Cartas! Não pretendo
falar sobre aquelas cartas de baralho, tarô ou adivinhações ciganas. Refiro-me,
sim, às tradicionais missivas. Ao longo da história humana, foram sendo criados
e aperfeiçoados diversos meios de comunicação! Pinturas em cavernas são um bom
exemplo, como registros em formas gráficas, de mensagens que se destinavam a
preservar importantes lições de conhecimentos, destinados à caça ou às práticas
culturais e religiosas dos povos primitivos. Olhando aqueles desenhos rupestres,
fica a sensação de que, os seres que rabiscavam aquelas formas, tinham o
intuito de informar, com critérios de máxima veracidade possível, notícias
cotidianas, vitais para a sobrevivência dos grupos, caso se deparassem com
situações semelhantes àquelas diagramadas nas paredes de pedra. Não podemos
crer que existisse, naqueles tempos, algum imbecil que usasse daqueles
desenhos, para divulgar mentiras, “Fake News”, a serviço de interesses
mesquinhos ou de correntes ideológicas de esquerda, centro ou direita, como são
usadas nos nossos dias.
Não cremos, pura e
simplesmente, porque aqueles que “desenhavam” aquelas notícias, para informar
suas tribos, eram os mesmos que, no dia seguinte, iriam a campo caçar, conquistar
novos territórios ou, simplesmente, defender a boca da caverna contra
predadores. Cremos, sim, que isso deve ter acontecido, em algum momento mais ao
futuro, já distante daqueles tempos! Talvez tenham acontecido falsas
informações, quando surgiram interesses políticos, de domínios e poder dos
grandes impérios, que fizeram nascer disputas entre tribos; contendas que
indicavam caminhos e direções divergentes, a serem assumidas pelos subgrupos
tribais. Coisas que tornaram possível fazer surgir o fratricídio, descrito por
exemplo na passagem bíblica, quando narrado o episódio Caim e Abel.
Mas, vamos seguindo os
meandros da história humana, para podermos encontrar e entender melhor o
fenômeno ao qual quero fazer referência: cartas nunca mais!
Das cavernas aos papiros,
passando pelas formas de diversos grafismos, gravuras e ideogramas, encontrados
nos relevos de paredes graníticas de templos, tumbas etc., veremos as escritas cuneiformes
evoluírem, das tabuletas de barro até a prensa de Guttemberg, e chegarem às
formas de impressão modernas, com seus fantásticos recursos destinados à
produção de textos, com fotografias, digitalizados e transmitidos, em tempo
real, via mídia eletrônica.
A história também
identifica, pelos estudos de missivas, a importância do hábito de manuscrever,
simples bilhetes ou extensas mensagens. Tais estudos foram capazes de influir nos
destinos de muitas civilizações. Em determinados casos, a falta de um envio
tempestivo de alguma mensagem, ou o simples atraso na chegada ao destinatário, foi
suficiente para desviar o curso da história. Alguns desses casos dramáticos já
serviram como enredo, para emocionantes relatos de vidas, que foram transformados,
para o bem ou para o mal, no caso de uma correspondência ter sido extraviada ou
interrompida, em meio ao fluxo, entre o emissor e o destinatário. As
possibilidades dramáticas são muito ricas, para se explorar os imbróglios provenientes
de tão pequeno fenômeno, capaz de causar transtornos inimagináveis, como o é de
fato a não chegada tempestiva de uma resposta, ardorosamente aguardada. Fico
imaginando, como seria a nossa história atual, caso D. Pedro I não tivesse sido encontrado, às
margens do Ipiranga? Como seria o nosso Brasil, se o mensageiro real, que
portava a célebre carta, enviada pela Imperatriz Da. Leopoldina, não tivesse
chegado a São Paulo? Como, quando e onde teria então sido bradado o histórico Grito
da Independência?
Perdemos a noção do que
se passava nos ânimos das pessoas que, por uma simples e pequena travessura do
destino, deixavam de saber, por exemplo, qual seria a resposta a uma cartinha, na
qual, após algumas mal traçadas linhas, cheias de súplicas e declarações,
alguém findasse por indagar assim, num português cheio de erros: _” ..., meu
amor! Ocê qué casá cumigo?”
Culturalmente, o hábito
de enviar ou receber cartas era tão forte que se tornou comum existirem “escribas”
populares, sentados em caixotes e mesas improvisadas, nas estações de comboios
e rodoviárias, dedicados a prestar serviço remunerado, para a redação de cartas
que, os menos letrados, faziam questão de enviar aos parentes no interior,
dando notícias da Capital.
Infelizmente, com a
evolução tecnológica, aqueles pequenos gestos, estão em extinção! Não se vê
mais alguém, cheio de coragem, pegar uma caneta tinteiro, uma folha de papel em
branco, caprichando nas letras, com máximo rigor estético na caligrafia, apenas
para declara seu amor! Foi-se o tempo que alguém se punha a deitar, nas linhas
e entrelinhas, algumas vezes com respingos de saudosas lágrimas, aquelas
palavras e frases que, com muita emoção, o momento permitia, solenemente
escrever nas cartinhas apaixonadas, de compromissos, apenas para dizer, ao
final _” ... meu amor! Você quer casar comigo?”
Os tempos agora são
outros! Ouvimos falar de e-mail, ouvimos também dizer sobre mídia social, face
book, Instagram etc., mas nada se compara ao velho e antigo hábito de escrever
uma cartinha. No passado, as missivas eram instrumentos poderosos de comunicação
em vários assuntos. No campo da política e da religião, famosos missivistas
legaram grandes acervos de arquivos secretos, de incalculável valor estratégico
e tático, na formulação de pensamentos, para doutrinação e sacralidade. No meio
empresarial, as cartas eram instrumentos de reconhecido e imenso valor
comercial, para sucesso ou fracasso, nos empreendimentos, na medida em que os
textos se tornavam capazes de estimular o consumo dos clientes. Não vou,
tampouco, tratar aqui da importância das cartas, como instrumentos declaratórios,
ou de contratação e acordos de guerras e celebração da paz! Não pretendo destacar
a importância inconteste de instituições profissionais dedicadas ao fluxo postal,
especialmente enaltecendo a imagem dos carteiros! Certamente, todos sabem
disso! Mas, para finalizar essa pequena ementa, vou fazer referência ao
derradeiro marco da existência dessas formas antigas de comunicação civilizada.
Ao escolher o título para meu texto, pretendia que fosse alguma coisa bastante
significativa do final de uma era, embora triste! Por isso: “Cartas nunca
mais!”.
A inteligência dos robôs,
tão em moda, certamente irá suprir o mundo com belos textos, porém serão
artificiais; frios, em nada capazes de emocionar corações, como se emocionaram aqueles
dos antigos missivistas apaixonados. Por certo, muitas lagrimas foram vertidas naqueles
tempos! Lágrimas de alegria ou de tristeza, de sofrimento ou de louvor, mas
eram lágrimas humanas! Numa sociedade em
que certas palavras chaves perderam o sentido, escrever ou ler, menos ainda
responder, cartinhas de amor, poderá emocionar seres nada entusiasmados! O entusiasmo,
originalmente, tinha o significado de inspiração profunda da entidade divina, a
presença de Deus em nós. Como emocionar pessoas de hoje, ditas apenas como “ficantes”?
Esses tipos de gente que, simplesmente, aventuram-se em relações pecaminosas,
não consentidas, com penetrações, beijos e carícias estupradoras, que pouco ou
nada garantem a existências de proles desejadas? Escrever uma carta..., por
quê? Para quem? Quando? Só Deus poderá saber!
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| Edição e Direção Geral Renato Galvão |



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