segunda-feira, 6 de novembro de 2023

 

Figura 1 - Ilustração Jornal Rio de Flores

A vida é feita pela eternidade da alma! Não basta o aqui e agora! Viva bem vivido o presente; e o seu passado será cheio de boas recordações! Contudo, o futuro a Deus pertence! O chamado “final” da vida é uma incógnita! Ninguém pode afirmar se há ou não uma outra dimensão, muito menos pode dizer quando acontecerá a passagem! Entretanto, sabemos que há uma lei universal de transformação. Assim, com um bom plantio, no hoje, no agora, as colheitas fartas poderão ser realizadas um dia. Tem gente que quer colher sem plantar e cuidar! Total engano! E olha que, mesmo com muito bom manejo e trato, nem sempre conseguimos evitar os estragos das pragas, do mal olhado, da inveja e da maledicência!

Enquanto encarnado, o ser humano é corpo e alma. A alma não perece, apenas padece! O corpo sem ela é cadáver! Segundo alguns comentários, a alma é imortal! O corpo sempre volta ao pó! Os estudiosos classificam as pessoas aqui encarnadas como sendo do gênero homo-sapiens-sapiens! Subdividindo-as, segundo o sexo, em masculino ou feminino. Fácil de fazer? Nem sempre! Para tanto, basta olhar os “documentos”, quando são visíveis no feto? Creio que a Ultrassonografia facilita; ao menos não precisa esperar o nascimento. Olhando a máquina, prontamente a medicina “bate o carimbo”: “menino”; ou “menina”! Mas sempre é bom esperar pelo dia do nascimento, para confirmar.

Em determinado momento do crescimento, como na fase de maturação hormonal, pode surgir o conflito de identidade de gênero ou dúvidas. Não vou entrar nessa onda de doutrinas progressistas. Segundo a ciência fala, a coisa fica facilitada, usando a sexagem fetal, por meio de exame realizado durante a gestação. Nele é possível identificar no sangue a presença dos cromossomos Y e X. Mas não vamos complicar o assunto: deixemos o debate para os doutores, os entendidos nesses campos do conhecimento.

Por exemplo, a homossexualidade é tão velha como “cagar de cócoras”! Pergunta-se então: os órgãos genitais são as únicas partes do corpo que caracterizam e garantem a classificação do gênero? Isso não importa mais! Já sei, o que prevalece é a vontade do dono do corpo, e o resto que se dane! Outras coisas muito antigas são as práticas dos chamados pecados denominados de pederastia, safismo, libidinagem etc.! Então vem um ser excêntrico, daquele tipo que se acha o mais criativo do universo, e resolve que agora nas artes vale tudo! Por quê? Em nome de uma falsa arte erótica? Esse personagem quer impor sua opinião, alegando que “tudo pode”! Defende, que seja garantido o direito de expressar-se com o corpo! Entretanto, surgem outros, lembrando que o hermafroditismo, condição complexa da formação biológica animal, reforça o que querem afirmar, corroborando com Mario Vargas Llosa, “O erotismo tem sua própria justificação moral, porque significa que o prazer é suficiente...; é uma afirmação da supremacia do indivíduo”. Dessa forma, o corpo, por si só, não é suficiente para determinar categoricamente a condição da identidade de gênero e sexo. Nesse caso até confunde. Desta forma, entendo eu, não há necessidade de dizer que a alma de artista tem esse ou aquele sexo! Então? Adotamos a premissa de que a alma é assexuada, sendo dessa forma desprendida da sexualidade biológica. Por tanto, a alma de artista resulta da mistura de todas as possibilidades de caldeamentos biológicos e psíquicos. Mas, então, onde estaria algo novo, diferente, criativo?

Deixando de lado essa questão, voltamos ao termo: “Alma”! De quê...? De Artista! Sob certas condições, etimológicas, o sentido pode estar ligado ao “ser”, à “vida” ou à “criatura”, assim, derivando do latim, anima significa aquilo “o que anima”, dá vida ao corpo! Para aprofundar esses conceitos, recomenda-se ler algo sobre as teorias e os pensamentos de Carl Jung, que ampliam a abordagem sobre o sentido de anima e animus. Mas, cuidado para não entrar nessa área sem um mínimo de atenção!

Figura 2: Quadro “Ciranda do Caldeamento” - Por Rocha Maia

Vamos evitar precipitadas conclusões! Sem adentrar nos aspectos religiosos, deixamos de analisar a questão do significado do termo “espírito”, posto que nossa visão está voltada, diretamente, para aquilo que confere, ao indivíduo, competência de fazer e vivenciar coisas e experiências complexas, durante a vida, como no caso dos seres tão procurados, os chamados criativos. Os processos de produção e transformação industrial são sempre carentes de novas ideias e soluções, razão pela qual, na atualidade, as organizações empreendedoras demandam obstinadamente por gente com mentes criativas. Mais do que um simples trabalhador, buscam essas organizações econômicas gente com “Alma de Artista”!

