Terra é pó, com água vira barro!
Acrescenta-se a isso as mãos do oleiro e..., com fogo? Tem-se o que? Caso essas
coisas aconteçam, com a intervenção das mãos do genial Sérgio Amaral, então tudo
vira arte! Nascem assim os Matarrachos!
Antes de falar sobre os tais dos
Matarrachos, quero esclarecer algo sobre ANTROPOMORFISMO! Antropomorfismo é uma
forma de atribuir ideias que conferem características ou aspectos dos seres
humanos aos animais, a entidades e elementos da natureza ou seres constituintes
do imaginário em geral. Por exemplo, nesse sentido, toda mitologia da antiga
Grécia, é antropomórfica.
Outra acepção de antropomorfismo
refere-se a dar característica humanas a bichos, insetos ou objeto inanimados
usado originalmente em contos morais, como as histórias de fadas e livros
infantis. Tem tido uma grande expansão, graças à criação dos desenhos animados,
ainda mais com o surgimento dos grandes estúdios, como os da Disney.
Voltamos, então, ao artista
plástico Sérgio Amaral.
Fomos apresentados ao ceramista lusitano que cria Matarrachos. Na ocasião ficamos muito curiosos, e, ao sermos convidados, fomos visitar o artista e o local onde trabalha!
Ficamos hospedados, num ambiente
encantador, como convidados Vips. O endereço parecia estranho: Rua das Cabeças,
Santa Luzia, Mangualde, Portugal. Ateliê Casa dos Matarrachos. Repetimos
visitas nos anos: 2009, 2010; 2011 e 2012.
Contando-se com um cicerone, tal como Sérgio Amaral sabe ser, é impossível não aproveitar a viagem da melhor forma possível. Sabe, aquele tipo de passeio que só se vê nos vídeos de reportagem turística da melhor oferta de roteiro cultural especializado? Foram assim aquelas viagens a Portugal! Conhecemos o ateliê de um dos mais renomados ceramistas lusitanos da atualidade. Sendo um profundo conhecedor dessa arte ancestral, para trabalhar o barro e o vidro, das maneiras mais primitivas, antigas e variadas que há na Terra, ele nos permitiu conhecer variados métodos e técnicas da produção da olaria. Além da simpatia pessoal, Amaral é um ser totalmente preparado para, didaticamente, apresentar aos visitantes as etapas de criação de sua arte.
Exatamente, ele é como dito na
entrevista que está na Internet: “Sérgio Amaral é um ceramista genuinamente
português, que tem vindo a conquistar um lugar único no contexto da cerâmica de
sua terra natal, cruzando, com as suas figuras antropomórficas – os matarrachos
– os campos da plástica popular e da estética contemporânea. Nascido em 1959,
em Mangualde, é ele que, por um certo acaso, contacta, na década de 1980, com a
produção de olarias de Molelos, onde se mantinha à época alguns processos de
fabrico primitivos. Passa a frequentar a oficina para aprender as técnicas de
produção, começando rapidamente a criar as suas próprias peças. O contacto com
o Mestre Zé Maria, de Ribolhos, será fundamental na sua decisão de se dedicar
exclusivamente ao figurado.”
(https://www.artepopularportuguesa.org/sergio-amaral/)
Desde então, com os matarrachos –
construídos através de técnicas distintas, que Sérgio Amaral faz questão de
continuamente pesquisar e aprender – tais peças constituem o centro da sua
produção. Nos últimos anos, ele tem se dedicado a tornar o seu ateliê, em
Mangualde, num espaço de partilha e aprendizagem, realizando cursos, workshops
e eventos em torno da atividade de olaria.
Como um mestre nessa arte tridimensional da modelagem do barro, Sérgio Amaral também é um profundo conhecedor das riquezas da arqueologia em Portugal. Revirando a terra, ele é uma espécie de arqueólogo, que, na terra cavada, encontra traços de civilizações muito antigas. Continua sempre cavando! Sempre cavando, amassando e misturando e queimando o barro. Muitas vezes, são simples vestígios; coisas de pouca importância aos olhos não treinados.
