A
mãe abriu uma grande cômoda no quarto que seria de Luciana, e encontrou roupas
de camas, toalhas, e até roupas de menina. O advogado disse antes:
—
Senhor Antônio, o Senhor Manuel, seu tio, já havia feito o testamento em seu
nome, deixado claro que o senhor tivesse tudo de bom e do melhor, ele não teve
esposa ou filhos, o Senhor é sobrinho direto, ele era irmão de sua mãe.
Dona
Maria separou toalhas, deu a cada filho e mandou que se banhassem, que ela iria
preparar algo para comerem, já começara a anoitecer. Luciana foi primeiro, por
instruções da mãe. Tomou um banheiro rápido, trocou as roupas por uma camisola,
em seguida foi à cozinha, no caminho sentiu uma mão tocar de leve o seu braço,
correu como se tivesse rodas sob os pés.
— Que correria é essa menina? Ela apenas
sorriu, mas seu coração pulava feito um coelho, por dentro do peito.
Na
terceira noite naquela casa, o pai sentado no sofá estampado, ria das conversas
do rádio. A mãe desfiava linha, para bordar um dos lençóis da cama grande, os
meninos acharam carrinhos de madeira, e uma bola, brincavam aos pés dos pais.
Luciana com um livro nas mãos, estava no seu quarto lendo um conto de fadas.
Sentiu novamente uma mão tocar seu braço esquerdo. Desta vez ela não se mexeu,
com a voz estrangulada, quase um sussurro perguntou:
— Quem está aí? Por que fica me tocando? E
ouviu:
— Sou seu tio avó, menina. Ela tremeu,
continuou parada por algum tempo e tornou a perguntar:
— O que o meu tio avó quer dizer? A voz falou
calmamente:
— Diga a seu pai, para procurar um baú,
enterrado no galpão no quintal dos fundos. E sumiu. Nada de vulto, nada de voz.
Luciana saiu do quarto devagar, chegou na sala e falou:
—
O finado tio Manuel, mandou que meu pai procurasse um baú, no galpão do quintal,
disse que está enterrado lá. O pai, parou de rir:
—
Mulher. O que essa menina falou? A mãe repetiu. Ele nem perguntou, como ela
soube, saiu do sofá, correndo para o galpão.
Era
uma construção de madeira, ao contrário da casa muito bem construída de tijolos
aparentes. Tinha um candeeiro pendurado, em frente a porta grande, com
ferrolhos de ferro.
O
senhor Antônio era um homem crente em presságios e aparições, já tinha visto
coisas inexplicáveis, procurou por uma pá e levantou as tábuas do assoalho, viu
onde a terra estava diferente, mais fofa, e cavou, a uns cinquenta centímetros
abaixo, achou um grande caixote. Não conseguiu remover, encontrou cordas e uma
polia, amarrou em uma das traves do teto, era muito pesado, mas com a ajuda da
esposa e a filha, retirou o baú. Sobre a bancada do outro lado do galpão viu
algumas chaves, pegou e foi tentando uma a uma, por mais incrível que possa
aparecer, a última abriu o baú.
Ficou espantado como o tanto de ouro que havia
ali. O brilho refletia até o teto. Nesse momento o velho Senhor Manuel
apareceu. Marido, mulher e filhos ficaram estáticos:
—
Meu querido sobrinho, vivi só a minha vida inteira, fui um coronel da cana de
açúcar. Tudo o que eu fazia era acumular ouro, muitos perderam a vida, tentando
encontrar meu tesouro. Agora que estou no outro lado da vida, vejo que fui um
grande sovina. Um velho idiota, então meu filho, procure em meus pertences, no
seu quarto de dormir, uma lista dos homens que morreram a meu serviço, procure
a família de cada um, e dê uma barra de ouro. Fique tranquilo, que tem o
bastante, para dar e cuidar dos seus, só assim terei paz. E olhando para
Luciana disse:
—
Menina sua missão é ser a voz dos que já partiram, não tenha medo. E
desapareceu. Luciana morou naquela casa, por mais de oitenta anos, era
conhecida como: A curandeira, a mulher que mostrava, o caminho da luz aos que
já partiram.
Ilustração: Jornal Rio de Flores


Adoro o seu estilo de escrever. O tema é muito interessante e bastante instigante. Maravilhoso "causo" !
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