Em
uma ilha remota, vivia uma boa senhora. Não se sabe de onde veio, dizia que o
destino a mandou. Somente que ali felizmente aportou. Era uma curandeira,
benzia os inocentes, prevendo o que cada um que ali nascia, fosse um doutor ou
um grande pescador.
O
fato era que acontecia, o que a boa senhora falou com uma profecia, tudo ali
prosperava.
O
tempo foi passando calmamente, ela cuidando dos vivos e dos mortos, pois também
era carpideira, chorava sinceramente por aqueles que partia, não se negava a
ajudar.
De
longe viam a casa, com a chaminé fumegando.
Vinham
buscar a mulher, a esposa de alguém ia parir. Ela largava tudo apressada,
servia de parteira, passadeira, cozinheira, até mesmo costureira, para poder
sobreviver, nunca pedia nada.
Assim
ficou conhecida, com a alcunha merecida de benzedeira, carpideira, doceira e
parteira. A que chorava pelos mortos, dizendo que suas almas só encontravam bom
lugar, por serem amados, cuidados e enterrados, por aqueles que se importavam.
Mas
em uma grande tempestade, o vento, com toda sua majestade até o mar, rodopiou.
Quem
pode, pegou o barco, do outro lado da ilha, conseguindo fugir. Muitos sequer
alcançaram, se afogaram, sem ter aonde ir.
Mais
nenhum deles lembrou, da velha senhora, que ficou na casinha de pedra “Dei
tanto de mim a esse povo, por engano ou desaforo, me deixaram aqui para
enfrentar o vento, sem poder me defender”.
E o
vento ouviu o lamento, num instante o tormento daquela velhinha aliviou, a
levantou de mansinho, com suavidade a carregou, entregou-a ao mar, sussurrando:
eu não tirei sua vida, a pobre não ficou ferida, a ingratidão a matou.
O
mar abraçou a senhora, deitando-a no oceano profundo onde tritões, sereias, e
criaturas das águas, a pequena mulher sepultou.
Choraram,
sinceramente, por aquela que sorriu pelos inocentes.
Encaminhou
almas perdidas, no final da vida, por eles chorou.
O
mar, então enfurecido, fez ao vento um pedido que esparramasse as ondas,
batendo com forças nas pedras, destruindo toda a ilha. Nenhuma construção
sobreviveu, somente a casinha da velha, nem sequer uma telha se moveu.
Os
navegantes que ali passam, veem uma pequena mulher na frente de uma casa
inteira, sobre uma rocha no meio das águas, coberta de mariscos, algas e
peixes, que pulam de lá para cá.
Mais
ninguém ali aporta, pois, o mar, um abismo criou.
Não
entra nenhum humano, naquele lugar sagrado, onde a deusa habitou.
Quem
ousa chegar mais perto, comete o pecado cobrado, no fundo das águas do mar.
A
carpideira, agora, não chora, recebe a luz das estrelas, escuta o sussurro do
mar, a lua lhe beija a fronte. Quando sua alma vai à terra, ver ao largo algum
barco passar.
Feliz
é a alma que encanta, até o mar se levanta, para reverenciar, O amor que é
fonte divina, das almas que entendem, que a vida é preciosa.
No
mar do destino, o importante é ter gratidão ao navegar.
Edição e Ilustração: Jornal Rio de Flores
Nascida em Santo André. SP, atualmente participando de antologias físicas e ebooks, contabilizando mais de 80 participações.
Publicou dois livros de poesias, descobriu-se contista no gênero de Suspense e terror e outros de fantasia, onde houver história sempre haverá alguém para contar.
Nota do Editor: Carpideira é o nome dado a uma mulher que é contratada para chorar e lamentar a morte de um defunto em velórios. A profissão era comum em cidades do interior do Brasil. A tradição de contratar carpideiras surgiu quando as famílias não tinham membros próximos para chorar no funeral. Os homens eram considerados inadequados para esse papel, pois deveriam ser fortes e líderes da família. A palavra carpideira também pode ser usada de forma figurada para se referir a uma mulher que chora ou se queixa com frequência.
![]() |
| Direção Geral Renato Galvão |


Nenhum comentário:
Postar um comentário