quinta-feira, 7 de setembro de 2023

 

Vi recentemente um grupo de palhaços com jaleco branco, em visita ao hospital. Eram os chamados doutores da alegria. Lembrei de minha filha internada, tinha retirado as amídalas. Tinha na época sete anos.

Quando acordou da anestesia, estava na sala de recuperação. Assustou-se por estar só. Deu um grito que meu esposo, meu filho e eu nos assustamos e estávamos no corredor diante do centro cirúrgico. Tamanho foi o berreiro que mandaram uma enfermeira me buscar. Eu assustada já pensei que tivesse alguma coisa errada, tremia tanto que minhas pernas nem obedeciam.

A enfermeira me acalmou. — Sua filha está bem.

Mas só consegui me acalmar quando a vi sentada na cama chorando. Me disse que havia esquecido que era um hospital, pensou que havia morrido. A peguei no colo e levei para os braços do pai. Ele sorrindo brincou com ela, mas continuava de cara feia. Veio outra enfermeira informar que o quarto já estava disponível, e a menina resistindo e querendo ir embora. O médico já havia informado que seria apenas um repouso, e se não houvesse problemas daria alta em seguida. Subimos ao terceiro andar, enfermaria infantil. Ao sair do elevador encontramos três doutores da alegria. Minha menina quase correu da cadeira de rodas. Eles acenaram para ela e sorriram, entrando em um quarto ao lado.

Chegou uma refeição, sopinha de hospital. Fez cara feia e disse que não ia comer, queria sorvete. O irmão com fome não pensou duas vezes, limpou o prato de sopa, a gelatina e o suco. Ao terminar disse que também queria sorvete. O pai saiu e foi comprar os sorvetes.

Insisti para que ela tomasse ao menos água. E ela só quiz ajuda para ir ao banheiro. Quando retornou antes mesmo de chegar à cama, entraram os três doutores da alegria. Meus filhos nunca gostaram de palhaços, não sei o motivo, mas quando entraram falando alto e fazendo umas piadinhas sem graça, até eu fiquei chateada.

Tentaram ajudá-la a subir na cama. Minha filha quase os enxotou. Mas para meu alívio entrou uma enfermeira com medicação, e em seguida meu esposo com um pote de sorvete e casquinhas.

Os três doutores claramente chateados, ainda tentaram brincar com a paciente impaciente. Mas diante das malcriações se desculparam e saíram. A enfermeira e meu esposo que estavam calados até o momento, se entreolharam e começaram a rir alto, não conseguindo parar.

O clima melhorou de repente, se tornou leve, até o sol que ainda não tinha aparecido entrou pela janela. A menina irritadiça também começou a rir. Ainda reclamando porque a garganta doía quando ria. E logo esqueceu o ocorrido. Se empanturrou de sorvete e dormiu, nem viu quando o médico passou e deu a alta.

Que me perdoem os doutores da alegria, que prestam um serviço de amor aos pacientes nos hospitais, mas aqueles três teriam que se reciclar, pois até mesmo eu, fiquei com medo de palhaços.

Texto: Ivete Rosa de Souza
Edição e Ilustração: Jornal Rio de Flores

Ivete Rosa de SouzaNascida em Santo André, no ano de 1955, canceriana apaixonada por histórias. Adora poesia, crônicas e contos. Tem muitas histórias na cabeça, e a poesia que adorna os dias veio para ficar. Dois livros de poesia publicados: Coração Adormecido e Ainda dá Tempo. E em 2022. Participações em 40 Antologias físicas e mais de 10 ebooks. Vou aonde me levar a poesia. Nascida em Santo André, no ano de 1955, canceriana apaixonada por histórias. Adora poesia, crônicas e contos. Tem muitas histórias na cabeça, e a poesia que adorna os dias veio para ficar. Dois livros de poesia publicados: Coração Adormecido e Ainda dá Tempo. E em 2022. Participações em 40 Antologias físicas e mais de 10 ebooks. Vou aonde me levar a poesia.

Edição e Direção Geral
Renato Galvão


2 comentários:

  1. Eu amo palhaços. O meu pai, desde que eu era muito pequena, sempre me levou a circos e teatros (A minha mãe já dizia que poderiam faltas os palhaços no circo, mas meu pai e eu estaríamos presentes). No entanto, dou razão para a sua filha. Quando fiz a cirurgia de vesícula, já com mais de 50 anos, eu brincava com médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem que eu queria receber anestesia na hora da internação e que a sedação permancesse até a alta hospitalar. Odeio, abomino, tenho ojeriza de hospitais. Imagine uma menina de sete anos, acordar sozinha numa sala de recuperação (quando acordei, a enfermeira chefe da sala de recuperação estava ao meu lado), certamente com dor, desconforto. Diria que não era o momento adequado, mas acredito que, no quarto seguinte, eles podem ter sido felizes (ou não). De tudo, ficam a lição e as boas risadas. Aliás, eu ri sozinha aqui.

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  2. Conheço um poeta, que entre outras funções se faz de palhaço e alegra pessoas no hospital,ter medo é natural, mas eles também arrancam muito sorrisos quando fazem visita a crianças no hospital de câncer , parabéns pela matéria e obrigada por dividir com a gente a experiência em família 🩷🌹🌻🌷

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