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| Imagem 1 - Ilustração Jornal Rio de Flores |
Quando menino, ouvia da professora, repedidas vezes, a frase que marcou sua vida, até chegar à maturidade. A mestra falava para a turma: - “Vocês ainda vão ver que eu tenho razão! O Brasil, até o Ano Dois Mil, será uma das maiores e mais ricas nações do mundo!”. E a mestra completava assim, “O Brasil e a China, como potências, vão surpreender o mundo!”
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| Imagem 2: Quadro “Blábláblá... para a posteridade!”. Por Rocha Maia |
A criançada não entendia nada! Tampouco as crianças se interessavam pelo assunto, afinal, o tal “Ano-Dois-Mil” parecia que nunca chegaria; estava muito longe! E os chineses? A molecada pensava que chinês era, apenas, aquele personagem da música de carnaval, um tal que andava na pontinha dos pés! “Lá vem o china ...! Comendo arroz uma vez por mês! Lig-Lig-Lig Lig-Lig-Lig-Lé...!” Sim! Isso mesmo!
O
tempo passou! Correu, “pra caramba”! O menino, já adulto, nem percebeu..., o Ano-Dois-Mil
passou; e o mundo não acabou! Ano de dois mil e vinte três! Agora, já velho e
cansado! O Brasil e o mundo haviam superado a pior fase da Pandemia mortal,
originada em Wuhan! A China, sim, ela está
bem colocada no ranking das nações desenvolvidas; porém, tristemente, o Brasil
não chegou lá! Continua vivendo de esperança! No máximo é uma potência na
produção de alimentos.
Foi
então que ele, agora velho, tentou entender a coisa! Qual a razão de ter a
saudosa mestra errado no prognóstico? Realmente, ela não fizera profecias,
porém, tinha sido sempre categórica na afirmação: “...ainda vão ver que eu
tenho razão!”
Teria
sido por problema de má interpretação ideológica ou teológica? Ou, então, algo relacionado
com tecnologia ou com escatologia? Por certo, não foi coisa relacionada com o
ter ou não ter olhos puxadinhos, nem redondinhos! Sem uma comprovação
científica razoável, tornava-se complicado justificar o porquê de a “tia” ter
errado aquela projeção de tão grande importância; erro capaz de inviabilizar, entre
nós, a teoria das megatendências, adotada na futurologia mundial dos Business.
Pensando
sobre muitas outras coisas, ele resolveu firmar propósito afirmando que o grande
diferencial, entre as duas nações, como problema fulcral, residia na seguinte
hipótese: o brasileiro não domina até os dias atuais, corretamente, o método de
fazer reunião. Sim, isso mesmo! Nós não sabemos nos reunir de forma competente,
visando discutir e buscar soluções para os problemas pessoais, muito menos os
comunitários, sejam eles grandes ou pequenos, do bairro ou nacionais. Em
família, em empresas, times de futebol, rodas de bar, governos, em toda e
qualquer situação, definitivamente, o brasileiro não consegue se reunir com
sucesso! Só para ilustrar, vejamos uma situação bastante comum, como as “incríveis”
reuniões de condomínio! Elas teriam tudo para dar certo e ter sucesso, mas...!
Já esteve em alguma dessas reuniões? Se você falou “sim”, somos capazes de
apostar que completou a resposta com uma frase, mais ou menos assim: “E Deus me
livre da próxima! Nunca mais participo de baixaria como aquela!” Grande parte
dessas assembleias, ditas reuniões, terminam na desunião do Condomínio e
severas inimizades, com decisões que são puro papo furado!
Outro
dia, fui convidado a participar de uma reunião simples, mas que poderia ter
grande importância para os artistas plásticos da região. Não vamos aos detalhes;
apenas vou relatar, para não cair no vício da fofoca! Não quero criticar as
pessoas, apenas constato o fato de que, os brasileiros, ainda não aprenderam a
fazer reuniões, capazes de honrar o nome: REUNIÃO! A palavra já diz tudo: UNIR
POSITIVAMENTE AQUILO QUE ESTÁ DISPERSO! Essa narrativa baseia-se em um estudo
de caso simplório, para justificar o fato ocorrido!
Alguém,
em nome de alguém, convidou alguém, para, quase em cima da hora, participar com
alguém de uma determinada reunião, num lugar qualquer, vagamente informado, com
pouquíssima estrutura, impróprio para acolher o enigmático público que,
supostamente, poderia comparecer. Na convocatória inicial, conforme o caso,
feita por escrito, quem assina não é provavelmente autoridade para o caso!
Porém, por educação, o que fazemos? Agradecendo a lembrança da inclusão do
nosso nome, e como simples convidados concordamos e respondemos que iremos comparecer,
como massa de manobra.
Suponha
ser com você? Você não se segura, e, em meio à troca de mensagens do grupo no
Whatzapp, comete uma forte “indelicadeza”, embora fiel ao espírito da franqueza,
e pergunta ao interlocutor, se poderia informar a pauta da tal reunião. Entenda
que uma pauta, previamente divulgada, é o mínimo necessário, objetivando
justificar o convite para a sua participação naquele bendito evento. Talvez, o
interlocutor lhe responda que, a pauta, já foi conversada com a “autoridade” que
organiza o evento; mas que, fique tranquilo, lhe será informada em breve!
