segunda-feira, 24 de junho de 2024

 


Depois de uma semana inteira brigando, de forma ferrenha, contra uma coisa que deu no teclado e no mouse, finalmente, estou pacificado! Chamei de coisa porque eu não sabia qual era o problema, como inclusive continuo a não saber identificar qual era a tal coisa. Felizmente, meus sentimentos de ódio ao computador, estão resolvidos. Bastou-me usar a inteligência emocional contra a inteligência digital! Parei de brigar contra a tal coisa e a solução brotou naturalmente. Sabe o que era a tal coisa? Eu também fiquei sem saber!

Uma coisa eu aprendi, com essa história que quero lhes contar, sobre a minha briga, com sentimento de raiva, contra o equipamento periférico daquela coisa cibernética chamada simplesmente de PC. Era algo que estava me deixando com “puta-dor-de-cabeça”. Até parecia coisa feita, tramada pelo coiso, em benefício de alguma coisa e coisa e tal. Vou explicar aos poucos. 

Quadro: “Praia das coisas, e coisa e tal!”. Por Rocha Maia - 2006

Foi assim que começou! Antes de deitar-me, encontrei no face-book, uma publicação que falava sobre as “mil-e-uma-utilidades” da palavra COISA! Autor desconhecido! Fiquei interessado no assunto e, com grande atenção, observei que, até mesmo os grandes, afamados escritores já fizeram uso dessa espécie de Bombril idiomático, como no caso de Fernando Pessoa, que dizia: “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”!

De noite, já deitado, tentando dormir, coloquei-me a meditar!  Do nada, surgiu na minha mente uma espécie de parlenda. Sabe como é? Um tipo de trava-língua bem infantil, daquele tipo que não se consegue parar; que leva a pessoa a ficar cansada de tanto repetir a mesma música, mesma palavra etc. Tipo assim: “O doce perguntou ao doce, qual era o doce mais doce que o doce. O doce disse ao doce que, o doce mais doce que o doce, era o doce de batata doce, bem doce!”

No momento seguinte, antes que eu pudesse cair no sono, aquilo que, até então, era só o doce mais doce, virou uma coisa repetitiva! Assim: “a coisa perguntou a coisa, qual que era a coisa mais coisa do que uma coisa? E a coisa respondeu para a coisa que, a coisa mais coisa do que era uma coisa, só podia ser outra coisa, mais coisa do que uma coisa, bem cheia de coisa e tal!”

Foi então que a brincadeira tomou fôlego! Foi virando uma coisa em ação, “coisação-coisada”, criando mentalmente variações sobre a palavra coisa, a tal ponto que a coisa já parecia ser coisa do coiso! Como dizia minha velha avó: - “Desconjuro-cruz-credo, livra-me desse Coiso!”

Madrugada, já coisado no sono, lá fora o sol querendo coisar, pelas frestas da janela, mostrando que já era hora de coisar da cama, aconteceu uma coisa! Olha só que coisa! Mas que coisa aflitiva é essa coisa? Eu me levantei várias vezes, tentando me livrar da coisa em ação, mas aquele trem era uma coisa incessante! Só podia ser obra do coiso maligno, querendo me perturbar, ele resolveu me desafiar com aquela coisa repetida. “A coisa perguntou, à coisinha, qual era a coisa mais coisada que a coisa”, e coisa e tal! Sem dormir nada, com cara de coisado, resolvi que não iria mais tentar coisar a cabeça no travesseiro. Levantei-me, coisa e tal; e fui tomar um gole daquela coisa preta quentinha. Afffff! Café!

Enquanto eu sorvia a coisinha quente na cozinha, com aquele aroma franco e gostoso, alguma coisa me fez retornar à curiosidade daquele trava-língua maluco, capaz de me tirar o sono. Que poder seria aquele daquela coisa? Como, tão simples palavra, poderia ser capaz de me aprisionar, mentalmente, ao ponto de impedir-me de dormir tranquilamente. Cheguei a orar, pedindo que o santo das coisas perdidas, livrasse-me daquela coisa. Em dado momento, acreditei estar delirando ou entrando num estado alucinatório de auto hipnose, como Émille Coué apregoava. Dizia ele que “Só se pode pensar em uma coisa de cada vez, isto é, duas ideias podem se justapor, mas não se podem sobrepor em nosso espírito.” E o velho pensador completava: “Se a coisa é possível, devemo-la considerar sempre fácil de fazer. Neste estado de espírito, gastaremos justamente a força necessária. Mas se considerarmos a coisa difícil, gastaremos dez ou vinte vezes mais força do que seria necessário; em suma, desperdiçamo-la.”

Foi assim que me debrucei sobre conjeturas daquela pequena palavra encantada: coisa! Lembrei da ocasião que, durante palestra proferida por uma Professora, Doutorada em Psicologia, pude compreender a importante definição a respeito da minha síndrome de pânico, quando ela definiu a forma como seus pacientes descreviam o que sentiam, quando o gatilho patológico disparava aquele pavor repentino, sem fundamento, em determinados momentos. Dizia a palestrante que, os pacientes, faziam referência ao surgimento de “uma coisa” insuportável!

Saber que meu pânico, na cadeira do dentista, nada mais era do que “uma coisa”, foi suficiente para pacificar a repetição noturna das parlendas desagradáveis. Foi quando, então, eu escutei minha mulher me cochichar assim: - “Agora chega de falar dessas coisas, mozão!”, e eu respondi – “Bem lembrado, mozeca! Vamos coisar um pouquinho, bem gostozinho?”

Doravante, quando me sobressalta a mente algo desse tipo, apelo para o método: “Autosuggestion consciente. Répétez des phrases positives plusieurs fois par jour : Convainquez-vous que chaque jour, à tous points de vue, les choses s'améliorent de plus en plus. » ! (« Auto-sugestão consciente. Repita frases positivas várias vezes ao dia: Convença-se de que a cada dia, em todos os sentidos, as coisas estão cada vez melhores.”)

Texto e Tela: Rocha Maia
Ilustrações: Jornal Rio de Flores

Luiz Roberto da Rocha Maia. Nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente, em Rio das Ostras. Em 2023, completa mais de cinquenta anos de atividade cultural.

Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em Portugal, é Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais - Brasília /DF. Membro da Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro; e da Academia de Letras e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ. Participou de mais de duzentos eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal, França e Bulgária. Recebeu mais de setenta premiações e destaques em salões de artes plásticas.

Citado em catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil e no exterior; bem como nos acervos do Museu Naïf de São José do Rio Preto/SP; MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do Château des Réaux; e do Museu Internacional de Arte Naïf de Vicq, na França. Seus quadros estão presentes também em pinacotecas de diversas entidades e coleções de aficionados por arte naïf no Brasil, Cuba, França, Itália, Espanha, Chile, Japão, Bolívia e Portugal.

Por três vezes foi selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo recebido o prêmio aquisição 2006, em Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o catálogo “Ingenuidade Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro “O Diário de Lili Beth”, pela editora Videu – 2021; e colaborou com a Coluna Arte Animal, da revista digital Animal Business Brasil, escrevendo artigos versando sobre a presença de animais como tema nas belas artes.

 

Edição e Direção Geral
Renato Galvão

2 comentários:

  1. Parabéns muito bacana a matéria 👏👏👏💕💙

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigado pela atenção de sua mensagem e agradeço também pela oportunidade de participar mais uma vez desse jornal digital.

      Excluir