Carregada.
Equilibrando nos braços as compras na fila do supermercado.
Olho para o
lado e vejo uma pessoa na mesma situação. Dou um sorriso e ela retribui.
Talvez
devêssemos ter pegado cestas... pelo jeito pensamos dar conta por serem poucos
itens a comprar, "nunca é". É a tal flexibilidade, elasticidade ou o glorioso “ultrapassando
limites”.
Mais alguns passos e o tão esperado alívio
viria. O balcão do caixa agora lembra a linha de chegada da São Silvestre. Eu
sei, exagerei (risos).
A questão é: e até lá?! inspira, expira, muda de mão, troca a posição
do corpo, mexe e remexe, confere quantos clientes tem a frente, cronometra o
tempo de atendimento, quase desiste (está com fome), pensa em jogar tudo no
chão (desculpe, já passou).
idealiza uma reunião com a gerência para
reivindicar cadeiras na fila única e faz um juramento: nunca mais esquecer das
sacolas retornáveis. Ah, e só pegar o que estiver na lista.
Passado
o desabafo duplo; sim, sou solicita com a vizinha equilibrista e incluo o
plural nesta narrativa. Em muito breve esticando a coluna, alongando pescoço, tirando
a dormência muscular, será possível sobreviver, somos fortes.
Mas
e depois? Quando sairmos e formos para casa, trabalho, para rotinas
necessárias, para a vida? Vamos continuar carregando o mundo nas costas?
Ultrapassando os limites próprios, abraçando uma sobrecarga emocional muitas
vezes de outras pessoas?
O
episódio compras de uma mulher polvo foi a parte visível, concreta, objetiva.
Será que no cotidiano não temos também equilibrado, com doloroso jogo de
cintura, grandes e múltiplos sentimentos, emoções, rancores... acreditando que
não tenha outro jeito?
-
Eu consigo
- Deus
me ajuda
-
Só mais essa vez
-
é por uma boa causa
- Sempre
tem um jeitinho
-
Vai passar
E
a saúde física fica onde? Pedindo socorro! e sem percebermos viramos
contorcionistas da vida. Realmente precisamos de tudo o que temos, fazemos
questão de transportar, manter?
Voltando
ao cenário inicial: atrás de mim, na fila reflexiva um homem, com um item
somente e com um semblante leve, sereno. Não o vi olhando no relógio, emitindo
ondas para acelerar o tempo, talvez não conjugue mais o verbo “demorar”.
A
verdade é que desejei por uns segundos estar no lugar dele; sem pesos, e dores
no corpo. Embora eu não estivesse carregando supérfluos, a situação me levou ao
encontro com o subjetivo. Lá onde estava precisado silenciar e escutar,
perceber o real espaço que existe e não o lotar. Respeitar o nosso eu.
Uma questão de hábitos libertadores, eles estão prontos a serem adquiridos.
Parabéns querida Cândida Carpena pelo belíssimo texto! Adorei a leveza da escrita, dá gosto de le. Parabéns ao Jornal Rio de Flores na pessoa do Renato Galvão! Está lindo com uma outra cara. Essa nova nuance trouxe vida ao nosso jornal!
ResponderExcluirParabéns. Belo texto. Sucesso sempre.
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