Uma única vez, vi em uma praça um casal de velhos, que apesar da pele enrugada, os movimentos lentos, como se a vida já os tivesse cansado o bastante, estavam felizes.
Aquela cena me
causou uma alegria imensa, fiquei a imaginar, a história deles, como tinham
sido em sua mocidade. Demonstravam que foram felizes, pareciam se importar um
com o outro. Ele lhe dava o braço generosamente, e com a outra mão ainda
afagava a mão dela que se segurava como a um porto seguro.
Ela sorria e o
olhava como se mais ninguém estivesse na rua, caminhavam quietos, não falavam,
mas os olhares diziam tudo.
A vida parecia
ter sido generosa com eles. Estavam bem-vestidos. Sentaram-se em um banco da
Praça, e continuaram abraçados. Iniciaram uma conversa, não ouvi o que diziam.
Em dado momento ele levantou-se, e caminhou até o carrinho de pipoca, que
estava a uns cem metros, ela o acompanhou com o olhar sorrindo. Ele voltou com
um único saquinho de pipoca e deu a ela.
A Sra. que eu
desconhecia, mas já me era de uma familiaridade completa, pegou uma pipoca e
com um gesto suave, levou até a boca do velhinho, e repetiu várias vezes a cena
até o último grão.
Riram não sei
de que. Fiquei desesperada para saber. Mas me contive.
Não era justo
interromper aquela cena.
Eles eram
felizes, e isto era o bastante.
Segui meu
caminho. Desejei que eles tivessem ainda, muitas alegrias juntas. Que apesar da
idade avançada, eles pudessem caminhar por toda uma eternidade juntos.
E senti uma pontinha
de inveja, eu confesso. Imaginei que poderia ser eu e alguém naquela cena. Mas
logo retomei meus assuntos e me esqueci, do casal de estranhos que me deram a
alegria de acreditar que apesar de tudo de errado no mundo, ainda existe amor e
felicidade.
E isso é fácil
de comprovar, é só observar. Há muitos enamorados no mundo, e os mais felizes
são os velhos.
Que amam,
simplesmente por amar.
Ilustração: Jornal Rio de Flores
Ivete Rosa de Souza (Rosa dos Ventos), nasceu em
Santo André, São Paulo no ano de 1955. Assídua leitora desde criança,
apaixonada por poesia. Foi policial por mais de vinte anos, viu os dois lados
do ser humano, mas não deixou de sentir e escrever poesias. Com dois livros
publicados e participação em mais de trinta antologias, tanto físicas como
digitais. Escreve contos, crônicas, além de poemas. Acredita que escrever é uma
libertação. Colunista do Jornal Rio de Flores e Jornal Rol da Internet.

Meu Deus, como você foi feliz em seu texto. Delicioso! Creio que esse casal era meu pai e minha mãe, certamente! Obrigado por me fazer relembrar deles, quando encarnados.
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