sexta-feira, 31 de maio de 2024

 


Porque é que não me importo e prefiro ir buscar aquele vestido que já não usava há muito tempo ou vestir mais vezes o mesmo look ou com pequenas alterações? Porque vou à costureira fazer algumas alterações nas roupas que já tenho?

Por vários motivos, entre os quais a indústria da moda ter uma pegada ecológica brutalíssima a nível mundial. Os recursos naturais gastos como a água e degradação dos solos, em conjunto com a poluição dos químicos utilizados em larga escala na produção e a mão de obra barata e sujeita a enorme exploração, assim como as emissões de carbono relacionadas com o transporte são alguns dos muitos exemplos nefastos que se verificam.

Deixo o exemplo da produção de uma simples t-shirt de algodão. Sabia que são necessários quase 3.000 litros de água doce para o seu fabrico? Impressionante, não é? Estima-se que é a quantidade de água que uma pessoa bebe em mais de dois anos da sua vida.

Outro exemplo, o dos sintéticos, que aquando das lavagens largam milhares de microplásticos que acabam na nossa mesa, na nossa comida.

Cada vez me incomoda mais igualmente a enormíssima quantidade de roupa e acessórios de desgaste rápido, ou moda rápida, ou seja, do usa e deita fora ou põe para o lado, ocupando espaço no armário e diminuindo a nossa carteira.

A sustentabilidade ambiental e económica, o dar espaço ao espaço, as novas fibras e processos que vão surgindo, a reutilização e a compra e venda e de roupa em segunda mão são algumas das estratégias que já se começam a utilizar, mas ainda são residuais em termos de números.

Para terminar, deixo-vos as seguintes imagens para visualizarem e pensarem:

No outro dia encontrei uma jovem de 19 anos e disse-lhe “Estás tão gira, Leonor!”. Ela respondeu-me que as calças e top eram da mãe e da tia e que fez arranjos. Juntou um blazer e uns ténis que comprou em conjunto com a mãe (porque são caros e assim usam as duas). É uma jovem linda, dinâmica e cheia de estilo, um exemplo.

Outro caso é cá em casa, onde a minha filha e eu partilhamos roupa e ela foi procurar na casa da avó roupa de quando eu tinha a idade dela e encontrou peças que gosta e que vai adaptar a si. Não encontrou muito mais porque sempre dei e dou a maioria da roupa que não uso. Também vendo e dou o dinheiro aos meus filhos. São valores mais altos que estão aqui presentes, mais que trapos.

É claro que compro uma peça de vez em quando, mas pensada e não por impulso. E assumo sem problema que dantes comprava muito mais, mas já não o faço. Ainda fundamental que aquilo que compro tenha alguma qualidade e que sinta que vou utilizar bastante e por muito tempo ou para partilhar igualmente com a minha filha.

Neste mundo que consegue ser tão oco e consumista, repetir e reajustar roupa é um pequeno passo que se pode transformar em gigante na nossa evolução enquanto pessoas e sociedade, onde a responsabilidade e o respeito começam a acordar de um longo sono...

Texto: Susana Veiga Branco
Ilustração: Jornal Rio de Flores

Susana Veiga Branco. Santarém - Portugal. Mestre em Gestão de Organizações de Economia Social, licenciada em Jornalismo/Comunicação Social, formadora, owner e CEO de empresas na área de investimentos imobiliários. Escritora de prosa e poesia, cronista na imprensa escrita e rádio, autora de livros e e-books em Portugal e no Brasil, co-autora em 31 coletâneas de poesia e prosa portuguesas e internacionais, investigadora na área social e do património, com publicações académicas em jornais e no CIJVS-Centro de Investig. Professor Doutor J. Veríssimo Serrão, do qual é associada. Membro da APP-Associação Portuguesa de Poetas. Coordenadora de obras literárias e curadora de arte. Artista plástica com exposições individuais e coletivas e participações em encontros internacionais. Colabora no Jornal Rio de Flores - Brasil, com a coluna Contemporaneidade e estilos de vida e em Portugal é cronista em programas de rádios e participa no programa de poesia radiofónico Livro Aberto. 3 prémios internacionais.

Edição e Direção Geral
Renato Galvão



Um comentário:

  1. Susana, a sutil abordagem que seu artigo trata, a formo como aborda é um excelente alerta; além de ser muito necessária, como lição, aos consumistas desvairados desse nosso planeta! Obrigado por sua efetiva contribuição à luta pela preservação do meio ambiente.

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