![]() |
| Ilustração: Jornal Rio de Flores |
Essa
história me foi contada por um francês, de nome Alain Pierre D’Mensonges, que
conheci no Brasil, já faz um tempinho! Dizia ele: “Ubuntu”!
Fé na humanidade!
Segundo
Alain D’Mensonges, talvez esse seja o sentimento mais
importantes, que podemos perceber, quando visitamos Paris, uma verdadeira
metrópole, totalmente cosmopolita, especialmente, quando colocamos os pés na
pequena ilha circunscrita, “Île de la Cité”, cujos habitantes costumavam ser
denominados “parisiis”! Milhões de turistas visitam a Capital francesa,
todos os anos! Arte por todos os lados! Eles visitam tudo e pagam bem. Visitam
principalmente museus, como o do escultor Rodin, que em matéria de arte
tridimensional pode ser classificado como deslumbrante. Visitam igualmente maravilhosos
jardins, dois deles imperdíveis: Tuileries e Luxemburgo!
Alain D’Mensonges
recomendava, com seu sotaque inconfundível: - “Reservê mais tempô, durante su voyage,
para andar, au moins trois jours (no mínimo por três dias), no
Musée du Louvre!” Dizia ele, “andar”? Sim! São mais de 17 quilómetros de
galerias, com extraordinário acervo de pinturas e coleções belíssimas de
esculturas, porcelanas, joias, móveis, coisas de arqueologia etc. etc. Contudo,
o museu que mais recomendava, por ser extraordinário, era o Musée du quai Branly. Inaugurado em
2006, possui um rico acervo de mais
de trezentas mil peças de arte étnica da África, Ásia, América e Oceania, além
de oferecer excelentes suportes audiovisuais de informação direta aos
visitantes. Vale conferir!
Era assim
que Alain Pierre mais aconselhava: “Entretanto, vamos falar das ruas! Para quem
aprecia a arquitetura, Paris tem aspectos deslumbrantes! Nada de pegar taxi ou
metro. Vá, sempre que puder, caminhando, sem correrias de turistas afobados. Por
exemplo, torna-se impossível comentar sobre todas as obras de artistas
animalistas existentes nas praças, parques e adjacências dos museus da “Cidade
Luz”. Existe uma profusão de esculturas do gênero, verdadeiro museu “en
plein air”! Elas são belíssimas, mas podem passar despercebidas, em meio à
bela vegetação de jardins públicos planejados, e que, apesar dos milhões de
visitantes, são, inacreditavelmente, muito bem cuidados. Para passeios pelo rio
Sena, prefira os “bateaux” usados pelos populares da cidade; nada de
pegar aqueles imensos barcos para turismo. E por falar em passeio de barco, por
Paris, não deixem de visitar o
canal Saint-Martin.” E Alain completava assim: - “L’amour toujours l’amour!
Vá com boa companhia; convide a namorada ou o namorado! Conheça Parc de la
Villette! Superb!”
Mas, por pura curiosidade minha, perguntei ao amigo francês: “Alain,
além das questões históricas, o que teria propiciado a Paris tanta beleza e
arte?” Na opinião dele, houve um fator decisivo: - “Um fenômeno a destacar,
certamente, foram as magníficas exposições internacionais. Dentre as primeiras
dezessete feiras e exposições internacionais, de 1851 (Inglaterra) até 1901
(USA), onze foram montadas em países europeus, sendo cinco na França. Na
época, quase todos países europeus mantinham colônias, localizadas distantes,
sendo mais de vinte delas protetorados franceses.”
Historicamente, é fato conhecido, naquela época, prevalecia o velho
espírito colonialista, impondo o domínio pela força, nas terras conquistadas,
em todos os continentes. O neocolonialismo se apresentava dominador e cruel.
Durante as Feiras Mundiais, as grandes potências apelavam para representações
artísticas, com signos culturais imponentes, mostrando ao público visitante,
formado na maioria por europeu, aspectos caricatos do meio ambiente e
exoticidade da natureza, dos povos e culturas sob domínio das potências. Era a
forma de documentar costumes excêntricos, religiões esdrúxulas, flora e fauna
estranhas, diferentes de tudo aquilo que o cidadão europeu estava acostumado a
ver e considerava como civilização.
Além de apresentar grandes invenções e avanços tecnológicos da época,
havia igual interesse na confirmação do poder das grandes potências,
apresentando pequenas montagens de cenários, onde aspectos cotidianos da vida
nas colônias eram expostos aos olhos dos curiosos “civilizados”, tudo criado
por meio de encenações mambembes, quase “circenses”. Os belos pavilhões, cheios
de curiosidades trazidas do exterior, expunham a presença de seres humanos
primitivos, praticamente “enjaulados”. Nos estandes, em cercadinhos caricatos e
degradantes, reproduziam-se cenários e cotidiano de aborígenes, julgados
atrasados e inferiores aos olhos dos europeus.

