Maria Frôxinha, Tamborete de Forró, Toco de Amarrar Égua, Papa Anjo e muitos outros, todos depreciativos, são os tantos apelidos de Maria. Hoje, ela é cozinheira de um restaurante de caminhoneiros. Nem por isso se sente à margem da estrada. Vive sorridente, como se a vida lhe tivesse sido generosa. Se lhe perguntassem, diria que não se arrepende de nada. Como nunca perguntaram, nunca pensou em arrependimentos, pois, também nunca, pensou em cometer pecados. O que fora na vida, foi a vida que lhe ofereceu, sem perguntar se aceitaria. Saudade? Nenhuma! Nunca pensou no passado nem nunca ninguém lhe explicou o que significa saudade. Culpa? Muito menos! Nunca arrastou ninguém para sua cama. Nunca, sequer, disse se aceitava ou não. Simplesmente se deitava e respondia com gemidos o que o parceiro fortuito entendia como gozo. Se dava na cama, como se dera nos forrós, nos tempos de jovem. Naquele tempo, dançava apertadinho, “coladinho do pé à ponta”. Por isto, era muito disputada. Tinha obrigação de dançar com qualquer um, pelas leis dos sambas. Abraçava-se, portanto, ao primeiro da fila. As brigas, eles que resolvessem. No cabaré, não era muito diferente. Vivia daquilo. Nunca cobrou e também não sabia se valia mais ou menos do que as outras putas. Os que não lhe pagavam, não os considerava xexeiros. Os que lhe pagavam muito, em nada lhe aumentavam. Foi assim que Maria desvirginou quatro gerações de Curibocas. Não tinha preferência por meninos. Era paciente e não sorria da afobação dos iniciantes. Daí a preferência deles, meninos e não, dela, Maria. Aliás, se deitou com meninos desde os tempos que, também, era criança. Sempre achou, sem que ninguém lhe tivesse convencido disso, que os meninos tinham direito ao seu corpo. Se lhe perguntassem não saberia dizer porque tinha esse sentimento. Como ninguém nunca perguntou...parecia não ter consciência desse sentimento, mas era com ele que agia. Os meninos também pensavam assim. Não, de todas as meninas. Mas de Maria, sim. Por que só com ela, também nunca perguntou a si nem aos outros. Quando despertou a atenção dos meninos maiores, também não imaginou que ainda mijava na cama e que não desistira de ganhar a primeira boneca. Foi se entregando: no escurinho dos forrós, na curva do caminho de volta para casa, na cama de casal da residência onde era faxineira... Quando lhe nasceram os primeiros pentelhos já não era virgem. “Nunca foi moça: passou de menina a quenga”, ouviria mais tarde daqueles que com ela quebraram o “cabresto”. Caiu na boca do povo...seguiu o caminho natural: o cabaré, que para ela nunca foi desabonador. Também, ela nunca soube o que é desabonador...Gostava de um caminhoneiro, chamado Euclides, que vivia lhe dizendo que a levaria para morar com ele. Não como marido e mulher. Isto, nem ela pensava. Mas com casa montada, disco na radiola e sarapatel para os amigos nas tardes de domingo. A fotografia que havia na boleia do caminhão, de uma morena que posava – de corpo inteiro - para uma marca de pneu, seria trocada pela presença dela. E correriam mundo. Certo dia, ele passou direto, no seu caminhão. Ela ainda teve tempo de ver que a fotografia não mais estava ao lado dele. E, pela primeira vez, Maria chorou. Chorou duas lágrimas. Depois, contou à amiga que havia sonhado com Euclides... e que o caminhão dele não era mais amarelo.


Esse é um Mestre. Sou fã incondicional. Maravilhosa essa Maria.
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