Não faz muito tempo que eu queria
falar da minha gratidão a um grande amigo. Oportunidade houve, sim, mas..., por
questões supervenientes à minha vontade, fui deixando o tempo passar. Trata-se
de um ser humano deveras importante na minha velhice. Refiro-me à “velhice”
porque só o conheci no ano de 2007, quando eu já havia completado 60 anos. Na
ocasião tive a felicidade de ser selecionado para participar do Primeiro Salão
Internacional de Artes Plásticas de São João da Madeira, em Portugal. Não vem
ao caso comentar sobre os detalhes daquele evento promovido pelo Rotary Club da
cidade; tampouco compensa falar sobre os desafios que fui obrigado a enfrentar,
para poder fazer aquela viagem e usufruir da premiação.
Em 2009, nova oportunidade! Compareci
ao mesmo salão, já designado Bienal Internacional, na qualidade de Artista
Convidado. Conheci dezenas de artistas portugueses e espanhóis de realce e
reconhecimento artístico internacional. O tempo foi passando e, nesses
dezessete anos, alguns já “partiram”! Ficaram aqueles que se mantêm em amistoso
contato; alguns são meus fraternos correspondentes e, até hoje, sempre dão
notícias! Outros sumiram, nunca mais os
encontrei, por desígnios celestinos.
Nas vezes que participei de
eventos, em Portugal, aproveitei para viajar além; conheci um pouco da Europa,
sempre tendo como porta de entrada Lisboa. Portugal, para mim, era imaginado
como outra coisa, muito diferente! Bem menos atraente do que aquele fenomenal
País que encontrei e me fascinou. As imagens falsas que me haviam passado no
Brasil, em nada correspondiam à realidade local, às pessoas e ao ambiente que
lá encontrei. Mas isso não vem ao caso comentar neste instante. Basta-me dizer
que sou atualmente deslumbrado e apaixonado pela Santa Terrinha de meus
antepassados.
Como se costuma dizer, a primeira
impressão (embora não seja imutável) é a que fica! Se for negativa, danou-se
todo o resto; e se for positiva, aconteça o que acontecer, as coisas serão
sempre belas. Enquanto durem! Talvez seja esse o primeiro grande elogio que
posso fazer ao meu grande e querido amigo.
Depois de dezesseis exaustivas
horas de voo com conexão, entre Brasília, Lisboa e Porto, lá estava meu estimado
amigo a me aguardar, pacientemente, no saguão do Aeroporto Sá Carneiro. Exceto
por contatos formais, via e.mail, até aquele momento nós não nos conhecíamos pelos
“focinhos”.

Aeroporto Sá Carneiro – 2007 – Primeira Viagem – Foto Rocha Maia
Complicado dizer o que se passou, porém senti, logo no primeiro instante, que estava a lidar com um ser humano de muito boa energia, alma pura e sinceridade nos propósitos. Olhar firme, aperto de mão seguro, abraço caloroso e palavras de boas-vindas francas. Pela primeira vez, após deixar o Brasil, pude sentir firmeza no solo que pisava, após já ter passado pelo serviço de aduana e migração português. Confesso, eu estava inseguro sobre os próximos passos que daria em solo Lusitano. Parece pouco, mas vá lá, qualquer um, experimentar aventura como aquela que, pela primeira vez, estava eu a passar! Certamente, irá sentir algum desconforto! Foi naquele instante que teve início grande amizade! Amizade que se estendeu à sua própria família, sua esposa, suas filhas e seus queridos pais, os saudosos Nelito e Quininha.

