Este texto é mera reflexão sobre um boato disseminado em redes sociais e programas de fofocas. Pareceu-me importante refletir sobre a questão porque recupera um romance de Leon Tolstói , um autor que raramente aparece nas discussões populares e traz à cena um tema caro à Literatura (e não somente à Literatura): epifania.
Dois esclarecimentos iniciais
são necessários. O primeiro deles é que a autora deste texto é fiel seguidora
de Brás Cubas,
o personagem de Machado de Assis, que afirma: “Não tive filhos, não transmiti a
nenhuma criatura o legado da miséria humana”. Declaro, com isso, que não me casei,
não fui arrebatada por nenhum grande amor (nem mesmo por um amor “a contos de
réis”), não tive filhos e sou, como todo professor de Literatura, bastante
céptica a essa história de “ser feliz para sempre”.
O segundo ponto a ser
esclarecido é o termo epifania (em tese, todos deveriam saber que, no romance
“A hora da estrela”,
de Clarice Lispector, a protagonista tem uma epifania e o assunto estaria
liquidado, mas...). De modo geral, epifania é a aparição ou a manifestação de algo associado ao divino, ao transcendente.
A epifania ainda pode ser entendida como um pensamento iluminado, uma espécie
de inspiração divinal, que surge em um momento de impasse, complexo e que,
finalmente, soluciona uma dúvida, uma frustração, uma angústia profunda.
Ponderações feitas, retomemos o
assunto que enseja o presente texto. Cresceu surpreendentemente a venda do livro "A morte de Ivan Ilitch" ,
de Leon Tolstói, um dos grandes nomes da literatura universal, que foi
publicado em 1886.
Sabe por quê? Lucas Lima costuma
recomendar leituras de livros consagrados em seu perfil no Instagram,
descobriram que ele andou sugerindo a leitura do livro de Tolstói e usou a
seguinte legenda: "Baita reflexão sobre a vida, sobre escolhas e os porquês
destas". Pois é, Lucas Lima e Sandy anunciaram a separação, contrariando o bordão do Romantismo: "Casaram-se e
foram felizes para sempre".
O romance de Tolstói começa pelo
fim: A morte de Ilitch é anunciada.
Funcionário público, meia idade,
aparentemente bem-sucedido, ele foi vítima de uma doença grave e terminal
(pelas características descritas, segundo os estudiosos da obra de Tolstói, seria
um câncer de intestino).
Homem de classe média, obcecado
pelo sucesso social, pelo status, pela segurança financeira, pelo trabalho, a
progressão da doença e a aproximação da morte fazem com que Ilitch comece a
questionar:
a) o sentido da vida;
b) o valor dos prazeres mundanos (riqueza, poder
e tudo que o dinheiro possa comprar);
c) a ausência de reflexão sobre as questões
mais pessoais/espirituais.
Eis que
a epifania acontece. Ilitch entende que a verdadeira felicidade e o significado
da vida não podem ser encontrados nas conquistas materiais ou no prestígio
social. Ele demonstra-se arrependido de não ter vivido aquilo que considera uma
vida autêntica, que fosse baseada no amor, na compaixão e na busca de um
propósito mais elevado.
Qualquer
professor de Literatura (e, provavelmente, Filosofia, Teologia, entre outras
áreas do conhecimento) conhece essa epifania, essa descoberta - é aquilo que eu
sempre refiro como "cartas trocadas com o passado", o nosso
aprendizado que é feito com prosadores, poetas, historiadores que deixaram os
seus escritos: ao fim e ao cabo, a existência humana só tem sentido: no amor
(ao todo, à humanidade); na compaixão; em um propósito mais elevado (colocar a
vida a serviço despretensioso em favor do próximo mais vulnerável, como
crianças, idosos, pessoas enfermas, por exemplo).
Sim, e Lucas Lima? A sua postagem traz a
frase: "Baita reflexão sobre a
vida, sobre escolhas e os porquês destas". É possível entender/depreender
pela leitura e interpretação do trecho que “escolhas” é a base da sua escrita,
na palavra escolha, propriamente dita, e em “destas”, que remete a escolhas.
Talvez (e isso é mera elucubração das redes sociais e dos canais de fofoca),
Lucas Lima tenha tido uma epifania sobre as escolhas que tem feito. Talvez!
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| Edição e Direção Geral Renato Galvão |


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