domingo, 30 de julho de 2023

 


       Literalmente adoro dias de chuva. Aquela preguiça boa, que nos remete ao recolhimento. A chuva me traz recordações da infância, de tomar banho na rua, pulando na enxurrada. E dos bolinhos de chuva, e o chocolate que mamãe preparava. Mas tinha que obedecer, tomar outro banho, quente desta vez. Não esquecendo de tirar o grude de traz das orelhas, e de secar o chão ao sair do banho. A tarde corria solta, a chuva mostrando a que veio, trovoadas e relâmpagos cortando o céu. Sem preocupações, o melhor era a disputa com meus irmãos, quem iria pegar o maior bolinho.

Sempre brincávamos com isso, nossa mãe fazia os bolinhos maiores ou menores conforme, colhesse a massa com a colher. Proposital ou não, sempre eram diferentes no tamanho. Isso causava um reboliço, em volta da mesa.

Muitos anos se passaram, não tive o mesmo costume de fazer para meus filhos os bolinhos de chuva. Talvez porque aqueles momentos, eram nossos e da nossa mãe. Mas a chuva continua trazendo imagens daqueles momentos, tão pequenos e simples.

Felicidade é um ato tão doce e pequeno, em uma tarde de chuva, o recolhimento, a abstração de tudo. Só ficar “de boa”, como dizia meu filho na infância. Lendo, brincando, contando anedotas. Lembro dos primeiros dias de casamento, ficávamos na cama, conversando, rindo vendo tv. Depois com os filhos, a cama ficava apertada, mas ainda assim era gostoso, ficar ali fazendo nada, como diria meu esposo.

Tardes e noites abençoadas, com a chuva cantarolando no telhado. Esses dias se foram, o tempo leva os momentos, a chuva traz novos momentos. Ainda amo a chuva, mesmo que às vezes a natureza em fúria cause tragédias. Mas a chuva em si não é culpada, a culpa com certeza é da humanidade.

A chuva é benção, é magia. Confidente dos amantes, alegria da meninada, que ainda hoje, cantam e dançam na chuva. Que traz encantamento.

Texto: Ivete Rosa de Souza
Ilustrações e Edição: Jornal Rio de Flores

Ivete Rosa de Souza. Nascida em Santo André, no ano de 1955, canceriana apaixonada por histórias. Adora poesia, crônicas e contos. Tem muitas histórias na cabeça, e a poesia que adorna os dias veio para ficar. Dois livros de poesia publicados: Coração Adormecido e Ainda dá Tempo. E em 2022. Participações em 40 Antologias físicas e mais de 10 ebooks. Vou aonde me levar a poesia.

Edição e Direção Geral
Renato Galvão



2 comentários:

  1. Adorável sentir essa saudade, simplesmente lendo o que você escreveu. Obrigado!

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  2. Que lindo. Hoje tive essa sensação de recolhimento também, pelo dia nublado. Me trouxe uma quietude ao coração.

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