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| Figura 01: Ilustração Jornal Rio de Flores |
Não sei bem dizer como é!
Fico esperando que me venham vozes, falando-me ao pé do ouvido, sussurrando algumas
coisas a serem escritas. É uma vontade que dá; e demora passar! Talvez seja
porque me falte, atualmente, o que dizer, sobre coisas mais sérias ou até mesmo
que sejam só “abobrinhas” da política nacional! Algumas vezes, aquelas vozes me
aparecem, já ao travesseiro, bem tarde da noite! Não me levanto para anotar,
apenas deixo-me embalar até pegar no sono. Quase sempre, no meio do roteiro das
histórias imaginadas, durmo de forma tranquila. No dia seguinte, tento me
lembrar das coisas sonhadas; e começo a alinhavar as ideias que me foram “cochichadas”!
Estranhas vozes!
Embora a saúde esteja boa,
aos setenta e sete anos, as coisas típicas da maturidade física me fazem
lembrar que, pernas e braços, não são mais tão vigorosos e ágeis. O nome da coisa
é feio: Sarcopenia! Na falta de coisa melhor ou pior, a solução é ir cuidando
do corpo e da mente como é possível! Tudo vai ficando muito mais lento! As
recomendações conhecidas são básicas: caminhe mais, porém sem pressa, tome
cuidado com pisos molhados e, nas ruas, olhe muito antes de decidir onde
atravessar. Não confie nunca no seu olhar de relance, ele não é mais tão
completo como antes! O lado direito do meu carro que o diga sobre isso, todo
arranhado! Então..., confira, duas ou três vezes, se realmente olhou aquilo que
você pensa ter visto. E tem muito mais! São centenas de advertências, avisos e
dicas voltadas a orientar os idosos, com dicas de melhores e mais seguras
formas de ação na “melhor-idade”! Decorar as recomendações não adianta, porém
tentar lembrar delas é bom exercício, visando prevenir o badalado Alzheimer.
Para esse, o melhor é redigir memórias, sempre que puder! Aprenda a usar o word
no computador; tudo fica mais fácil e confortável.
Mas, vamos então ao que
interessa! Escrever! Onde está o problema? Num mundo onde a velocidade
tornou-se fator preponderante, para tudo, parece que as pessoas não querem
perder tempo, ainda mais se for para ler longos textos. Talvez essas pessoas
estejam certas! Contudo, para atrair a preferência do brasileiro, imagens e
figurinhas podem ser usadas, para ajudar a ilustrar! Somos um povo de hábitos
orais e visuais. Ler para pensar parece que nos cansa! E por lermos pouco, estamos
perdendo a capacidade de refletir, de pensar, ter opinião própria e responder
escrevendo nossas considerações. Empobrecemos intelectualmente e abrimos espaço
para nulidades. Atualmente, pode até ser fácil escrever, pois qualquer coisa
serve; e com as modernas ferramentas de inteligência artificial, tudo fica
fácil! Não existem mais aquelas exigências de respeitar o vernáculo; atualmente,
o difícil é encontrar quem queira ler; ainda mais se os assuntos tratados
levarem as pessoas a entrar num mundo de valores clássicos, aqueles das
tradições, princípios e valores sociais e acadêmicos, atualmente, considerados
ultrapassados. Tudo está à mercê do movimento de vanguarda “revolucionária”,
que prega a desconstrução, pelo mero prazer de ser diferente.
Entendo perfeitamente
algumas dessas razões comportamentais, afinal as coisas podem até ser
ultrapassadas, fora de moda ou retrógradas. Entretanto, pergunto eu, como
renovar velhos padrões, se, para os nossos jovens, basta por um final nas
coisas antigas? E, o que é pior, não há quem queira procurar novas alternativas
de solução? Ninguém quer mais construir nada; dá muito trabalho e toma tempo!
Mais fácil abandonar padrões e destruir modelos; é mais fácil e rápido! Depois,
resta apenas esperar por alguma ação assistencialista de governos. Creio haver
na atualidade um vazio de pensamentos; algo maior do que uma simples paralisia
de paradigma; vivemos uma espécie de ausência de modelos. Vejo o mundo futuro, de forma duvidosa, e
novamente questiono assim: se a inversão de valores prevalece, impondo cada vez
mais nulidades intelectuais, coisas erradas, como sendo certas, de que maneira
elas, viradas de cabeça para baixo, vistas pelo avesso, poderão ser reverenciadas
como padrões corretos? Antigamente, ao falarmos disso, lembrávamos do grande
Rui Barbos, com seu discurso, ainda tão atual: “De tanto ver triunfar as
nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça.
De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”
Lembram? Hoje, veja você mesmo se estou mentindo? É só alguém falar das
aberrações chatas das ideologias “politicamente-corretas”, e logo outro alguém
lembrará de Renato Russo, nos versos da canção “Que país é esse?”. São versos
que se transformaram numa verdadeira indagação nacional! “Que país é esse? Nas
favelas, no senado. Sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a constituição. Mas
todos acreditam no futuro da nação.”
Tomar decisões açodadas, ser irreverente com a verdade, elaborar narrativas falaciosas, formar opiniões de maneira leviana, negando a obviedade dos fatos, tem sido um novo padrão aceito como lógica mental invertida, capaz de desconstruir modelos, mais do que comprovados, de verdades e comportamentos inteligentes dos seres humanos. Então, fica no ar uma pergunta: escrever por quê; e para quem? As pessoas parecem estar a desenvolver uma síndrome coletiva; virou moda o tal do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH.
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| Figura 02: “Gente lesa, gera + gente lesada!”, Tela de Rocha Maia |
As pessoas não querem ler e pensar! Assim, também não querem mais dialogar presencialmente! Se isso não é verdade, então me digam por que, todos nós precisamos de ter um aparelho celular? Não conheço o caso de existir um celular da família! É uma ferramenta particular e individual, da mais alta tecnologia, que sintetiza muitos outros tipos de equipamentos: lanterna; GPS; câmera fotográfica, câmera de vídeo, gravador de voz, TV, rádio e computador; além de servir, eventualmente, como telefone! E o que as pessoas fazem com seus celulares? Assistem vídeos banais, olham fotografias escandalosas e obscenas, cenários estapafúrdios, trocam mensagens curtas, vazias de seriedade, usando linguagens cifradas. Até com sexo virtual tem gente buscando “prazer”! Os usuários, de maneira geral, pretendem obter maior visualização e compartilhamento das suas publicações, nos sites mais badalados, o que para eles significa sucesso de comunicação. E eu novamente pergunto: sucesso de qual tipo? De comunicação? Narcisismo, vaidade explícita, beleza estereotipada nas selfies? De uma hora para outra, parece que ninguém mais se interessa por ler coisas sérias, tampouco com a finalidade de divertir-se, rir com um humor leve e inteligente? Nada disso! A preferência é outra, o tema tem de ser pornográfico, grosseiro, chulo! Se for escrachado e torpe, capaz de destruir pessoas e reputações, melhor ainda! Menos interesse ainda haverá na leitura, caso ela seja para pesquisar, estudar ou refletir sobre problemas, complexos e que estão a desafiar a própria sobrevivência humana.
Por outro lado, apesar
dos pesares, a vontade de escrever continua a me fustigar! E ela me bate de maneira
forte e contundente, embora eu perceba que são pancadas estimulantes. Aquela
tal voz, ao travesseiro, vem me falar baixinho: “Vamos lá! Ânimo, meu amigo!” E
repete, querendo entusiasmar-me, -“Começa a escrever qualquer coisa, que eu
irei lhe aconselhar o restante! Será fácil encerrar o texto!”. Dito e feito,
nem bem eu havia iniciado a escrever, paro a digitação, para atender uma
mensagem que chega pelo WhatsApp. Meu amigo Renato Galvão, Editor da Rio de
Flores, está a me perguntar:” Rocha, ... como está? Por qual razão demoras a
enviar novos artigos, para a Coluna Pinceis & Letras?”. Em meio à troca de
mensagens, lembro do profeta popular, José Datrino, que já dizia: “Gentileza +
gera gentileza!”. Como sempre, respondo ao Renato, e agradeço a força que constantemente
ele está a nos oferecer!
Retomo o meu texto!
Ponho-me a escrever. Rapidamente as ideias vão surgindo. Finalmente mato minha
vontade! Escrevo! Reconheço que não sou um intelectual nas artes escritas, um
escritor na melhor acepção da palavra! Entretanto, arrisco criticar! Lendo
alguns textos postados na Internet (haja paciência), me parece que a realidade
tem sido outra: “Gente lesa, gera + gente lesa!”
Luiz Roberto da Rocha Maia. Nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente, em Rio das
Ostras.
Em 2023, completa mais de cinquenta anos de atividade cultural.
Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em Portugal, é Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais -
Brasília /DF. Membro da Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro; e da Academia de Letras
e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ. Participou de mais de duzentos eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal,
França e Bulgária. Recebeu
mais de setenta premiações e destaques em salões de artes plásticas.
Citado em catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil e no exterior; bem como nos acervos do Museu
Naïf de São José do Rio Preto/SP; MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do Château des Réaux; e do Museu Internacional
de Arte Naïf de Vicq, na França. Seus quadros estão presentes também em pinacotecas de diversas entidades e
coleções de aficionados por arte naïf no Brasil, Cuba, França, Itália, Espanha, Chile, Japão, Bolívia e Portugal.
Por três vezes foi selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo recebido o prêmio aquisição 2006, em
Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o catálogo “Ingenuidade Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro
“O Diário de Lili Beth”, pela editora Videu – 2021; e colaborou com a Coluna Arte Animal, da revista digital Animal
Business Brasil, escrevendo artigos versando sobre a presença de animais como tema nas belas artes.
Renato Galvão



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