quinta-feira, 8 de agosto de 2024


O assunto é super atual: LIBERDADE! Trata-se de uma demanda vital! A liberdade, na prática, no dia-a-dia, é mais do que algo demandado; trata-se de exigência “sine qua non”, vital para o cotidiano de um povo. Em todo o mundo civilizado, considera-se a liberdade como prioridade de máxima importância. Os brasileiros nascidos nas tradições de Minas Gerais, são conhecidos por terem, na própria história, raízes cívicas plantadas sob o lema “Libertas quae sera tamen”, dístico proposto pelos inconfidentes, nos fins do século XVIII, cuja tradução é “Liberdade ainda que tardia”!

            Buscar e obter liberdade é caminhada árdua; muitos confundem-na com libertinagem. Em nome da sua defesa, alguns usurpam o poder, enquanto outros, praticando vandalismos, apelam a protestos com violência. Por meio da mais antiga forma de guerra suja, o terrorismo, há aqueles que apelam de forma extremada e impõem o silêncio. Via coerção, censuram às manifestações de pensamentos e ideias. Vão calando opositores, abafam a voz do povo, na forma injusta de mordaças intelectuais e psicológicas, criando o medo. Tornam perigoso o ato de opinar ou divergir, àqueles que desejam externam pensamentos. Para tanto, usando controles opressivos, juntamente com a cassação da liberdade de expressão do povo em geral, oferecem como punição a perda, pura e simples, da liberdade de opinar diferente daquilo que o poder do Estado autoriza. Como é bom viver, pensar e comunicar com liberdade! Talvez, mesmo que pareça incoerência, muitas vezes, para não perdermos nossos direitos fundamentais, hipocritamente, somos obrigados a conviver com opiniões autoritárias, contrárias, fingindo aceitar valores e princípios contrários aos nossos, convivendo descaradamente com a mentira, em lugar da verdade nua e crua.

            Talvez tenhamos ouvido falar sobre famoso quadro, “A verdade saindo do poço”, do pintor francês Jean-Léon Gérôme, 1896. Nele o artista reproduz a Parábola da Verdade e a Mentira. A mentira convida a verdade a banhar-se num poço. De forma matreira, ela sai do poço e foge, travestida de verdade, passa a circular pelo mundo, com ares de ser a realidade. Quando percebe estar sem as suas roupas, a verdade, nega sair de dentro da água; ela teme mostrar-se ao povo. A verdade, nua e crua, com receio de perder a própria liberdade, não consegue sair do poço, onde esconde sua vergonha nas águas. É por isso que, quando falta a liberdade ao povo, somos presas fáceis das mentiras travestidas com meias-verdades. E o pior, para complicar a situação, logo aparece a conivência, prima da falsidade, desafiando a todos, propalando: “Ninguém é dono da verdade!” Esquece, quando assim afirma, que não há liberdade relativa! Temendo perder a liberdade, acabamos nos tornando cúmplices da mentira, como acontece nas formas de Estados ditatoriais, atualmente chamadas de democracias relativas. Ainda bem que, em defesa da liberdade total, sempre irá surgir alguém que, arriscando a própria vida, bradará, seu protesto: “Liberdade, ainda que tarde!”

            Como é bom poder encher uma lauda em branco, com frases que bem representem opiniões livres, tomando por base apenas as puras inspirações de simples exercício dos pensamentos, porque chegam libertas. Não temem críticas; tampouco buscam, hipocritamente, elogios imerecidos ou concordâncias amedrontadas. São frases, muitas vezes ingênuas, apenas oferecendo-se a serem melhoradas, pela crítica, pura e simples, construtiva, que desejam, em tese, receber a vestimenta da verdade, com joias lapidadas, pelo buril das opiniões contrárias!


