Quando jovem gostava do carnaval.
Cores, músicas, o soar dos tambores, a marcação que pulsava como um grande
coração. As fantasias enfeitando de cor, luxo e alegria, as ruas colorindo com
suas coreografias ensaiadas exaustivamente.
Passados os anos vi e ouvi a mesma
ladainha. Aqueles homens e mulheres, que passavam sufoco o ano inteiro,
trabalhadores comuns, que durante o ano faziam das "tripas coração",
investindo o que não tinham no carnaval.
Um ano de vida cheia de tropeços, da
falta de tudo, com a fome corroendo por dentro, mas por fora o sorriso
estampado, fazendo gestos, marcando os passos, dando o que podiam e mais um
pouco, para fazer bonito diante do público pagante. Ali deixava de ser um
qualquer na comunidade, era um artista mostrando na força de seus pés o
gigantismo do samba, a grande apoteose da nação de sua escola, de seu coração
representando sua comunidade.
O que importava nesse momento em que
passava diante dos olhos que acompanhavam a apresentação, só o espetáculo, a
hora determinada da apresentação do enredo, cantado a plenos pulmões,
influenciando o público a cantar junto. Nada mais importava, nem a dor, o
calor, o cansaço. A noite de espera, o novo dia começando e o samba desfilando.
Mesmo a barriga roncando em outro ritmo, com a falta de alimento faria o folião
desistir
Mas, hoje em dia vejo que a glamourosa
festa, não é mais a mesma coisa. Perdeu-se no caminho, o samba-enredo não tem
mais aquele brilho de outrora. Desconheço algum que tenha marcado o tempo, e
sido cantarolado depois de ser ouvido na avenida. Passou e foi esquecido.
Os carnavais de antes, tinham bailes,
em que as músicas como Máscara Negra, era tocadas e cantadas até pelos que não
sabiam cantar, mas conheciam a letra. Marchinhas dos anos 30, 40, 50, 60
repetidamente faziam isso inquietos foliões pularem, em completa sintonia.
Mesmo quem não gostava de carnaval, cantarolava a música, chiclete mastigado
até os dias atuais.
Não menosprezo o Carnaval, agora me
considero órfã, essa alegria imposta com barulho e cores não mais me contagia.
Vejo com outros olhos, a tristeza de uma apoteose que não inspira diante da
realidade dos dias atuais.
O brilho foi nublado pela falta de
respeito, comercialização de nudez, disputa de qual o artista de renome vai
abrilhantar, a escola, o baile antes televisionados, os grandes concursos de
fantasias mirabolantes, tudo ficou no passado.
O Carnaval está moribundo, andando em
pernas de pau, respirando por aparelhos.
Os grandes temas de samba enredo estão esquecidos. Desfiles não atraem mais as massas, que antes disputavam por um espaço na grande arena. Hoje em dia os camarotes com emblemas de grandes marcas, mostram artistas e figuras não tão conhecidas por serem marcantes, senão ser pelo dinheiro que exibem. Misturando álcool e outras coisas, o Carnaval perdeu a mão, os pés e a cabeça. Nada mais é como outros tempos em que o samba genuíno fazia o coração pular no peito, e uma certa ingenuidade, todos vestidos à caráter, saiam as ruas pedindo: Oh! abre alas que eu quero passar.
Ivete Rosa de Souza (Rosa dos Ventos), poetisa, cronista e contadora de histórias. Nascida em Santo André. SP, atualmente participando de antologias físicas e ebooks, contabilizando mais de 80 participações. Publicou dois livros de poesias, descobriu-se contista no gênero de Suspense e terror e outros de fantasia, onde houver história sempre haverá alguém para contar.
Obras da Autora
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| Direção Geral Renato Galvão |



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