Vi recentemente um grupo de palhaços com jaleco branco, em
visita ao hospital. Eram os chamados doutores da alegria. Lembrei de minha
filha internada, tinha retirado as amídalas. Tinha na época sete anos.
Quando acordou da anestesia, estava na sala de
recuperação. Assustou-se por estar só. Deu um grito que meu esposo, meu filho e
eu nos assustamos e estávamos no corredor diante do centro cirúrgico. Tamanho
foi o berreiro que mandaram uma enfermeira me buscar. Eu assustada já pensei
que tivesse alguma coisa errada, tremia tanto que minhas pernas nem obedeciam.
A enfermeira me acalmou. — Sua filha está bem.
Mas só
consegui me acalmar quando a vi sentada na cama chorando. Me disse que havia
esquecido que era um hospital, pensou que havia morrido. A peguei no colo e
levei para os braços do pai. Ele sorrindo brincou com ela, mas continuava de
cara feia. Veio outra enfermeira informar que o quarto já estava disponível, e
a menina resistindo e querendo ir embora. O médico já havia informado que seria
apenas um repouso, e se não houvesse problemas daria alta em seguida. Subimos
ao terceiro andar, enfermaria infantil. Ao sair do elevador encontramos três
doutores da alegria. Minha menina quase correu da cadeira de rodas. Eles
acenaram para ela e sorriram, entrando em um quarto ao lado.
Chegou uma refeição, sopinha de hospital. Fez cara feia e disse que não ia comer, queria sorvete. O irmão com fome não pensou duas vezes, limpou o prato de sopa, a gelatina e o suco. Ao terminar disse que também queria sorvete. O pai saiu e foi comprar os sorvetes.
Insisti para que ela tomasse ao menos água. E ela só quiz ajuda para ir ao banheiro. Quando retornou antes mesmo de chegar à cama, entraram os três doutores da alegria. Meus filhos nunca gostaram de palhaços, não sei o motivo, mas quando entraram falando alto e fazendo umas piadinhas sem graça, até eu fiquei chateada.
Tentaram
ajudá-la a subir na cama. Minha filha quase os enxotou. Mas para meu alívio
entrou uma enfermeira com medicação, e em seguida meu esposo com um pote de
sorvete e casquinhas.
Os três doutores claramente chateados, ainda
tentaram brincar com a paciente impaciente. Mas diante das malcriações se
desculparam e saíram. A enfermeira e meu esposo que estavam calados até o
momento, se entreolharam e começaram a rir alto, não conseguindo parar.
O clima
melhorou de repente, se tornou leve, até o sol que ainda não tinha aparecido
entrou pela janela. A menina irritadiça também começou a rir. Ainda reclamando porque
a garganta doía quando ria. E logo esqueceu o ocorrido. Se empanturrou de
sorvete e dormiu, nem viu quando o médico passou e deu a alta.
Que
me perdoem os doutores da alegria, que prestam um serviço de amor aos pacientes
nos hospitais, mas aqueles três teriam que se reciclar, pois até mesmo eu,
fiquei com medo de palhaços.


Eu amo palhaços. O meu pai, desde que eu era muito pequena, sempre me levou a circos e teatros (A minha mãe já dizia que poderiam faltas os palhaços no circo, mas meu pai e eu estaríamos presentes). No entanto, dou razão para a sua filha. Quando fiz a cirurgia de vesícula, já com mais de 50 anos, eu brincava com médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem que eu queria receber anestesia na hora da internação e que a sedação permancesse até a alta hospitalar. Odeio, abomino, tenho ojeriza de hospitais. Imagine uma menina de sete anos, acordar sozinha numa sala de recuperação (quando acordei, a enfermeira chefe da sala de recuperação estava ao meu lado), certamente com dor, desconforto. Diria que não era o momento adequado, mas acredito que, no quarto seguinte, eles podem ter sido felizes (ou não). De tudo, ficam a lição e as boas risadas. Aliás, eu ri sozinha aqui.
ResponderExcluirConheço um poeta, que entre outras funções se faz de palhaço e alegra pessoas no hospital,ter medo é natural, mas eles também arrancam muito sorrisos quando fazem visita a crianças no hospital de câncer , parabéns pela matéria e obrigada por dividir com a gente a experiência em família 🩷🌹🌻🌷
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