segunda-feira, 26 de maio de 2025

 

O tempo é um velho barbudo

Com olhos azuis de bebê

Considera-se eterno sem saber a próxima curva que virá

Como todo adolescente que assim o presume ser

Corre como uma estrada em linha reta em rios caudalosos

Na pressa de ser adulto, dono de destinos tortuosos

 

O tempo gira em parafuso

Viramundo, incapaz de parar

Gira em círculos de histórias repetidas

Esforçando-se em mudar

Mas nada mexe,

retumba e nada se ouve

É um senhor que conta, desconta e reconta

Declama poemas que já perderam o sentido

Rebuscamento de línguas mortas

Que ele próprio dizimou

O tempo é ele mesmo ao mesmo tempo que foi, não é porque já passou e ainda vai ser

O tempo morreu a esmo no deserto

É apenas um mito obsoleto redescoberto

Quadro pintado nas paredes da antiga pós modernidade

Das pinturas rupestres às inteligências artificiais

 

Tudo que se vive em busca de tempo

É delírio, insensatez, martírio

Loucura de seres que desconhecem inseguros suas existências

E penduram ponteiros na parede

Na vã intenção de perdurar.

 

O tempo nasceu, cresceu, se reproduziu em calendários culturais, religiosos, políticos, ideológicos

E morreu nos fogos de artifício do réveillon.


Texto: Pedro Garrido
Edição e Ilustração: Jornal e Livraria Rio de Flores

Pedro Garrido é pedagogo, poeta, escritor e palestrante de São Gonçalo - RJ. Participou de diversas antologias e eventos literários nacionais e internacionais, além de ser membro de três academias literárias e de coletivos culturais. Em janeiro de 2021, lançou seu primeiro livro de poemas, "(Uni)Verso". Até agora, publicou quatro obras individuais: "(Uni)Verso" (2021), "duo" (2022), "Teshuvá" (2022) e "Pedrinho e o Cão Brabão" (2023). Também é o criador e produtor cultural do sarau (Uni)versos Livres, realizado mensalmente na Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres, em Itaboraí.

Direção Geral
Renato Galvão



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