Eu e Nelito/Quininha – 2007 – I Salão Internacional – São João da Madeira - Portugal
Revelou-se com um grande talento criativo, como poucos outros artistas têm! Sem qualquer tipo de vaidade, ele é merecedor dos maiores elogios, como um fantástico artista plástico, que também é um empresário responsável e companheiro exemplar no Rotary Club SJM. Perdi as contas das vezes que fui a Portugal e pude receber as gentilezas e o afeto dos seus familiares e seus amigos, sempre de uma forma desinteressada, sem estarem a esperar reciprocidade de minha parte. Sinto-me eternamente em dívida de gratidão, por não conseguir retribuir as incontáveis vezes que me foi ofertado o típico e genuíno carinho de uma casa portuguesa, com certeza!
Não há uma explicação fácil para
definir a nossa amizade. Atualmente, ele e sua esposa são meus compadres,
porque dei ao meu último filho, nascido em 2014, o nome Luiz Miguel! Foi uma
pequena forma que encontrei de retribuir minha bem-querença. Somos nascidos no
primeiro dia de novembro, o que nos confere uma oportunidade adicional para
justificar a amizade, mas certamente isso é pouco. Deve haver alguma razão mais
importante. As afinidades atuais, pelos gostos da vida, também não são assim
tão claras, afinal ele é um aficionado pelas motas antigas e eu nunca sequer
montei numa dessas de duas rodas.
Quem sabe? Talvez possam existir
razões mais antigas, daquelas que remontam vidas passadas. Ele, desde muito
tempo, me chama de Tio Luiz, e de algum tempo para cá, ele me brinda
chamando-me por Pai-Tio! Além de artistas plásticos, embora de estilos
totalmente diferentes, falamos o mesmo idioma, mas com sotaques diferentes; ele
é magrinho e eu barrigudo; temos quase vinte anos de diferenças de idade,
embora atualmente ambos estejamos com as cãs bastante brancas, ele ainda
preserva a energia da juventude. Sim, sim! Lembrei de uma afinidade que temos!
Sempre que nos falamos, no final, já estamos em lágrimas; mas não deve ser
isso, posto que, todos nós, os de sangue lusitano, homens emotivos, vertem
lágrimas quando se emocionam! Felizmente, não são elas do tipo “lágrimas de
crocodilo”!
Então, segue a viagem! E foram
muitas que fiz à Europa, sempre por conta de atividades artísticas, nem sempre
realizadas em Portugal, mas em nenhuma delas deixei de dar uma passadinha para
rever os amigos. Depois de 2014, nunca mais pude retornar a viajar ao exterior.
Mas a nossa amizade parece que se fortalece a cada ano que passa.
Desde então, na minha casa,
diariamente está hasteada a Bandeira do Brasil e a seu lado a de Portugal. Alguns
visitantes pensam que tenho dupla nacionalidade, mas é na verdade apenas uma
forma de reverenciar a memória de uma grande amizade, que todos os anos renasce
ainda mais forte e verdadeira.
Atualmente, pela frequência como a palavra é usada nas mídias sociais, referir-se a alguém como sendo um amigo tornou-se banal. Esse não é o caso da pessoa a quem reverencio e homenageio. Minha eterna gratidão a ti, Jorge Miguel Pinho Almeida, o J.Miguelle! És como um filho-irmão-sobrinho-compadre-colega que as artes plásticas me permitiram ter, embora a distância seja um implacável e permanente desafio à nossa perseverante amizade!
Bem haja! Até breve!
Deus os abençoe!
Luiz Roberto da Rocha
Maia. Nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e,
atualmente, em Rio das Ostras. Em 2023, completa mais de cinquenta anos de
atividade cultural. Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em
Portugal, é Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais - Brasília /DF.
Membro da Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro; e da
Academia de Letras e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ. Participou de mais de
duzentos eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal, França e Bulgária. Recebeu
mais de setenta premiações e destaques em salões de artes plásticas. Citado em
catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil e no exterior;
bem como nos acervos do Museu Naïf de São José do Rio Preto/SP; MIAN/Rio/RJ;
SESC/SP, na coleção do Château des Réaux; e do Museu Internacional de Arte Naïf
de Vicq, na França. Seus quadros estão presentes também em pinacotecas de
diversas entidades e coleções de aficionados por arte naïf no Brasil, Cuba,
França, Itália, Espanha, Chile, Japão, Bolívia e Portugal. Por três vezes foi
selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo recebido o prêmio aquisição
2006, em Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o catálogo “Ingenuidade
Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro “O Diário de Lili
Beth”, pela editora Viseu – 2021; e colaborou com a Coluna Arte Animal, da
revista digital Animal Business Brasil, escrevendo artigos versando sobre a
presença de animais como tema nas belas artes.
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| Edição e Direção Geral Renato Galvão |




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