A nossa vida é tão frágil
como um fio de orvalho.
A nossa segurança é tão
ilusória como as histórias falsas que a nossa mente inventa.
A nossa saúde, física e mental, é tão volátil como o
álcool.
A efemeridade de tudo faz da vida aquilo que ela é,
uma passagem ora mais curta ora maior, ora mais leve ora mais pesada.
Muitíssimo daquilo que se passa não está em nosso redor,
mas dentro de nós, ou melhor, daquilo que deixamos entrar ou não no nosso
círculo, na nossa bolha.
A agitação brutal da vida só nos afeta dentro dos
limites que nós próprios impomos ou não.
Outras vezes, quando o frenesim é demasiado, então a
vida abana-nos, trazendo vendavais sobre várias formas. A natureza revolta-se,
as doenças surgem, as faltas daquilo que consideramos garantido como a
eletricidade, a água, os alimentos, os medicamentos, aparecem. E aí paramos,
obrigados, e pensamos, receando, para tornar a esquecer.
Temos por certo tanto e tanto nos escapa, como água a
passar pelas nossas mãos. Temos o tumulto, o alvoroço, como trovoada, em vez da
paciência, do acalmar e pensar, do respirar conscientemente.
Queremos engolir o mundo, muitas vezes através de
feitos ou posses que não passam de pequenas vaidades ou falsas crenças, mas que
acreditamos serem reais, insatisfeitos, desvalorizando aquilo que já se tem.
Outras vezes apenas tentamos o melhor para nós e para os nossos, um evoluir
pensado e sereno, não deixando escapar o nascer e o pôr do sol, os grandes
pormenores, não nos esquecendo de nós, verdadeiramente de quem somos e para
onde queremos caminhar, dos nossos valores. Os grandes e pequenos feitos e
pensamentos que constituem a vida.
Muito perdemos na correria, olhando apenas para o
lado, mas o principal é perdermo-nos a nós próprios, entregamo-nos a esses
pequenos fatores que por algum motivo falso nos trazem uma sensação de
segurança ou de traiçoeira euforia, talvez. O querermos mostrar e demonstrar
algo ao mundo. Mas não necessitamos de o fazer.
É pena. É pena não pararmos e sentirmos a vibração da
terra, da vida para além de nós, deste universo que nos une ou que nos afasta.
Vislumbro imagens de uma sociedade melhor, conjeturo
menos drama, menos sede de destruição e de posse, mais pessoas que estendam a
mão ao outro e a si próprias, de uma forma natural e contínua, pensando no
plural.
Vejo, enquanto escrevo estas palavras, através da
minha janela, o sol que desponta no meu jardim, após a chuva, as cores
brilhantes e os pássaros que passam frente, oiço o seu cantar, imagino o cheiro
das glicínias roxa e branca da pérgula e confirmo, confirmo que tudo o que tenho,
tudo o que temos, é este momento. Tudo pode alterar já no próximo segundo e até
posso nem chegar a publicar estas palavras.
A tal fragilidade da vida, a tal falsa segurança.
Por isso pergunto: já fizemos hoje alguma coisa de
magnífico e simples, como olhar para o céu e agradecer tudo aquilo que temos?
Já sorrimos para alguém? Já abraçámos alguém? Lembre-se, os grandes feitos
existem a partir dos pequenos e serem grandes ou pequenos, isso depende da
perspetiva. Agora a força e a determinação, o acreditar, o trabalhar e
trabalharmo-nos a nós próprios, o balancear e o saber e sentir cada momento,
esses são transversais a aproveitar aquela que pode desaparecer a qualquer
instante: a vida...
Susana Veiga Branco. Portugal (1974). Mestre em Gestão de Organizações de Economia Social, licenciada em Jornalismo/Comunicação Social, formadora, owner e CEO de empresas na área de investimentos imobiliários. Escritora de prosa e poesia, cronista na imprensa escrita e rádio, autora de livros e e-books em Portugal e no Brasil, co-autora em 40 coletâneas de poesia e prosa portuguesas e internacionais, investigadora na área social e do património, com publicações académicas em jornais e no CIJVS-Centro de Investig. Professor Doutor J. Veríssimo Serrão, do qual é associada. Membro da APP-Associação Portuguesa de Poetas. Coordenadora de obras literárias e curadora de arte. Artista plástica com exposições individuais e coletivas e participações em encontros internacionais. Ilustradora de capas e miolo de livros. Colabora no Jornal Rio de Flores - Brasil, com a coluna Contemporaneidade e estilos de vida e em Portugal é cronista em programas de rádios e participa no programa de poesia radiofónico Livro Aberto. 3 prémios internacionais.
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| Direção Geral Renato Galvão |


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