Vamos em frente? Usando da liberdade poética de criação, como artista plástico, fiz uma releitura do Papiro Erótico de Turim, tomando por base estudos e imagens disponíveis, para mostrar as informações existentes, como as percebi, nas inúmeras fontes sobre o tema. Poucas pessoas conhecem sobre o Papiro. Não há uma definitiva interpretação a respeito desses fragmentos do papiro encontrado, no Egito, durante escavações arqueológicas. Datação feita estima ser o original do ano 1200 a.C. Foi bastante danificado, até ser guardado no museu de Turim, Itália, em 1824. Trata-se de um documento que serve para testemunhar a importância da criatividade humana, justamente iniciando pela busca de diferentes formas de prazer libidinoso ou erótico. Para alguns estudiosos, trata-se de um papiro raro, ao qual poderíamos apelidar “caridosamente” de “Revistinha Pornográfica de Faraó”. Acreditamos que era para uso “recreativo” de artífices, que trabalhavam na construção de importantes edificações do antigo Egito. Os originais apresentam cenas que demonstram ter havido, naqueles tempos, sem distinções ou preferências, atividades sexuais bizarras e diversificadas, as mesmas que perduram entre os seres normais e os criativos, até os tempos atuais, tanto para fugir das formas cotidianas, como busca de aberrações comportamentais, como fonte de fetiche sexual e pretensa liberdade de expressão.

Outro dia, durante bate-papo, uma senhora, dizia que tinha uma “alma masculina” e que o esposo, tinha uma “alma feminina”. Lembrei logo de Carl Jung, lidando com os termos “Anima” e “Animus”. Os circunstantes pararam para ouvir com admiração! Por ser papo informal, não obrigava muita seriedade. As piadas maldosas acabaram “rolando”; e logo personagens de novelas da TV foram lembrados, para ilustrar os “causos” comentados.

Figura 3: Quadro “O Papiro Erótico de Turim” - Por Rocha Maia

Refletindo melhor sobre o tema, surgiram alguns questionamentos. Veio à razão do grupo o termo “alma”! Ficamos intrigados com aquela classificação associada a ser uma entidade masculina ou feminina. A senhora explicou que não se tratava de opção de sexualidade. Ela tinha uma sensibilidade maior para ver e entender o mundo pela ótica masculina, enquanto o marido preferia entender o mundo pela visão feminina. 

Alguém lembrou de um outro exemplo e forma de abordar aquela situação. Em seu livro “Alma de Guerreiro”, a escritora, psicóloga, artista plástica Lívia Borges, faz todo um estudo comportamental, abordando sobre os seres humanos que são constituídos, na essência, pela alma de guerreiro. Sim! O livro, interessante pela abordagem de um tema difícil, partindo das principais características e valores dos guerreiros, não foi com certeza escrito somente para homens. A “alma” poderia ser entendida como assexual!

Por não existirem estudos capazes de confirmar as características e os valores dos seres criativos, torna-se impossível classificar a “alma de artista”, sem que se corra o risco de enveredar pelo campo do paranormal ou da espiritualidade. O assunto reside no psiquismo, termo adotado pela psicologia científica! Coisa, portanto, muito complicada!

Sabe-se, entretanto, que para ser um artista, verdadeiramente, torna-se importante ter “alma de artista”. Como é essa “alma”? Seria só isso o que determinaria a identidade artística de um ser criativo? Vale resumir a identidade artística como sendo um conjunto de características, únicas da pessoa, capaz de diferenciá-la das outras, transformando-a em alguém especial e exclusivo, reconhecido por sua maneira própria de criar.

Entende-se que, para se considerar alguém como um verdadeiro artista, não basta a rotulação ou titulação formal ou a comprovação curricular da prática e da competência. No Brasil, infelizmente, é fácil obter algum título de formação profissional para diversas áreas, inclusive das artes. Ser um agente cultural também é condição válida, por certo muito importante, mas não é suficiente para determinar a classificação na categoria “artista profissional”, com a chamada “Alma de Artista” ou “Identidade Artística”!

 Não há como confirmar, mas acredita-se que, ultimamente, muitas faculdades de Artes estão vazias! Quais motivos? Teriam elas perdido o sentido prático e objetivo, para atender quem tem uma “alma de artista” e pretende buscar uma formação acadêmica? Não convém entrar nesse cipoal de questionamentos, oferecendo respostas por simples conjeturas. Isso seria leviano de minha parte! A “desconstrução” das artes em geral tornou-se um sintoma preocupante! O que seria desejável seria definir o que se entende como a “Alma de Artista”. Seria isso possível?