Cá
entre nós! Esse estilo de preparar reunião, nem na China acontece! Segundo
estou “informado”, mesmo por lá, onde há um só partido político, quando alguma
decisão colegiada vai ser tomada, a pauta é absolutamente “comunicada”, com antecedência,
até mesmo para evitar que, justamente no meio do evento, um daqueles
“convidados” resolva discordar e fazer “dengo-chiar-pingo”, totalmente fora do
que foi previamente combinado! Outro dia, aconteceu isso, numa reunião do
Partido. Retiraram do plenário, “gentilmente”, um dos mais antigos membros!
Possivelmente, porque não estava mais “podendo-concordar” com propostas a serem
unanimemente aprovadas. Uma atitude fora do combinado é coisa que, para eles, é
de muito “mau-tio-zé” -gosto! Então, retiraram o ancião do plenário,
literalmente à força; parece que botaram ele pra tomar uns goles, de uma bebida
muito popular na China, atualmente chamada de drinque “xixi-gin-pinga”! O velho
saiu “espontaneamente” carregado do plenário!
Mas
vamos deixar os métodos chineses pra lá! Ao que nos parece, por lá eles têm uma
forma de reunião que funciona. Vamos cuidar da reunião à moda brasileira!
Assim,
aqui, se resolvermos persistir na solicitação de saber sobre a pauta, o que
acontece? Vamos esperar, e..., nada tempestivamente acontecerá! Finalmente,
faltando menos de vinte e quatro horas para a abertura do evento, vão decidir
informar vagamente. Então, mesmo assim, sem graça, agradeceremos! Por questão
de formação profissional ou de princípios, será bom agir tal como naquele caso
do sapateiro remendão, depois de ser admoestado, por um grande artista, a
manter-se dentro dos limites das críticas que lhe eram pertinentes fazer, isto
é, sobre a qualidade da pintura das sandálias. Não sobre cabelos ou
vestimentas! A vida nos ensina evitar chegar ao nível de incompetência,
arriscando ser, como aquele simples sapateiro remendão, um palpiteiro,
principalmente quando possa estar presente, no local, alguém com maior
competência e saber. Para evitar pagar mico, no dia marcado, poderemos ir à
reunião. Lá chegando, aguardaremos o momento certo, para justificar a situação;
e podermos nos retirar dos debates. Não há nenhuma razão para permanecer, uma
vez que em nada poderemos contribuir, para os melhores resultados do evento, uma
vez que, sem tempo para reflexões e estudos prévios sobre os assuntos pautados,
nós pouco teremos a dizer. Se resolver ficar na reunião, então prepare-se para uma
tempestade de ideias ou, como se diz em Minas Gerais, um enorme “toró-de-parpite”!
Afinal, de “achismos” o brasileiro já está bem mal na fita! Somos um país de
palhaços de perdidas ilusões, vivendo vã esperança de pisar em chão de estrelas!
“Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações”
Mas a lua furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
E tu pisavas nos astros distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar
E o violão”
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| Imagem 3: Quadro “Chão de Estrelas”. Prêmio Aquisição. 27º Salão Nacional da Primavera. SOARTE. 2019. Por Rocha Maia |
Eventos realizados de forma atabalhoada, pouco ou nada contribuem para o crescimento coletivo. Servem só para atender ao clientelismo político de grupos; e de indivíduos pouco comprometidos com as causas comunitárias. As más práticas e técnicas de reunião são desagregadoras e enfraquecem o espírito comunitário. Quando elas deixam de ser observadas, o resultado é o esfacelamento do tecido democrático e a perda da efetividade das decisões, principalmente nas fases posteriores de suas implementações práticas. São reuniões que não passam de esforços inúteis, perda de tempo, na busca de soluções, que deveriam ser eficazes e efetivas, para a solução definitiva de nossos problemas cotidianos, mas não passam de mero blábláblá!
Ilustração: Jornal Rio de Flores
Luiz Roberto da Rocha Maia. Nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente, em Rio das Ostras. Em 2023, completa mais de cinquenta anos de atividade cultural. Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em Portugal, é Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais - Brasília /DF. Membro da Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro; e da Academia de Letras e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ. Participou de mais de duzentos eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal, França e Bulgária. Recebeu mais de setenta premiações e destaques em salões de artes plásticas. Citado em catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil e no exterior; bem como nos acervos do Museu Naïf de São José do Rio Preto/SP; MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do Château des Réaux; e do Museu Internacional de Arte Naïf de Vicq, na França. Seus quadros estão presentes também em pinacotecas de diversas entidades e coleções de aficionados por arte naïf no Brasil, Cuba, França, Itália, Espanha, Chile, Japão, Bolívia e Portugal. Por três vezes foi selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo recebido o prêmio aquisição 2006, em Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o catálogo “Ingenuidade Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro “O Diário de Lili Beth”, pela editora Videu – 2021; e colaborou com a Coluna Arte Animal, da revista digital Animal Business Brasil, escrevendo artigos versando sobre a presença de animais como tema nas belas artes.
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| Edição e Direção Geral Renato Galvão |




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