Portanto, com liberdade, ponho-me a escrever. Tento até fazer poesias, fico esperando alguma comunicação do Astral; vou desconstruindo estrofes e rimas. Realmente, não nasci com a veia poética! Pode até ser que eu tenha essa veia, mas está “véia”! Só consigo rimar lé com lé e cré com cré! Cada qual que fique com seu igual! Esse negócio de usar da liberdade poética, para justificar incorreções de linguagem ou, como outros dizem, “licença poética”, não faz meu gosto! Até entendo, quando justificada, a tal “licença” é permitida ao poeta. Porém, no meu caso, quando aparece no texto, creiam-me, deve ser mesmo por mero erro!     

            Minhas ideias chegam voando! Há momentos em que fico parecendo gente demente. Cobrindo tudo, envergonhado de verdade, lá dentro do poço das minhas ideias! Certamente, é lá no cérebro onde os vocábulos vão se esconder. Escurecem então as minhas ideias; vão tomando minha mente, sem cerimônia, vão entrando, se instalando e se posicionando. Nem pedem licença! Mal-educadas, por vezes mentem! Mentem que nem sentem! Não reclamo, afinal, aprendi que a mentira também é uma forma de liberdade na formação de um mau caráter!

            Vão entrando, assim, do nada! Como se diz..., cagando e andando! Percebo a palavra chegando! O que? De novo? Lá vem outra rima esdrúxula! Vão formando estrofes desconexas, sem cor ou brilho. Por vezes pornográficas. (Por isso mesmo, quase sempre, obscenas!)  Algumas parecendo velhas chanchadas de Ankito e Oscarito. Fazem-me rir, sinto cócegas, até chego a gargalhar! Algumas são boas, outras são patéticas..., nada poéticas! Fico esperando que, do astral, alguma boa nova ideia possa chegar. Tem algumas alegres! São poucas! Tem outras sorumbáticas! Vivemos dias estranhos! Está difícil rimar! Onde estão aquelas palavras bonitas, doces, perfumadas e poéticas de antigamente? Por vezes, percebo inspirações macabras! Então..., como versejar? Ponho música para ajudar. Tenta você rimar: “Eu desafinado, cantando, atrás da moita, ...?” (Assim não dá!) Deixa pra lá! Troco de música! No ritmo do funk, “Uma tapinha não dói, uma tapinha só não dói!” Fico na dúvida se é Funk, Fuck ou Fake!

Logo-logo, vem mais, das capciosas, não rimam bem como coisas preciosas! Quer ver? Não há rima para perdão do Xandão? (Oh! Rimas, assim não!) Então, vou parando sem rimar! Estou nervoso, acabo perdendo a paciência! Para não estourar o saco, cantarolo o samba da Imperatriz: “Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós...”, e sussurro em prece “...deixai Senhor, algumas páginas em branco, para a verdade, nua e crua, habitar livremente sobre nós!”


Texto: Rocha Maia
Ilustração: Jornal Rio de Flores

Luiz Roberto da Rocha Maia. Nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente, em Rio das Ostras. Em 2023, completa mais de cinquenta anos de atividade cultural. Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em Portugal, é Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais - Brasília /DF. Membro da Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro; e da Academia de Letras e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ. Participou de mais de duzentos eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal, França e Bulgária. Recebeu mais de setenta premiações e destaques em salões de artes plásticas. Citado em catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil e no exterior; bem como nos acervos do Museu Naïf de São José do Rio Preto/SP; MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do Château des Réaux; e do Museu Internacional de Arte Naïf de Vicq, na França. Seus quadros estão presentes também em pinacotecas de diversas entidades e coleções de aficionados por arte naïf no Brasil, Cuba, França, Itália, Espanha, Chile, Japão, Bolívia e Portugal. Por três vezes foi selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo recebido o prêmio aquisição 2006, em Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o catálogo “Ingenuidade Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro “O Diário de Lili Beth”, pela editora Videu – 2021; e colaborou com a Coluna Arte Animal, da revista digital Animal Business Brasil, escrevendo artigos versando sobre a presença de animais como tema nas belas artes. 

Edição e Direção Geral
Renato Galvão


 

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