sábado, 9 de março de 2024


Quem foram os Essênios?

    Grupo de judeus ascetas que viveram na região de Qumran, mais precisamente na Cisjordânia próximo ao Mar Morto. Era uma comunidade que valorizava, exclusivamente, o desenvolvimento espiritual, renunciando aos prazeres carnais e necessidades primárias. Suas vidas eram dedicadas ao cultivo de cereais, vegetais e, principalmente, aos estudos das escrituras. Mas, também, dedicavam-se a escrever seus próprios documentos de acordo com sua visão do mundo da época e futuro.

    Tinham por norma banhar-se duas vezes ao dia em água fria, coincidindo sempre antes das refeições (duas ao dia), como ato de purificação espiritual. A vida dos Essênios era basicamente dividida em trabalhos nas plantações, socorro a enfermos, caridade em geral e orações.

    Mencionados por vários historiadores antigos, principalmente Filon, Plínio, Josefo, Solino, Porfírio, Eusébio e Epifânio, séculos se passaram sem uma prova concreta sobre “Os Filhos da Luz”, como assim também eram denominados. Entretanto, por volta de 1947, beduínos que pastoreavam suas cabras notaram que uma delas havia se desgarrado. Estes engendraram, então, a procura pelo animal perdido. Subiram os morros que adornavam a região e, casualmente, encontraram uma caverna. Adentraram na mesma a procura da cabra perdida e se depararam com vários vasos de cerâmica contendo rolos de papiros. O grupo recolheu os rolos e em seguida venderam os mesmos no comércio local.

    Passado um certo tempo, dois lotes dos referidos papiros chegaram às mãos de Athanasius Samuel, bispo de um mosteiro ortodoxo em Jerusalém, e em seguida às mãos de Eleazar Sukenik da Universidade Hebraica. Extremamente curiosos a respeito de escritas antigas, ambos provaram a autenticidade dos textos contidos nos papiros encontrados. Sem contestação referente à origem dos documentos. Em 1954, autoridades israelenses, adquiriram dos historiadores citados os referidos papiros.

    A comunidade arqueológica partiu para o local e assim descobriram cerca de dez cavernas e algumas delas, contendo mais vasos de cerâmica cheios de papiros envoltos em coro. Porém, a região vivia em constante conflito, impossibilitando assim a continuidade das escavações e o trabalho de arqueólogos. Os documentos encontrados foram entregues a vários museus e por lá ficaram guardados por décadas. As pesquisas arqueológicas na região só foram reativadas a partir do ano de 1991. Embora não causasse surpresa aos pesquisadores, mais documentos foram encontrados. Inclusive, no ano de 2021, anunciou-se a descoberta de fragmentos dos manuscritos numa das mais de 12 cavernas de Qumran.

    Pesquisadores compararam os textos dos manuscritos de Qumran com outros documentos históricos e chegaram à conclusão de que se tratava de documentos escritos e guardados nas cavernas pelos Essênios. Tais documentos constituíam-se em cópias do antigo testamento, contendo calendários e, principalmente, textos bíblicos. Em 2001, obteve-se uma tradução mais apurada de tais textos, tornando-os os documentos mais polêmicos encontrados pela humanidade.
 
Jesus e os Essênios.

    Há uma grande incógnita referente à vida de Jesus Cristo, compreendida entre seus 12 anos até 30 anos. Um verdadeiro apagão histórico, sem qualquer registro, aconteceu neste período da vida do Mestre na Terra. Pesquisadores comprovaram que os Essênios recebiam crianças de famílias carentes ou que não tinham condições de alimentá-las e/ou educá-las, pois eram épocas difíceis. Essa prática era comum aos “Filhos da Luz”. Mas, este caso não se pode relacionar a Jesus, pois sua família tinha posses e certamente não faltavam alimentos à mesa e muito menos educação patriarcal. Entretanto, os Essênios tinham a função de educar espiritualmente seus iniciados de acordo com sua doutrina, tornando-os homens ou mulheres pacíficos e adoradores do Deus Criador. Aparentemente, Jesus e alguns membros de sua família, juntamente com João Batista, teriam convivido por um certo tempo com os Essênios, onde trocaram informações, conhecimentos e revelações que não foram incluídas ou descartadas da Bíblia.

