Hoje
eu acordei com a cabeça nas nuvens, fazendo as coisas sem propósito algum.
Então lembrei-me das conversas entre minha mãe e minha avó, me bateu uma
vontade enorme de usar todas as frases, que sempre ouvi.
Para
quem visse ou ouvisse de fora, com certeza, iria viajar na maionese, pois duas
nordestinas juntas, seria no mínimo cômica a situação.
— Tu viste, fulana, anda enrabichada por
fulano, não tem cabeça, depois daquele fuleiro do Zé, ela está trocando seis
por meia dúzia.
—
É mãezinha, essas moças de hoje em dia, são descabeçadas, não sabem se guardar.
São todas esquecidas, não sabe viver sem um homem.
—
Chega de conversa fiada, tenho muito o que fazer, bora pôr a mão na massa, que
daqui a pouco o povo chega para comer.
A conversa sem pé, sem cabeça parava no
caminho, voltavam aos afazeres. Vez ou outra, minha avó me olhava, no canto da
cozinha, de orelhas em pé, ela não gostava de criança atrapalhando:
—
Se não for para ajudar, que não venha atrapalhar. Mas no final, ela sorria
sabia que daquelas conversas desconexas, com certeza, renderia uma história.
Então sorrindo ela dizia:
—
Passa menina, vai procurar o que fazer.
Ao
longo de nossas vidas, memórias são um vício, vez ou outra eu me pego ouvindo
minha avó. Por muitas vezes eu chorava, com medo de ser reprovada na escola,
não que fosse má aluna, até me aplicava, gostava de estudar. Mas sempre fui,
cabeça oca, ou melhor, distraída.
Bastava
ouvir um passarinho, ou uma voz ao longe, pronto tudo desaparecia, e eu só me
concentrava, na melodia do pássaro, ou na voz cantava ao longe.
— Essa menina vive no mundo da lua, dizia
minha mãe. Não sei se eu, viajava tão longe, mas com certeza devo ter ido até
lá, em algum momento.
Quando
andava encafifada, com algum problema de matemática, chegava a ter dores de
cabeça, nunca gostei dessa matéria, então chorava. O choro aliviava meu
coração, me levava a viajar, para um mundo de poesia. Depois de escrever sei lá
quantas folhas, conseguia voltar e solucionar o desaforado. Para esses momentos,
a frase predileta de minha mãe era: “Fazer tempestade em copo d’água”. A
tempestade poderia vir, mas eu conseguia resolver o pepino.
Engraçado
que até hoje, me pego usando as expressões, me desafiam a escrever, mesmo que
faltem as palavras, os sentimentos se misturam, para lá e para cá, bem ou mal alguma
coisa aparece.
Ultimamente,
tenho estado em alerta, com medo de “meter os pés pelas mãos”. Muitas palavras
que se abrigam em meus pensamentos, me causam angústia e pavor. Vejo tantas
coisas ruins, acontecendo no mundo, que introspectivamente, tento driblar essa
fúria que anda me vigiando, o jeito é: “Fazer vista grossa”, deixar passar a
tristeza da impotência.
O
bem e o mal, caminham lado a lado, podemos escolher e caminhar do lado certo.
Decidi que falar do que gosto, expressar meus sentimentos, olhar os outros com
gentileza e gratidão, ameniza esse terror que me assombra. O jeito é: “Dar a
volta por cima”, não me deixar levar pela correnteza e sair do possível, para
atingir o necessário e quem sabe o impossível. No fim das contas: “Quem não
arrisca não petisca”.
Ilustração: Jornal Rio de Flores


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