sexta-feira, 26 de maio de 2023



Uma única vez, vi em uma praça um casal de velhos, que apesar da pele enrugada, os movimentos lentos, como se a vida já os tivesse cansado o bastante, estavam felizes.

Aquela cena me causou uma alegria imensa, fiquei a imaginar, a história deles, como tinham sido em sua mocidade. Demonstravam que foram felizes, pareciam se importar um com o outro. Ele lhe dava o braço generosamente, e com a outra mão ainda afagava a mão dela que se segurava como a um porto seguro.

Ela sorria e o olhava como se mais ninguém estivesse na rua, caminhavam quietos, não falavam, mas os olhares diziam tudo.

A vida parecia ter sido generosa com eles. Estavam bem-vestidos. Sentaram-se em um banco da Praça, e continuaram abraçados. Iniciaram uma conversa, não ouvi o que diziam. Em dado momento ele levantou-se, e caminhou até o carrinho de pipoca, que estava a uns cem metros, ela o acompanhou com o olhar sorrindo. Ele voltou com um único saquinho de pipoca e deu a ela.

A Sra. que eu desconhecia, mas já me era de uma familiaridade completa, pegou uma pipoca e com um gesto suave, levou até a boca do velhinho, e repetiu várias vezes a cena até o último grão.

Riram não sei de que. Fiquei desesperada para saber. Mas me contive.

Não era justo interromper aquela cena.

Eles eram felizes, e isto era o bastante.

Segui meu caminho. Desejei que eles tivessem ainda, muitas alegrias juntas. Que apesar da idade avançada, eles pudessem caminhar por toda uma eternidade juntos.

E senti uma pontinha de inveja, eu confesso. Imaginei que poderia ser eu e alguém naquela cena. Mas logo retomei meus assuntos e me esqueci, do casal de estranhos que me deram a alegria de acreditar que apesar de tudo de errado no mundo, ainda existe amor e felicidade.

E isso é fácil de comprovar, é só observar. Há muitos enamorados no mundo, e os mais felizes são os velhos.

Que amam, simplesmente por amar.

Texto: Ivete Rosa de Souza
Ilustração: Jornal Rio de Flores

Ivete Rosa de Souza (Rosa dos Ventos), nasceu em Santo André, São Paulo no ano de 1955. Assídua leitora desde criança, apaixonada por poesia. Foi policial por mais de vinte anos, viu os dois lados do ser humano, mas não deixou de sentir e escrever poesias. Com dois livros publicados e participação em mais de trinta antologias, tanto físicas como digitais. Escreve contos, crônicas, além de poemas. Acredita que escrever é uma libertação. Colunista do Jornal Rio de Flores e Jornal Rol da Internet.


Edição e Direção Geral:
Renato Galvão


Um comentário:

  1. Meu Deus, como você foi feliz em seu texto. Delicioso! Creio que esse casal era meu pai e minha mãe, certamente! Obrigado por me fazer relembrar deles, quando encarnados.

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