    A base dos Essênios era as leis de Moisés, o pai do Torah, ou seja, o livro sagrado do Judaísmo. São várias as polêmicas desencadeadas consoante a tradução e compreensão dos textos encontrados em Qumran de autoria dos Essênios. Porém, a mais polêmica é que Jesus Cristo teria dito que a humanidade não deveria procurar a lei nas escrituras, pois a lei é vida enquanto o escrito estaria morto. Ainda, segundo os textos Essênios, Jesus teria dito que a integração com o Divino está na natureza e em tudo que é vivo, principalmente em nós mesmos.

    Pois bem, os Essênios não se apegavam a qualquer religião e acusavam as falas religiosas ou doutrinas de falsas afirmações, ou melhor, manipuladas pelos grandes sacerdotes e outros líderes religiosos. Inteligentes e astutos, os Essênios estudavam todas as religiões e assimilavam o que era o melhor de cada uma para suas vidas. Nesta lista de estudos, não escapavam nem mesmo as leis de Moisés, porém, com interpretações próprias dos “Filhos da Luz”, pois assim, se diferenciavam das outras linhagens judaicas, como, por exemplo, dos saduceus e dos fariseus. Esta comunidade era muito criticada na época por se isolar do resto da humanidade e não comungarem com dogmas religiosos. À medida que os inúmeros papiros foram sendo traduzidos, polêmicas sobre polêmicas surgiam nas mesas dos estudiosos.

    A tradução de tais documentos revelou que Jesus Cristo alertou a humanidade sobre o que os homens escreviam e deixa claro nos textos que as religiões são amarras que impedem a vida com liberdade espiritual. Os textos, claramente, falam da repulsa de Jesus referente à atitude de exploração do povo praticada por alguns templos. Corroborando este relato, registrados nos manuscritos de Qumran pelos Essênios, tempos depois, Jesus expulsa do templo os comerciantes de animais, comparados por Jesus como covil de ladrões, que seriam destinados aos sacrifícios supostamente a Deus em Jerusalém. Ainda nestes documentos, relata-se que Jesus achava desnecessário o chamado sábado judaico, onde não se podia nem mesmo lidar com as necessidades básicas e fisiológicas, declarando que o homem e suas necessidades estão acima de qualquer lei. Os documentos revelam ainda que Jesus era contra o uso das religiões como meio de enriquecimento pessoal. Assim como os Essênios, Jesus era contra a edificação de templos suntuosos ou luxuosos para, supostamente, promulgar a palavra de Deus, pois pregava que o templo maior de um ser é o seu próprio coração. Ainda, Jesus era contra os sacrifícios de animais a Deus e textualmente pode ser lido nos manuscritos de Qumran que Jesus pregava que “... Chegará o dia em que os crentes em Deus deixarão de oferecer sacrifícios, apenas oferecerão o espírito e a verdade...”.

    Os Manuscritos de Qumran continuam em fase de tradução, porém não teremos a certeza de que serão divulgados à humanidade. Embora existam vários textos traduzidos espalhados pela internet, o importante é pesquisar e obter tais textos diretamente daqueles que traduzem e publicam os escritos dos Essênios em livros autorais. Muitas revelações ainda estão por vir.

    Jesus pagou caro pela tentativa de conscientizar seu povo ou a humanidade, pois logo após o episódio no Templo em Jerusalém, intensificou-se a perseguição ao “Rabi da Galileia” culminando em sua crucificação no Monte Gólgota (caveira).

    Quanto aos Essênios, por não comungarem com as religiões da época e não participarem de cultos religiosos em Jerusalém, foram perseguidos e dizimados por volta do ano 68 d.C. e, consequentemente, não mencionados na Bíblia, apesar da ligação direta com Jesus Cristo comprovada.
 
“... Eu sou o caminho, a verdade e a vida...”

Fontes:

Ilustração: Jornal Rio de Flores
Texto: Renato Galvão


  

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