com pedrinhas de brilhantes; Para o meu; Para o meu
amor passar!”
Certa ocasião, estando em Portugal,
amigos levaram-me a conhecer algumas das aldeias de xisto. São centenas em
todos os lugares, autênticos vilarejos rurais, simples casinhas com paredes e
telhados de granito, feitas para durar uma eternidade. Fiquei encantado e
apaixonado, olhando aqueles pequenos sítios, localizados em vales tortuosos e
montanhas escarpadas. Muitas das aldeias estão em decadência; são marcos
significativos de um passado heroico, feitas para lembrar tempos muito antigos
de glorioso trabalho rural; hoje, estão a testemunhar a chagada do progresso
nas cidades novas, erguidas em padrões mais confortáveis e funcionais, isso é
certo, mas sem a fortaleza daquelas enormes pedras, como foram construídas as
pequeninas aldeias. As melhores palavras que encontrei, para descrever aquelas
localidades, foram: sonhos e quimeras!
Figura 2: Fotos Rocha Maia
Figura 3: Quadro: “Bailarico Saloio”, autor Rocha Maia – 2008
Em Portugal, tive uma experiência única, em matéria de juntar pedrinhas, como uma espécie de amuletos e souvenires de viagem. Com amigos, visitei na Serra da Freita, Arouca, o local onde ocorre o fenômeno das Pedras Parideiras. Lá pude recolher, na natureza local, dois belos exemplares. Não vou dissertar sobre o fenômeno, único, em Portugal e na Rússia. Careço de conhecimentos, para comentar detalhes, de como acontece. Desde então, após aquela minha primeira viagem ao exterior, passei a juntar pedrinhas.
Fica difícil descrever as aventuras e
emoções, que cada uma das minhas “pedrinhas” representa para minha memória.
Algumas foram colhidas aqui na América do Sul (Chile, Argentina e Paraguai),
outras colhidas pelo Brasil, de Norte ao Sul. Muitas vieram da velha Europa.
Tamanhos variados, rústicas, na maioria das vezes, embora eu as tenha lapidadas
e, também, lascadas. Brilho próprio e tonalidades muito diferentes. Elas são
assim como nós, seres humanos, cada um com sua identidade única de existir!
Somos todos iguais na essência do ser, contudo absolutamente únicos na forma e
espaço que nos cabe ocupar, carregados com a mesma energia cósmica vital e
divina.
Figura 4: Fotos por Rocha Maia: “Pedras Parideiras” da Serra da Freita, Arouca, Portugal.
Coletar e colecionar pedrinhas tornou-se um hábito, com algum sentido místico; meu fado, viajar e colher “pedras” pelos caminhos! São companheiras de minhas andanças! Não pego qualquer uma que encontro! Não! Os encontros acontecem, mais ou menos, como cantava Luiz Ayrão: “Qualquer dia, qualquer hora, a gente se encontra. Seja aonde for; pra falar de amor...”! Vou andando e, de repente, meu olhar é atraído para determinada direção! Sem pestanejar, vejo algo que está ali a me esperar, no chão! Vejo então, aquela pedrinha! Não sei se o coração bate acelerado, mas sei que, num relance, eu abaixo e a pego com carinho. Para ter certeza de que não é uma qualquer, dou aquela examinada rápida, confiro detalhes; a seguir guardo com carinho. Não querendo parecer paranoico, daqueles que atiram pedras, disfarço! Conforme a situação, confesso, dou uma de louco manso! Antes, verifico se alguma outra pessoa está a me olhar, para só depois guardar, com grande respeito e carinho, aquilo que será considerado como mais uma nova “companheira” de minhas viagens. O tempo mostrou-me como as pedrinhas são sábias, boas conselheiras, importantes referências de memórias e de ensinamentos obtidos nas andanças da vida. Assim, fui colhendo dezenas de outras “companheiras”, algumas tão queridas e raras, como as minhas Pedras Parideiras.
Vá a Portugal e visite a linda cidade de
Arouca! Aproveite para saborear os famosos e deliciosos Doces Conventuais!
Figura 5: Foto Rocha Maia
Luiz Roberto da Rocha Maia. Nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente, em Rio das Ostras.
Em 2023, completa mais de cinquenta anos de atividade cultural.
Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em Portugal, é Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais - Brasília /DF.
Membro da Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro; e da Academia de Letras e Artes ALEART, Região dos
Lagos/RJ. Participou de mais de duzentos eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal, França e Bulgária. Recebeu mais de setenta
premiações e destaques em
salões de artes plásticas.
Citado em catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil e no exterior; bem como nos acervos do Museu Naïf de São José
do Rio Preto/SP; MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do Château des Réaux; e do Museu Internacional de Arte Naïf de Vicq, na França.
Seus quadros estão presentes também em pinacotecas de diversas entidades e coleções de aficionados por arte naïf no Brasil, Cuba,
França, Itália, Espanha,
Chile, Japão, Bolívia e Portugal.
Por três vezes foi selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo recebido o prêmio aquisição 2006, em Piracicaba/SP. Na literatura,
publicou o catálogo “Ingenuidade Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro “O Diário de Lili Beth”, pela editora Videu
– 2021; e colaborou com a Coluna Arte Animal, da revista digital Animal Business Brasil, escrevendo artigos versando sobre a presença
de animais
como tema nas belas artes.
Texto, tela e fotos: Rocha Maia
Ilustrações: Jornal Rio de Flores
Edição e Direção Geral Renato Galvão |