![]() |
| Figura 1 - Ilustração Jornal Rio de Flores |
A vida é feita pela eternidade da alma! Não basta o
aqui e agora! Viva bem vivido o presente; e o seu passado será cheio de boas
recordações! Contudo, o futuro a Deus pertence! O chamado “final” da vida é uma
incógnita! Ninguém pode afirmar se há ou não uma outra dimensão, muito menos
pode dizer quando acontecerá a passagem! Entretanto, sabemos que há uma lei
universal de transformação. Assim, com um bom plantio, no hoje, no agora, as
colheitas fartas poderão ser realizadas um dia. Tem gente que quer colher sem
plantar e cuidar! Total engano! E olha que, mesmo com muito bom manejo e trato,
nem sempre conseguimos evitar os estragos das pragas, do mal olhado, da inveja
e da maledicência!
Enquanto encarnado, o ser humano é corpo e alma. A
alma não perece, apenas padece! O corpo sem ela é cadáver! Segundo alguns comentários,
a alma é imortal! O corpo sempre volta ao pó! Os estudiosos classificam as
pessoas aqui encarnadas como sendo do gênero homo-sapiens-sapiens! Subdividindo-as,
segundo o sexo, em masculino ou feminino. Fácil de fazer? Nem sempre! Para
tanto, basta olhar os “documentos”, quando são visíveis no feto? Creio que a Ultrassonografia
facilita; ao menos não precisa esperar o nascimento. Olhando a máquina, prontamente
a medicina “bate o carimbo”: “menino”; ou “menina”! Mas sempre é bom esperar
pelo dia do nascimento, para confirmar.
Em determinado momento do crescimento, como na fase
de maturação hormonal, pode surgir o conflito de identidade de gênero ou
dúvidas. Não vou entrar nessa onda de doutrinas progressistas. Segundo a
ciência fala, a coisa fica facilitada, usando
a sexagem fetal, por meio de exame realizado durante a gestação. Nele é
possível identificar no sangue a presença dos cromossomos Y e X. Mas não vamos
complicar o assunto: deixemos o debate para os doutores, os entendidos nesses campos
do conhecimento.
Por exemplo, a homossexualidade é tão velha como “cagar
de cócoras”! Pergunta-se então: os órgãos genitais são as únicas partes do
corpo que caracterizam e garantem a classificação do gênero? Isso não importa
mais! Já sei, o que prevalece é a vontade do dono do corpo, e o resto que se
dane! Outras coisas muito antigas são as práticas dos chamados pecados
denominados de pederastia, safismo, libidinagem etc.! Então vem um ser
excêntrico, daquele tipo que se acha o mais criativo do universo, e resolve que
agora nas artes vale tudo! Por quê? Em nome de uma falsa arte erótica? Esse
personagem quer impor sua opinião, alegando que “tudo pode”! Defende, que seja garantido
o direito de expressar-se com o corpo! Entretanto, surgem outros, lembrando que
o hermafroditismo, condição complexa da formação biológica animal, reforça o
que querem afirmar, corroborando com Mario Vargas Llosa, “O erotismo tem sua
própria justificação moral, porque significa que o prazer é suficiente...; é
uma afirmação da supremacia do indivíduo”. Dessa forma, o corpo, por si só, não
é suficiente para determinar categoricamente a condição da identidade de gênero
e sexo. Nesse caso até confunde. Desta forma, entendo eu, não há necessidade de
dizer que a alma de artista tem esse ou aquele sexo! Então? Adotamos a premissa
de que a alma é assexuada, sendo dessa forma desprendida da sexualidade biológica.
Por tanto, a alma de artista resulta da mistura de todas as possibilidades de
caldeamentos biológicos e psíquicos. Mas, então, onde estaria algo novo,
diferente, criativo?
Deixando de lado essa questão, voltamos ao termo:
“Alma”! De quê...? De Artista! Sob certas condições, etimológicas, o sentido
pode estar ligado ao “ser”, à “vida” ou à “criatura”, assim, derivando do
latim, anima significa aquilo “o que anima”, dá vida ao corpo! Para aprofundar
esses conceitos, recomenda-se ler algo sobre as teorias e os pensamentos de
Carl Jung, que ampliam a abordagem sobre o sentido de anima e animus. Mas,
cuidado para não entrar nessa área sem um mínimo de atenção!
![]() |
| Figura 2: Quadro “Ciranda do Caldeamento” - Por Rocha Maia |
Vamos evitar precipitadas conclusões! Sem adentrar nos aspectos religiosos, deixamos de analisar a questão do significado do termo “espírito”, posto que nossa visão está voltada, diretamente, para aquilo que confere, ao indivíduo, competência de fazer e vivenciar coisas e experiências complexas, durante a vida, como no caso dos seres tão procurados, os chamados criativos. Os processos de produção e transformação industrial são sempre carentes de novas ideias e soluções, razão pela qual, na atualidade, as organizações empreendedoras demandam obstinadamente por gente com mentes criativas. Mais do que um simples trabalhador, buscam essas organizações econômicas gente com “Alma de Artista”!