Talvez tenha sido exatamente por
essa razão, que fomos conhecer, pelas mãos dele, sítios arqueológicos
maravilhosos naquelas terras lusitanas. Por vezes, apenas pequenos sítios que
afloram no solo ou são escavados logo abaixo dos pés; são locais onde talvez
restem pedaços de ossos, alguns vestígios milenares de fogueiras ou de madeiras
chamuscadas carcomidas por insetos. Os achados são muito frágeis ao simples
toque; terminam danificados, outras vezes basta, para tanto dano, um simples
contato com o ar e a luz solar. Finalmente, sendo depurados aqueles vestígios,
alguns cacos de cerâmica emergem, revelando o estágio de civilização dos serem
humanos que fabricavam aqueles objetos utilitários domésticos. Em determinados
casos, pequenas figuras revelam, pela estatuária e pela pintura de relevos
pictóricos, as condições da religiosidade ou das práticas de caça e de guerra,
além de outros elementos cotidianos daqueles habitantes primitivos.
Foi com a orientação do amigo
Sérgio que pudemos conhecer, um pouco, da fenomenal riqueza arqueológica de
Portugal. Iniciamos visitando o monumento megalítico Anta da Cunha Baixa; fomos
ver vestígios de antiga estrada Romana; depois, o sítio arqueológico da Quinta
da Raposeira; e terminamos nas ruínas das Termas Romanas de Conímbriga.
Mas sempre voltamos a Mangualde,
onde o nosso cicerone nos acolheu diversas vezes. No aconchego do belíssimo
ateliê Casa dos Matarrachos, pudemos perceber o amor como Sérgio Amaral
empreende seu trabalho diário, para produzir aquela cerâmica fantástica, dentro
de fornos que ele próprio constrói, com a maestria das mais antigas tradições
da olaria, e operando com técnicas milenares. No ano de 2011, em Mangualde, o
Ateliê Casa dos Matarrachos, contando com o apoio das autoridades municipais e
presença de importantes artistas, ele patrocinou o lançamento do livro/catálogo
de arte naïf, Ingenuidade Consciente, autoria de Rocha Maia.

Na imagem, Rocha Maia, durante
lançamento do livro/catálogo- 2011, em Mangualde.
Nas oportunidades que tivemos de
conviver, com Sérgio Amaral, ainda que por apenas alguns dias, pudemos
testemunhar a importância e o carinho, com que ele exerce dignamente as suas
funções como artista e como educador, recebendo, anualmente, centenas de alunos
das escolas locais. Trata-se de atividade de grande relevância, para a formação
cultural de gerações futuras, promovendo, desde tenra idade, a oportunidade de
aprender a valorizar essa arte tão antiga de transformação do pó no barro,
queimado em altas temperaturas, resultando finalmente em arte.
Concluindo, por questão de
justiça ao grande artista, queremos acrescentar que a produção artística desse
mestre, da criatividade no barro, vai além da simples genialidade. Transforma-o num escultor contemporâneo e
excelente pintor.
Meu amigo Sérgio Amaral consegue
reunir qualidades humanas, muito importantes e atualmente raras: humildade,
fraternidade e fé!
Ilustração: Jornal Rio de Flores
Luiz Roberto da Rocha Maia. Nasceu no
Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente, em Rio das
Ostras. Em 2023, completa mais de cinquenta anos de atividade cultural.
Membro de diversas entidades culturais,
no Brasil e em Portugal, é Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais
- Brasília /DF. Membro da Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de
Janeiro; e da Academia de Letras e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ.
Participou de mais de duzentos eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal,
França e Bulgária. Recebeu mais de setenta premiações e destaques em salões de
artes plásticas.
Citado em catálogos e sites, possui
obras expostas em galerias no Brasil e no exterior; bem como nos acervos do
Museu Naïf de São José do Rio Preto/SP; MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do
Château des Réaux; e do Museu Internacional de Arte Naïf de Vicq, na França.
Seus quadros estão presentes também em pinacotecas de diversas entidades e
coleções de aficionados por arte naïf no Brasil, Cuba, França, Itália, Espanha,
Chile, Japão, Bolívia e Portugal.
Por três vezes foi selecionado para a
Bienal Naïfs do Brasil, tendo recebido o prêmio aquisição 2006, em
Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o catálogo “Ingenuidade Consciente”,
Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro “O Diário de Lili Beth”, pela
editora Videu – 2021; e colaborou com a Coluna Arte Animal, da revista digital
Animal Business Brasil, escrevendo artigos versando sobre a presença de animais
como tema nas belas artes.
Edição
e Direção Geral
|
Renato
Galvão |







Nenhum comentário:
Postar um comentário