segunda-feira, 5 de maio de 2025

 

Todo mundo carrega grilhões interiores, a sensação de muitas vezes estar encarcerado dentro de si. A gente até encena bem para parecer que tudo está certo, mas no fundo escondemos nossos grilhões e prisões do mundo, assim a gente vai atuando, encenando, escondendo as marcas das algemas e das bolas de ferro com que aprendemos a lidar, mostrando a parte boa como se tudo fosse perfeito, maquiando as imperfeições. Aos poucos a gente vai se culpando, se poupando, se punindo pelo que teria sido se fizéssemos diferente, se fôssemos outra pessoa, se tomássemos outras decisões... 

Se... Se... Se... 

Se tudo fosse diferente, seria tudo igual. 

Às vezes me perguntam se eu nunca fico triste... fico, fico triste, fico com raiva, fico decepcionado, só escondo bem e transformo em poesia. Talvez escrever a poesia seja a forma mais suave e arriscada de sangrar o que só se cura na força do grito. Se conhecêssemos o outro tão bem quanto a nós mesmos, não veríamos tudo da forma que vemos, não nos puniríamos tanto por não sermos iguais a eles. 

E onde está a liberdade quando estamos apenas encenando que somos livres? Tudo que a gente conhece é apenas a superfície de nossos mares existenciais. Parece até que já escrevi sobre isto outras vezes, tive um dejavu, como se tivesse vivido mais de uma vez o mesmo questionamento, a mesma sensação de não ser a primeira vez que me vi topando na mesma palavra para tentar sentir diferente o que escreveria. 

Toda cura começa na escrita, se não cura, pelo menos domina, diminui a dor. Se a poesia não é um milagre na vida do poeta eu não sei mais o que poderia ser. Comecei falando de grilhões e terminei falando de cura, estamos fadados a viver em um corpo, pertencer a um mundo preso a um tempo e termos desejos que não podemos saciar, entre a ânsia e o tédio filosófico. Não se assuste se alguém expuser em praça pública um texto aleatório, dizendo que foi curado justamente ao abrir e colocar para fora as próprias feridas, seguindo o rumo oposto de todo mundo.

Texto: Pedro Garrido
Edição e Ilustração: Jornal e |Livraria Rio de Flores

PedroGarrido é pedagogo, poeta, escritor e palestrante de São Gonçalo - RJ. Participou de diversas antologias e eventos literários nacionais e internacionais, além de ser membro de três academias literárias e de coletivos culturais. Em janeiro de 2021, lançou seu primeiro livro de poemas, "(Uni)Verso". Até agora, publicou quatro obras individuais: "(Uni)Verso" (2021), "duo" (2022), "Teshuvá" (2022) e "Pedrinho e o Cão Brabão" (2023). Também é o criador e produtor cultural do sarau (Uni)versos Livres, realizado mensalmente na Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres, em Itaboraí.

Direção Geral
Renato Galvão



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