quinta-feira, 26 de junho de 2025


Em nossa rotina letrada/acadêmica, usamos com frequência a expressão “analfabetismo funcional”, o que nem sempre é compreendido pelo leigo, porque aquele que não se dedica aos estudos de alfabetização, de leitura e escrita em seu cotidiano.

O analfabetismo funcional é uma condição que envolve indivíduos que reconhecem letras e palavras, mas apresentam dificuldade para compreender, interpretar o que está escrito, como consequência, enfrentam obstáculos para executar tarefas básicas que envolvam leitura e escrita.

Essas limitações de compreensão, interpretação e execução de tarefas, mesmo as mais cotidianas na profissão, na vida social dificultam a plena inserção no mundo contemporâneo extremamente dinâmico e baseado na tecnologia.

Embora saibam “juntar as letras e formas palavras”, como dizia uma das minhas professoras de português, analfabetos funcionais têm dificuldade para entender manuais de instrução, contratos, textos jornalísticos que exijam análise ou reflexão mais aprofundada.

Além disso, essas pessoas, por vezes, encontram obstáculos para, por exemplo, seguir instruções médicas, realizar cálculos simples que podem ajudar a controlar o orçamento doméstico. Essa dificuldade pode estender para a compreensão de tabelas, gráficos, entendimento de contas de serviço, gerando dúvidas ou confusões.

Há duas preocupações recorrentes entre quem estuda as dificuldades enfrentadas por essas pessoas no seu dia a dia: o constrangimento de recorrer a terceiros para um melhor esclarecimento e o risco de serem alvo de golpes financeiros.

De um modo geral, tais limitações surgem de uma educação básica insuficiente ou de má qualidade (muitas pessoas abandonam os estudos, por exemplo, para ajudar no sustento familiar); desinteresse ou falta de estímulo pela prática de leitura e escrita tanto na família quanto na escola, o que desemboca em um mercado carente de mão de obra qualificada e o consequente subemprego e o baixo salário.

A nossa constante e repetida insistência (a reiteração é proposital) em favor da leitura e da escrita está, em primeiro lugar, na ampliação do universo de compreensão do mundo de cada indivíduo: quanto mais lê, mais a pessoa entende o mundo em que se insere, as relações sociais, políticas, econômicas.

Uma das minhas professoras de ensino médio (faz tempo!) aconselhava a escrever um texto a mão (manuscrito) sobre determinado assunto, rasgar a folha e jogar fora. Escrever um novo texto sobre o mesmo assunto, rasgar a folha e jogar fora. Depois de umas dez tentativas, começar a burilar, qualificar, melhorar aquele texto.

Na faculdade de Letras, eu aprendi que um texto deve “dormir”, isto é, deve ser escrito e “abandonado”, por alguns dias, ser retomado depois – já somos outros, já conversamos com outras pessoas, já ouvimos informações sobre o assunto e, principalmente, já pesquisamos sobre ele. Haverá um texto a ser melhorado.

Ler e entender com clareza um texto; ler e escrever, expressar os sentimentos, as emoções, as próprias ideias conseguindo ser entendido pelo interlocutor são prazeres indescritíveis, conseguimos “dialogar” com as experiências do outro e isso acresce na nossa condição humana, na nossa experiência humana.

Texto: Elaine dos Santos 

Edição e Ilustração: Jornal e Livraria Rio de Flores
 
Elainedos Santos é doutora em Estudos Literários pelo Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), dedicando-se especialmente a temas como teatro itinerante, melodrama, literatura gaúcha.
É autora dos livros “Entre lágrimas e risos: as representações do melodrama no teatro mambembe”, adaptação de sua tese de doutorado, e “Coisas minhas Outras histórias”, coletânea de crônicas, lançada recentemente.
Possui participação em várias antologias, assim como já organizou outras antologias, entre elas “A Magia da escrita”, da Rio de Flores Editora.
É membro de academias literárias estaduais e nacionais, tendo sido agraciada com comendas e títulos de reconhecimento à sua produção literária e engajamento em prol da cultura.
Atualmente, dedica-se ao estudo e à atualização da História de sua cidade natal, Restinga Seca, situada no interior do Rio Grande do Sul.

Direção Geral
Renato Galvão


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário