Caros
leitores, vou logo avisando! O presente texto não é um tipo de homenagem;
tampouco um agradecimento! Talvez seja um reconhecimento de momentos marcantes,
cheios de saudade! Na verdade, quando digo “saudade”, revelo que estive
remexendo baús que escondem o passado; coisas guardadas com pouco cuidado! São
“situações” que homens, os da minha época, guardam desarrumadas, porém com
muito respeito e carinho. Creio eu, não sei se todos da minha geração guardaram
como eu tenho guardado, determinadas coisinhas másculas, escondidas dos
curiosos. Diferentemente dos homens mais jovens, desses que a modernidade de
gênero dos tempos de agora, em nada valorizam ser masculino! Os tempos são
outros! Então? Vou lhes poupar tempo! Se não lhes diz interesse saber sobre hábitos
masculinos do passado, então parem de ler já! Me desculpem, com licença, mas eu
vou continuar a escrever sobre um cotidiano que, segundo estou informado, já
está sendo extinto, juntamente com o mundo do velho e criticado machismo.
Antes
de evoluir minhas reminiscências, desejo lhes falar sobre o significado que a
palavra “machismo” tem no meu “dicionário” pessoal!
Machismo-Substantivo-masculino. 1. Atitude ou comportamento de quem aceita a
igualdade de direitos, para o homem e a mulher, desde que seja observada
conforme previsto nas leis naturais, e sendo contrário, pois, à masculinização
das mulheres e à feminilização dos homens. 2. Bras. Pop. Qualidade, ação ou
modos de “aparentar” (?) ser macho; macheza. 3. Valorização da mulher como
sendo a principal razão de existir o ser humano e a família.
Assim
sendo, para ser curto e grosso, vou encerrando as citações do meu “dicionário”,
acrescentando apenas algumas as seguintes observações: 1- Ser adepto do
machismo, no meu tempo, não excluía ninguém do alfabeto de gênero; 2-
entretanto e principalmente, não renunciava à existência daquela desejada
mulher, da canção de Zé Ramalho! Você lembra? Nova, bonita, e carinhosa, que
faz o homem gemer sem sentir dor?
Avanço
então no assunto! Vou para um ponto qualquer, perdido no tempo de minhas
memórias. Reviro bem fundo o baú das saudades. Quantas pequenas lembranças
estarão por lá? Vasculhei tudo! Encontro, logo de cara, uma pequena
recomendação de minha avó! Dizia ela, sussurrando: - “Homem nenhum presta!”.
Isso ela falava, reservadamente, no sentido de que nenhum homem é fiel! Anos
depois, já tendo eu vivido bastante, devo dizer: eu só posso concordar com a
opinião de vovó! Se você é homem, macho total ao não, me responda com
sinceridade, você já experimentou os efeitos da conhecida “idade do lobo”? Ok!
Alguém pode, “coisa-e-tal”, querer argumentar que as mulheres também passam
pela “idade da loba”! Não vem ao caso usarmos esse argumento ad hominem!
(Argumento para confundir adversários). Minha avó tinha razão! Ela repetia e
afirmava, com convicção – “Nenhum homem presta!”; e acrescentava falando-me
diretamente - “EXCETO..., VOCÊ MEU NETINHO!” E não é que a velhinha estava
CERTA!?!?
Continuo
então a revirar o mesmo baú e, do nada, encontro outro aspecto típico da
questão! Os homens não gostam de se sentir como são, realmente: vulneráveis e
frágeis! Não gostam, porque isso depõe contra a aparência do machão! Mas, são
sim, todos possuem esse lado fraco e pouco estável! Todo machão necessita de
aparentar ser fortão, não apenas daquele tipo facilmente encontrado nas
academias! Nós necessitamos, por exemplo, aparentar ser quem dá a primeira e a
última palavra, numa discussão em família! Sim, ele gosta, mesmo, só de
aparentar que manda alguma coisa. No fundo mesmo, na verdade, ele prefere
seguir as ordens da mulher, aquelas já anteriormente dadas, em casa! Isso, ele
faz desde menino! Éramos sempre obedientes à mãe ou à avó, que ditavam o comportamento
dos machos da família, principalmente quando estivessem na rua! Lembram, vocês
leitores mais antigos, quem costumava proferir, em casa, aquelas severas
“reprimendas”? Algumas, do tipo “Macho não chora!”; ou “Engrossa a voz garoto,
tá parecendo mulherzinha falando!”, ou “Garoto não usa roupa cor de rosa!”,
vocês lembram? Tinha uma que me deixava bastante abalado: - “Homem macho,
corajoso, tem de honrar o “pinto” que carrega entre as pernas!” Aquilo, dito
por elas, me deixava bastante encabulado, já que na pré-adolescência eu ainda
pensava que o “pinto” só servia para mijar. Pois é! Eram elas, as matriarcas,
que botavam na nossa mente, ainda guris, ideias machistas!
In-(felizmente),
descobri depois que o machão tem duas fases marcantes na vida, fases essas que
reforçam aquela “injusta” afirmação generalizada, quando vovó dizia: ... “...
nenhum presta!”.
Denominarei
as duas fases como sendo hormonais, assim: Primeira: Pubescência natural,
quando a testosterona no macho começa a dar sinais de que existe, fará efeitos
e abrirá as portas para a atração sexual. Segunda fase: Pubescência tardia,
quando o homem percebe que já não é mais aquele de algum tempo atrás! Então,
fragilizado, ele quer e deseja tentar uma derradeira aventura! Um desafio!
Normalmente, tal como os lobos, eles atacam em matilha.
A
letra da música “Idade do Lobo” revela o drama que, na idade madura do homem,
simplesmente acontece! O cantor Reginaldo Rossi interpretava, magistralmente:
“Pois eu já tenho a idade do lobo - E eu que jamais pensei ser bobo - Me perdi
por esse olhar tão inocente - Sem saber que em tua mente - Existe um monstro e
uma mulher”!
Não
vou desenvolver aqui um tratado de semântica, para melhor definir a opinião de
vovó! Vou apenas concordar com a sábia senhora! Somente, pretendo dizer que não
há o porquê de nos sentirmos culpados, por sermos machos, subordinados a algo
que é da natureza humana!
Foi
então que, tendo eu escutado a vovó, resolvi dar, igualmente, vez e voz ao
outro lado da moeda. Perguntei ao meu avô o que ele achava da opinião da esposa
dele. Imediatamente, o velhinho respondeu, sem pestanejar: “Sua avó tem toda a
razão, meu filho! Não há o que discutir!”

Tela de Rocha Maia
Meu
avô era um tipo faceiro, baixinho frajola, gostava de luxo, embora na aparência
fosse um simples trabalhador, honesto, desde rapazinho. Casou-se tarde, para a
sua época, aos 45 anos. Antes, viveu tudo o que lhe foi possível aproveitar da
boa vida de solteiro. Quase esqueceu que ainda tinha de se casar; e criar uma
família! Segundo sei, ele viveu alguns anos em Portugal. Não tendo encontrado
por lá uma moça, voltou ao Brasil, onde ainda aproveitou bastante a liberdade,
como solteirão cosmopolita. O Rio de Janeiro já era uma grande cidade, cheia de
vida noturna e de oportunidades de farras, cassinos, bares e cabarés,
frequentados por belas mulheres, muitas delas “importadas” da Europa. Havia um
idioma corrente nas noitadas; era uma espécie de francês esculachado. Por isso,
vovô contava suas histórias, fazendo referências aos “bas-fonds” e aos
“randevus” administrados pelas mais famosas “caftinas”, de nomes empolados à
moda Parisiense. Falava sobre “La Maison du Plaisir”, de madame Claude Lapluscher,
com uma certa intimidade, bastante própria a velhos clientes. Fiquei curioso de
saber detalhes de sua intimidade, afinal, certamente, ele tinha muita vivência
e dezenas de histórias para contar.
Tendo
encerrado o assunto, passei a explorar a sabedoria daquele baixinho, um
extraordinário vendedor de barbantes, pracista calejado, acostumado no trabalho
pesado, desde os 14 anos de idade. Aproveitei para pedir que ele me
confessasse, dentre as “Amelinhas” que conheceu na vida, qual a figura que
balançou mais seu coração. Ele foi muito sincero ao dizer – “Meu menino, guarde
bem essas minhas palavras!”; e mudando a entonação da voz, buscando dar maior
seriedade ao assunto, completou: “Amélia é a esposa! O nome, significa a mulher
ideal, trabalhadora, espontânea, divertida, sempre feliz. Companheira leal e
confiável, pronta para ouvir e oferecer conselhos. Carinhosa, gentil e educada,
criativa e inteligente; extremamente dedicada. Comprometida com o esposo e a
família. Ela é amigável e sabe se aproximar das pessoas. Corajosa, não teme
desafios nem mede esforços para vencer.” E completou o que dizia: - “Essa, é a
sua avó!”
Passados
alguns instantes, como se estivera procurando ver um sinal divino, vovô parou
de olhar para o céu! Fitando-me direto, exclamou: “Amelinhas? Quer saber? Eu as
tive muitas!” Estava ele, há pouco, tentando lembrar de nomes verdadeiros.
Entre elas, em meio a idas e vindas, lembrou-se daquela mais constante, a linda
Sandrinha. Lembrou-se; e comentou assim: - “O nome Sandra não tem representação
bíblica. Popularmente, significa mulher nova, de personalidade conquistadora,
sedutora, corpo atraente, e mente fascinante, que progride na vida fácil e tem
sorte. Obtém o sucesso, sem maior esforço, contando com a simpatia dos
poderosos.”
Com
dinheiro sobrando, ainda solteiro, meu avô era frequentador do Derby Club do
Rio de Janeiro, onde deixava suas economias nas apostas de patas de cavalos.
Quando a sorte lhe sorria, ganhava alguma bolada de dinheiro! Então, ele
resolvia gastar com belas “potrancas”! Sei que esse tipo de referência é
bastante machista, porém era assim que ele falava. Havia
“Casas-da-Luz-Vermelha” espalhadas por muitos bairros do Rio de Janeiro,
inclusive no centro antigo da cidade. Naqueles locais, muitas meninas de “vida-fácil”
encontravam refúgio profissional. Meu avô frequentava uma daquelas casas, a
mais chique! Perguntei a razão da preferência; e vovô afirmou que era a forma
mais segura de frequentar o meretrício, por ser menos arriscado contrair as
conhecidas doenças venéreas e a tuberculose, comuns na vida boêmia. A
prostituição, nos ambientes refinados, com público educado e influente, tinha a
tolerância da polícia. Assim, achava meu avô, o local facilitava a escolha das
acompanhantes “importadas”! Realmente, nem todas elas eram PO (Puro de Origem).
Algumas, vindas do Sul, mais branquelas, apelidadas de “polacas”, forçavam um
sotaque afrancesado, para valorização do “michê”!
Um
dia, durante encontro dos dois, Sandrinha falou-lhe ao ouvido, com voz doce;
deu-lhe uma cantada: -“Tu es mon rayon du soleil!”. Foi o suficiente
para desmontar o coração dele. Vale dizer que ele estava recém-casado com vovó.
Então, como encarar aquela trôpega paixão, fruto de simples aventuras de
noitadas nas casas de tolerância? Uma coisa típica da Idade do Lobo! Pediu à
Sandra algum tempo! Bastaria uma semaninha, para pensar na hipótese de aceitar
ser devorado, por aquela Mulher Loba! Fazer o que? O sangue, movido por pura
testosterona, fervia nas suas veias! Dito e feito! Sete dias depois ele voltou,
procurando por Sandrinha. Ela não mais lá estava! Comentaram, as outras, que a
“moça” se fora amancebada com um fazendeiro de Minas Gerais, sem deixar endereço.
Mesmo assim, ao sair, deixou um bilhete na mão da caftina: - “Para Sandrinha!
Não sei se é isso o que quero para minha vida...!”. Saiu calado! Humilhado!
Nunca mais voltou!
Foi
desse jeito simples, assim mesmo, como estou a lhes contar, que ele narrou o
caso! Pergunto então: “Realmente, homem nenhum presta?” Não sei se é isso!
Ilustração: Jornal Rio de Flores
Luiz Roberto da Rocha Maia. Nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente,
em Rio das Ostras. Em 2023, completa mais
de cinquenta anos de atividade cultural.
Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em Portugal, é Fundador da Associação Candanga de
Artistas Visuais - Brasília /DF. Membro da Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro;
e da Academia de Letras e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ. Participou de mais de duzentos eventos de
artes no Brasil, Cuba, Portugal, França e Bulgária. Recebeu mais de setenta premiações e destaques em
salões de artes plásticas.
Citado em catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil e no exterior; bem como nos
acervos do Museu Naïf de São José do Rio Preto/SP; MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do Château des
Réaux; e do Museu Internacional de Arte Naïf de Vicq, na França. Seus quadros estão presentes
também em pinacotecas de diversas entidades e coleções de aficionados por arte naïf no Brasil, Cuba,
França, Itália, Espanha, Chile, Japão, Bolívia e Portugal.
Por três vezes foi selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo recebido o prêmio aquisição 2006, em
Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o catálogo “Ingenuidade Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010;
o livro “O Diário de Lili Beth”, pela editora Videu – 2021; e colaborou com a Coluna Arte Animal, da revista
digital Animal Business Brasil, escrevendo artigos versando sobre a presença de animais como tema nas belas
artes.
Luiz


Não cheguei a conhecer a minha avó materna, mas a avó paterna dizia que homens prestavam, eram maravilhosos (tadinha!). Vi e cresci entre homens que não prestavam e ainda me metiam em suas enrascadas, eu virava namorada, noiva, esposa...depois, tinha que me explicar com os "meus interesses". A minha mãe, por sua vez, sempre ensinou: "Estuda, trabalhava, faz a tua independência, se 'aparecer' alguém que valha a pena, casa". O meu pai - irônico multiplicado por cem - dizia: "Essa guria nunca vai casar, quem aparece é assombração!" Não sei (ou sei, com folga de informações) os motivos que me fizeram não casa e não foram assombrações. Mas devo confessar que a história de que "só servia para mijar" me fez gargalhar. Texto maravilhoso! Lembrou-me, mas o seu texto é beeeem menos picante, João do Rio. Abraços,
ResponderExcluirElaine dos Santos.
Estimada Profa. ELIANE. Fico honrado com suas palavras no comentário. Mais ainda com sua atenção a detalhes como você destacou no meu texto. Muito obrigado. Abraços
ExcluirDesculpe Professora pelo erro de digitação do seu nome. Corrigindo: ELAINE. MUITO OBRIGADO pela comparação com João do Rio,
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