Em nossa
rotina letrada/acadêmica, usamos com frequência a expressão “analfabetismo
funcional”, o que nem sempre é compreendido pelo leigo, porque aquele que não
se dedica aos estudos de alfabetização, de leitura e escrita em seu cotidiano.
O
analfabetismo funcional é uma condição que envolve indivíduos que reconhecem
letras e palavras, mas apresentam dificuldade para compreender, interpretar o
que está escrito, como consequência, enfrentam obstáculos para executar tarefas
básicas que envolvam leitura e escrita.
Essas
limitações de compreensão, interpretação e execução de tarefas, mesmo as mais
cotidianas na profissão, na vida social dificultam a plena inserção no mundo
contemporâneo extremamente dinâmico e baseado na tecnologia.
Embora
saibam “juntar as letras e formas palavras”, como dizia uma das minhas
professoras de português, analfabetos funcionais têm dificuldade para entender
manuais de instrução, contratos, textos jornalísticos que exijam análise ou
reflexão mais aprofundada.
Além
disso, essas pessoas, por vezes, encontram obstáculos para, por exemplo, seguir
instruções médicas, realizar cálculos simples que podem ajudar a controlar o
orçamento doméstico. Essa dificuldade pode estender para a compreensão de
tabelas, gráficos, entendimento de contas de serviço, gerando dúvidas ou
confusões.
Há duas
preocupações recorrentes entre quem estuda as dificuldades enfrentadas por
essas pessoas no seu dia a dia: o constrangimento de recorrer a terceiros para
um melhor esclarecimento e o risco de serem alvo de golpes financeiros.
De um
modo geral, tais limitações surgem de uma educação básica insuficiente ou de má
qualidade (muitas pessoas abandonam os estudos, por exemplo, para ajudar no
sustento familiar); desinteresse ou falta de estímulo pela prática de leitura e
escrita tanto na família quanto na escola, o que desemboca em um mercado
carente de mão de obra qualificada e o consequente subemprego e o baixo
salário.
A nossa
constante e repetida insistência (a reiteração é proposital) em favor da
leitura e da escrita está, em primeiro lugar, na ampliação do universo de
compreensão do mundo de cada indivíduo: quanto mais lê, mais a pessoa entende o
mundo em que se insere, as relações sociais, políticas, econômicas.
Uma das
minhas professoras de ensino médio (faz tempo!) aconselhava a escrever um texto
a mão (manuscrito) sobre determinado assunto, rasgar a folha e jogar fora.
Escrever um novo texto sobre o mesmo assunto, rasgar a folha e jogar fora.
Depois de umas dez tentativas, começar a burilar, qualificar, melhorar aquele
texto.
Na
faculdade de Letras, eu aprendi que um texto deve “dormir”, isto é, deve ser
escrito e “abandonado”, por alguns dias, ser retomado depois – já somos outros,
já conversamos com outras pessoas, já ouvimos informações sobre o assunto e,
principalmente, já pesquisamos sobre ele. Haverá um texto a ser melhorado.
Ler e entender com clareza um texto; ler e escrever, expressar os sentimentos, as emoções, as próprias ideias conseguindo ser entendido pelo interlocutor são prazeres indescritíveis, conseguimos “dialogar” com as experiências do outro e isso acresce na nossa condição humana, na nossa experiência humana.
Texto: Elaine dos Santos
É autora dos livros “Entre lágrimas e risos: as representações do melodrama no teatro mambembe”, adaptação de sua tese de doutorado, e “Coisas minhas Outras histórias”, coletânea de crônicas, lançada recentemente.
Possui participação em várias antologias, assim como já organizou outras antologias, entre elas “A Magia da escrita”, da Rio de Flores Editora.
É membro de academias literárias estaduais e nacionais, tendo sido agraciada com comendas e títulos de reconhecimento à sua produção literária e engajamento em prol da cultura.
Atualmente, dedica-se ao estudo e à atualização da História de sua cidade natal, Restinga Seca, situada no interior do Rio Grande do Sul.
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| Direção Geral Renato Galvão |


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