Vamos em frente? Usando da liberdade poética de
criação, como artista plástico, fiz uma releitura do Papiro Erótico de Turim,
tomando por base estudos e imagens disponíveis, para mostrar as informações
existentes, como as percebi, nas inúmeras fontes sobre o tema. Poucas pessoas
conhecem sobre o Papiro. Não há uma definitiva interpretação a respeito desses
fragmentos do papiro encontrado, no Egito, durante escavações arqueológicas.
Datação feita estima ser o original do ano 1200 a.C. Foi bastante danificado,
até ser guardado no museu de Turim, Itália, em 1824. Trata-se de um documento
que serve para testemunhar a importância da criatividade humana, justamente
iniciando pela busca de diferentes formas de prazer libidinoso ou erótico. Para
alguns estudiosos, trata-se de um papiro raro, ao qual poderíamos apelidar
“caridosamente” de “Revistinha Pornográfica de Faraó”. Acreditamos que era para
uso “recreativo” de artífices, que trabalhavam na construção de importantes
edificações do antigo Egito. Os originais apresentam cenas que demonstram ter
havido, naqueles tempos, sem distinções ou preferências, atividades sexuais
bizarras e diversificadas, as mesmas que perduram entre os seres normais e os
criativos, até os tempos atuais, tanto para fugir das formas cotidianas, como
busca de aberrações comportamentais, como fonte de fetiche sexual e pretensa
liberdade de expressão.
Outro dia, durante bate-papo, uma senhora, dizia
que tinha uma “alma masculina” e que o esposo, tinha uma “alma feminina”.
Lembrei logo de Carl Jung, lidando com os termos “Anima” e “Animus”. Os
circunstantes pararam para ouvir com admiração! Por ser papo informal, não
obrigava muita seriedade. As piadas maldosas acabaram “rolando”; e logo
personagens de novelas da TV foram lembrados, para ilustrar os “causos”
comentados.

Figura 3: Quadro “O Papiro Erótico de Turim” - Por Rocha Maia
Refletindo melhor sobre o tema, surgiram alguns questionamentos. Veio à razão do grupo o termo “alma”! Ficamos intrigados com aquela classificação associada a ser uma entidade masculina ou feminina. A senhora explicou que não se tratava de opção de sexualidade. Ela tinha uma sensibilidade maior para ver e entender o mundo pela ótica masculina, enquanto o marido preferia entender o mundo pela visão feminina.
Alguém lembrou de um outro exemplo e forma de
abordar aquela situação. Em seu livro “Alma de Guerreiro”, a escritora,
psicóloga, artista plástica Lívia Borges, faz todo um estudo comportamental,
abordando sobre os seres humanos que são constituídos, na essência, pela alma
de guerreiro. Sim! O livro, interessante pela abordagem de um tema difícil,
partindo das principais características e valores dos guerreiros, não foi com
certeza escrito somente para homens. A “alma” poderia ser entendida como
assexual!
Por não existirem estudos capazes de confirmar as características
e os valores dos seres criativos, torna-se impossível classificar a “alma de
artista”, sem que se corra o risco de enveredar pelo campo do paranormal ou da
espiritualidade. O assunto reside no psiquismo, termo adotado pela psicologia científica! Coisa, portanto, muito complicada!
Sabe-se, entretanto, que para ser um artista, verdadeiramente,
torna-se importante ter “alma de artista”. Como é essa “alma”? Seria só isso o
que determinaria a identidade artística de um ser criativo? Vale resumir a
identidade artística como sendo um conjunto de características, únicas da
pessoa, capaz de diferenciá-la das outras, transformando-a em alguém especial e exclusivo,
reconhecido por sua maneira própria de criar.
Entende-se que, para se considerar alguém como um
verdadeiro artista, não basta a rotulação ou titulação formal ou a comprovação
curricular da prática e da competência. No Brasil, infelizmente, é fácil obter
algum título de formação profissional para diversas áreas, inclusive das artes.
Ser um agente cultural também é condição válida, por certo muito importante,
mas não é suficiente para determinar a classificação na categoria “artista
profissional”, com a chamada “Alma de Artista” ou “Identidade Artística”!
Não há como
confirmar, mas acredita-se que, ultimamente, muitas faculdades de Artes estão
vazias! Quais motivos? Teriam elas perdido o sentido prático e objetivo, para
atender quem tem uma “alma de artista” e pretende buscar uma formação acadêmica?
Não convém entrar nesse cipoal de questionamentos, oferecendo respostas por
simples conjeturas. Isso seria leviano de minha parte! A “desconstrução” das
artes em geral tornou-se um sintoma preocupante! O que seria desejável seria definir
o que se entende como a “Alma de Artista”. Seria isso possível?
As empresas vivem demandando, não importando se
seria essa “alma” mais encontrada entre homens e mulheres, crianças ou jovens,
adultos ou idosos; as empresas querem encontrar aqueles seres que de fato sejam
criativos. Eles são raros e de talento peculiar. Eu creio que seres criativos
são tão raros como aqueles exaltados na Mensagem a Garcia, publicada em 1899,
pelo americano Elbert Hubbard, na Revista Philistine.
Habitam no passado, no presente e no futuro da
existência humana, na condição de eternos promotores da evolução do belo, do
estético e do lírico; são desprovidos de limitações e preconceitos. Atualmente,
exauridos pelos arroubos de invencionismo, os “atletas-estetas”, resolveram
desconstruir tudo. Mas como desconstruir se não sabem mais construir nada?
São pessoas comuns, porém os criativos, na verdade,
são aqueles que vivem no mundo das coisas possíveis, mas incomuns. Para a
maioria de seres humanos, o mundo parece ser feito até os limites do
impossível, entretanto, para os criativos, os verdadeiros, não existe o “nunca”
e o “jamais”, sempre estarão em busca do ideal, a utopia. Eles sabem como usar
as imagens-em-ação: IMAGINAÇÃO!
Capazes de determinar novos rumos, passando por
caminhos que, os seres ditos “normais”, afirmam ser impossível trilhar. Os artistas
verdadeiros olham portas distantes, entendem ser possível atravessar por elas;
vão até lá, apesar de desacreditados, abrem e encontram o outro lado da dimensão,
novas plasticidades, diferentes sonoridades, equilibrados movimentos, solfejos
de harmonias desconhecidas, novos tempos, compassos ritmados nunca ouvidos, impensados
espaços, dimensões e muito mais.
Quebram paradigmas, ditam moda, inovam ritmos,
rimas, gestos; simplesmente sabem sair da mesmice, sem se importarem com o que
os outros vão dizer, embora tenham consciência do que é o sucesso. E o que mais
impressiona, mudam sem destruir, sem demolir, porque têm na sua essência o
domínio de reciclar, renovar, fazer de novo aquilo que, já ultrapassado, é
matéria de criação para o amanhã que se faz no presente.
São excêntricos, loucos ou sonhadores? Não, nada disso! Simplesmente, possuem a
chamada Alma de Artista! São pessoas diferentes, é verdade! Entretanto, elas
existem sem abandonar o amor à vida comum; apenas, contrariando o cotidiano,
sabem estar num mundo “louco”, que só sabe repetir o que já caducou! Por isso
então, criam!
O nosso mundo, dito normal, clama por novas
soluções! Os novos problemas vão aparecendo; e o que nele se consegue fazer?
Apenas, aplicar velhas fórmulas, aquelas mesmas que só servem para resolver aos
velhos paradigmas. Sem “almas de artistas”, certamente, o mundo patina e
chafurda, na repetição do sempre fazer a rotina das coisas da mesma maneira. Sobre
isso, a música “Cotidiano”, de Chico Buarque, fala tudo: “Todo dia ela faz tudo sempre igual. Me sacode às
seis horas da manhã; me sorri um sorriso pontual; e me beija com a boca de
hortelã.”
Trabalhar com rotinas, sem perder o foco nas
oportunidades de aperfeiçoamento e de novos processos, tem sido o desafio de
criação para os bons profissionais, que buscam manter-se no maior nível
possível de qualidade, o chamado Estado da Arte. O mundo busca, urgentemente,
por “Almas de Artistas”. Podem ser definidas? Talvez! Mas, como é difícil
encontrá-las! São muito raras!
Luiz Roberto da ROCHA MAIA Nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente, em Rio das Ostras. Em 2023, completa mais de cinquenta anos de atividade cultural. Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em Portugal, é Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais - Brasília /DF. Membro da Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro; e da Academia de Letras e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ. Participou de mais de duzentos eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal, França e Bulgária. Recebeu mais de setenta premiações e destaques em salões de artes plásticas. Citado em catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil e no exterior; bem como nos acervos do Museu Naïf de São José do Rio Preto/SP; MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do Château des Réaux; e do Museu Internacional de Arte Naïf de Vicq, na França. Seus quadros estão presentes também em pinacotecas de diversas entidades e coleções de aficionados por arte naïf no Brasil, Cuba, França, Itália, Espanha, Chile, Japão, Bolívia e Portugal. Por três vezes foi selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo recebido o prêmio aquisição 2006, em Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o catálogo “Ingenuidade Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro “O Diário de Lili Beth”, pela editora Videu – 2021; e colaborou com a Coluna Arte Animal, da revista digital Animal Business Brasil, escrevendo artigos versando sobre a presença de animais como tema nas belas artes.



Nenhum comentário:
Postar um comentário