Literalmente
adoro dias de chuva. Aquela preguiça boa, que nos remete ao recolhimento. A
chuva me traz recordações da infância, de tomar banho na rua, pulando na
enxurrada. E dos bolinhos de chuva, e o chocolate que mamãe preparava. Mas
tinha que obedecer, tomar outro banho, quente desta vez. Não esquecendo de
tirar o grude de traz das orelhas, e de secar o chão ao sair do banho. A tarde
corria solta, a chuva mostrando a que veio, trovoadas e relâmpagos cortando o
céu. Sem preocupações, o melhor era a disputa com meus irmãos, quem iria pegar
o maior bolinho.
Sempre brincávamos com isso, nossa mãe fazia os
bolinhos maiores ou menores conforme, colhesse a massa com a colher. Proposital
ou não, sempre eram diferentes no tamanho. Isso causava um reboliço, em volta
da mesa.
Muitos anos se passaram, não tive o mesmo costume
de fazer para meus filhos os bolinhos de chuva. Talvez porque aqueles momentos,
eram nossos e da nossa mãe. Mas a chuva continua trazendo imagens daqueles
momentos, tão pequenos e simples.
Felicidade é um ato tão doce e pequeno, em uma
tarde de chuva, o recolhimento, a abstração de tudo. Só ficar “de boa”, como
dizia meu filho na infância. Lendo, brincando, contando anedotas. Lembro dos
primeiros dias de casamento, ficávamos na cama, conversando, rindo vendo tv.
Depois com os filhos, a cama ficava apertada, mas ainda assim era gostoso,
ficar ali fazendo nada, como diria meu esposo.
Tardes e noites abençoadas, com a chuva cantarolando
no telhado. Esses dias se foram, o tempo leva os momentos, a chuva traz novos
momentos. Ainda amo a chuva, mesmo que às vezes a natureza em fúria cause
tragédias. Mas a chuva em si não é culpada, a culpa com certeza é da
humanidade.
A chuva é benção, é magia. Confidente dos amantes,
alegria da meninada, que ainda hoje, cantam e dançam na chuva. Que traz
encantamento.
Ivete Rosa de Souza. Nascida
em Santo André, no ano de 1955, canceriana apaixonada por histórias. Adora
poesia, crônicas e contos. Tem muitas histórias na cabeça, e a poesia que
adorna os dias veio para ficar. Dois livros de poesia publicados: Coração
Adormecido e Ainda dá Tempo. E em 2022. Participações em 40 Antologias físicas
e mais de 10 ebooks. Vou aonde me levar a poesia.
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| Edição e Direção Geral Renato Galvão |


Adorável sentir essa saudade, simplesmente lendo o que você escreveu. Obrigado!
ResponderExcluirQue lindo. Hoje tive essa sensação de recolhimento também, pelo dia nublado. Me trouxe uma quietude ao coração.
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