Quadro: “Natureza Ingênua”, por Rocha Maia
Capturar,
transportar e manter vivos, aqueles animais ferozes, por certo, não seria
seguro. Esculpir, forjar em bronze e colocar nos pavilhões, estátuas dos
animais selvagens, era mais prático.
Feitas por animalistas, um tipo de artista plástico
especializado em esculturas que reproduzam formas dos animais. Elas marcam bem o início do realismo romântico na Europa. Muitas
foram encomendadas, visando ser apresentadas, com grande realismo e
dramaticidade, durante as Exposições Universais, despertando grande interesse
popular.
Só para exemplificar o espírito de supremacia que reinava naquela época,
basta citar a Tour Eiffel, em 1889, criada e erguida em Paris, para fazer parte
da Exposição Universal, comemorativa do centenário da Revolução Francesa.
Contudo,
o objetivo de Alain Pierre, era comentar sobre outro local, igualmente
fantástico para visitação nos dias de hoje, o Museu d’Orsay! Para isso, tornava-se
necessário focar sobre uma escultura, muito especial, denominada “Rhinocérus” (1877/1878), de autoria de Henri Marie Alfred
Jacquemart (1824-1896), na frente do Museu.
No mesmo local, podem ser vistas outras belíssimas peças
tridimensionais, disponíveis para visitação gratuita. Não havia, até
recentemente, marcas de depredação e tampouco pichações. Com o movimento
crescente e descontrolado de migrações, as ruas, avenidas e bulevares de Paris,
segundo a opinião de Alain D’Mensonges, “já não são
logradouros tão franceses como antes, estando o patrimônio artístico da cidade
submetido a riscos, e que poderá sofrer prejuízos e vandalização. Atualmente, Paris
paga alto preço por ser cidade cosmopolita!”
Assim ele contava: - “A estátua do “Rhinocérus”, desde 1878, tem
sido exposta em vários lugares da capital francesa. Foi submetida a inúmeras
situações de risco, que colocaram em xeque a sua integridade. Sobreviveu a
revoluções, duas grandes guerras mundiais, violência urbana, poluição e
intempéries; mesmo assim a obra quase não necessitou de restauração.”
Felizmente, parece que ainda segue exposta por lá, imponente, firme, às
margens do rio Sena, como representante digna e nobre da aviltada Mãe África,
eternamente presente à todas as exposições universais, como se estivesse a
dizer, ao mundo, uma velha mensagem contida na palavra do idioma Bantu: Fé na
humanidade, “Ubuntu”! "...a minha humanidade está inextricavelmente
ligada à sua humanidade".

Fotografia: por Rocha Maia – “Rhinocérus ”, Paris/2014
Conforme referenciava o Bispo Desmond Tutu, ubuntu significa "a minha humanidade está inextricavelmente ligada à sua humanidade".
Inextricavelmente: Origem etimológica: latim inextricabilis: de onde não se pode sair, inextricável, que não se pode arrancar, incurável.
Luiz Roberto da Rocha Maia. Nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente, em Rio das Ostras. Em 2023, completa mais de cinquenta anos de atividade cultural. Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em Portugal, é Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais - Brasília /DF. Membro da Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro; e da Academia de Letras e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ. Participou de mais de duzentos eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal, França e Bulgária. Recebeu mais de setenta premiações e destaques em salões de artes plásticas. Citado em catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil e no exterior; bem como nos acervos do Museu Naïf de São José do Rio Preto/SP; MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do Château des Réaux; e do Museu Internacional de Arte Naïf de Vicq, na França. Seus quadros estão presentes também em pinacotecas de diversas entidades e coleções de aficionados por arte naïf no Brasil, Cuba, França, Itália, Espanha, Chile, Japão, Bolívia e Portugal. Por três vezes foi selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo recebido o prêmio aquisição 2006, em Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o catálogo “Ingenuidade Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro “O Diário de Lili Beth”, pela editora Videu – 2021; e colaborou com a Coluna Arte Animal, da revista digital Animal Business Brasil, escrevendo artigos versando sobre a presença de animais como tema nas belas artes.
![]() |
| Edição e Direção Geral Renato Galvão |


Excelente trabalho cultural sobre a cadade de Paris e suas atrações culturais e sua beleza arquitetônica. Meus parabéns.
ResponderExcluirMuito obrigado por suas palavras de incentivo.
Excluir