Eu vejo
dor na pobreza, através dos olhos da ignorância, da falta de perspectiva. Mas
muitos de nós não enxergamos o outro. Aquele ser humano na rua, esfarrapado,
sujo, malcheiroso. Aquele que caminha, sem rumo, sem ter aonde ir. Que nos olha
com esperança, de ganhar algum trocado, ou até mesmo um pão amanhecido.
Tem
muitos por aqui, onde caminho indo ao mercado, ao salão, a farmácia. Já me
pediram: _ Moça compra um biscoito para eu comer. Eu comprei um pouco mais e
dei. O garoto agradeceu, e saiu correndo:
_ Obrigada
moça, vou levar para meus irmãos.
Uma
semana depois, ele estava pedindo na porta do mercado, foi empurrado por
alguém, e morreu atropelado.
De
quem é a culpa de ter tantos, pobres, tantos pedintes? A fome estampada nos
olhos, marcando os corpos magros e ressequidos, parecem nem ter mais músculos,
só pele e ossos.
Eu me
sinto impotente, diante da miséria, daqueles que Jesus, chama de irmãos. Nossos
irmãos. E passamos por eles com receio, como se a pobreza fosse um vírus,
altamente contagioso.
Vejo
a destruição humana, não da raça, mas do ser humano em si. Deixando de ter
sentimentos, incapazes de amar, de ter piedade, ou praticar generosidade.
Era época do Natal, a alguns anos, fui com meu
esposo em uma loja de autopeças, próxima a meu bairro. Enquanto ele fazia a
escolha do que levar, fiquei para na porta, observando um Senhor do outro lado
da rua, implorando por alguns trocados.
Ao
sair da loja, falei para meu esposo:
_ Que
triste, ver um ser humano nessa situação, humilhado pedindo um trocado.
Ele
me conhecia muito bem, virou e olhou o homem, que agora estava sentado no chão.
_ Quer
saber Preta, só ele me chamava assim, eu vou lá e pagar o que ele quiser.
E
foi, eu fiquei parada, olhando.
Meu
esposo, costumeiramente não dava esmolas, mas naquele dia eu achei até
engraçado.
Ele
chegou perto do velho, abaixou, e pareceu perguntar alguma coisa. Depois levou
a mão ao bolso, tirou uma nota, não vi o valor, e colocou na mão do homem. Que
no mesmo instante, juntou as mãos, como se estivesse em prece, levantou-se, com
meu esposo o apoiando. O Homem sorriu e fez menção de lhe dar um abraço, e eu
pensei: Agora complicou.
Mas
para minha surpresa, meu esposo aceitou, e sorrindo deu um tchau, voltando para
onde eu o aguardava.
Chegou
sorrindo: _ que pessoa boa é aquele homem, é uma pena estar nessa situação.
Eu
sorri de volta:_ você também, é um homem do bem. Quem diria, abriu a carteira?
continuei rindo, enquanto caminhávamos até o estacionamento.
Ele
me olhou sério e falou: _ sabe por que eu dei dinheiro a ele? Fiquei esperando
uma piada, ele continuou: _ ele disse que queria beber, mas beber para dormir
hoje, não tinha mais motivo para viver, mas não tinha coragem para tirar a
vida, era pecado aos olhos de Deus. Então eu dei, dinheiro suficiente para ele
comprar uma garrafa. Ele foi sincero, e eu entendi a dor dele.
Nunca
mais duvidei, que meu esposo fosse indiferente a dor alheia. E recebi muitas
provas de sua generosidade. Apesar dele, dar umas broncas de vez em quando, em
alguns
Por baterem à porta muito cedo, em um dia de
descanso.
Ilustração: Jornal Rio de Flores


Eu também adoro histórias e você tem um estilo que me agrada bastante. Essa sua história foi muito interessante e emocionou-me. Você é gente que tem coração e alma. Parabéns.
ResponderExcluirAgradeço sinceramente, somos todos humanos e precisamos uns dos outros
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