As empresas vivem demandando, não importando se seria essa “alma” mais encontrada entre homens e mulheres, crianças ou jovens, adultos ou idosos; as empresas querem encontrar aqueles seres que de fato sejam criativos. Eles são raros e de talento peculiar. Eu creio que seres criativos são tão raros como aqueles exaltados na Mensagem a Garcia, publicada em 1899, pelo americano Elbert Hubbard, na Revista Philistine.

Habitam no passado, no presente e no futuro da existência humana, na condição de eternos promotores da evolução do belo, do estético e do lírico; são desprovidos de limitações e preconceitos. Atualmente, exauridos pelos arroubos de invencionismo, os “atletas-estetas”, resolveram desconstruir tudo. Mas como desconstruir se não sabem mais construir nada?  

São pessoas comuns, porém os criativos, na verdade, são aqueles que vivem no mundo das coisas possíveis, mas incomuns. Para a maioria de seres humanos, o mundo parece ser feito até os limites do impossível, entretanto, para os criativos, os verdadeiros, não existe o “nunca” e o “jamais”, sempre estarão em busca do ideal, a utopia. Eles sabem como usar as imagens-em-ação: IMAGINAÇÃO!

Capazes de determinar novos rumos, passando por caminhos que, os seres ditos “normais”, afirmam ser impossível trilhar. Os artistas verdadeiros olham portas distantes, entendem ser possível atravessar por elas; vão até lá, apesar de desacreditados, abrem e encontram o outro lado da dimensão, novas plasticidades, diferentes sonoridades, equilibrados movimentos, solfejos de harmonias desconhecidas, novos tempos, compassos ritmados nunca ouvidos, impensados espaços, dimensões e muito mais.

Quebram paradigmas, ditam moda, inovam ritmos, rimas, gestos; simplesmente sabem sair da mesmice, sem se importarem com o que os outros vão dizer, embora tenham consciência do que é o sucesso. E o que mais impressiona, mudam sem destruir, sem demolir, porque têm na sua essência o domínio de reciclar, renovar, fazer de novo aquilo que, já ultrapassado, é matéria de criação para o amanhã que se faz no presente.

São excêntricos, loucos ou sonhadores?  Não, nada disso! Simplesmente, possuem a chamada Alma de Artista! São pessoas diferentes, é verdade! Entretanto, elas existem sem abandonar o amor à vida comum; apenas, contrariando o cotidiano, sabem estar num mundo “louco”, que só sabe repetir o que já caducou! Por isso então, criam!

O nosso mundo, dito normal, clama por novas soluções! Os novos problemas vão aparecendo; e o que nele se consegue fazer? Apenas, aplicar velhas fórmulas, aquelas mesmas que só servem para resolver aos velhos paradigmas. Sem “almas de artistas”, certamente, o mundo patina e chafurda, na repetição do sempre fazer a rotina das coisas da mesma maneira. Sobre isso, a música “Cotidiano”, de Chico Buarque, fala tudo: “Todo dia ela faz tudo sempre igual. Me sacode às seis horas da manhã; me sorri um sorriso pontual; e me beija com a boca de hortelã.”

Trabalhar com rotinas, sem perder o foco nas oportunidades de aperfeiçoamento e de novos processos, tem sido o desafio de criação para os bons profissionais, que buscam manter-se no maior nível possível de qualidade, o chamado Estado da Arte. O mundo busca, urgentemente, por “Almas de Artistas”. Podem ser definidas? Talvez! Mas, como é difícil encontrá-las!  São muito raras!

Texto e Telas (Figura 2 e 3): Rocha Maia
Ilustração (Figura 1): Jornal Rio de Flores

Luiz Roberto da ROCHA MAIA Nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente, em Rio das Ostras. Em 2023, completa mais de cinquenta anos de atividade cultural. Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em Portugal, é Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais - Brasília /DF. Membro da Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro; e da Academia de Letras e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ. Participou de mais de duzentos eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal, França e Bulgária. Recebeu mais de setenta premiações e destaques em salões de artes plásticas. Citado em catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil e no exterior; bem como nos acervos do Museu Naïf de São José do Rio Preto/SP; MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do Château des Réaux; e do Museu Internacional de Arte Naïf de Vicq, na França. Seus quadros estão presentes também em pinacotecas de diversas entidades e coleções de aficionados por arte naïf no Brasil, Cuba, França, Itália, Espanha, Chile, Japão, Bolívia e Portugal. Por três vezes foi selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo recebido o prêmio aquisição 2006, em Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o catálogo “Ingenuidade Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro “O Diário de Lili Beth”, pela editora Videu – 2021; e colaborou com a Coluna Arte Animal, da revista digital Animal Business Brasil, escrevendo artigos versando sobre a presença de animais como tema nas belas artes.

Edição e Direção Geral
Renato Galvão


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