domingo, 14 de maio de 2023



Quando criança, malcriada e pirracenta, ouvia da minha mãe e avó materna: Menina um dia você vai ser mãe, e vai ver o que é bom para tosse. 
Eu, simplesmente ria. Que história é essa de bom para a tosse?

Continuava a brincar, mas sempre me encafifava essa frase: Vai ver o que é bom para tosse. Cresci mudei, e a tal frase não esqueci. Durante nove anos de casada, nada de filhos, não por falta de tentativa, rsrsrsrsrs. Não veio, não vingou, ou não era a hora certa, segundo minha mãe.

Nós nos acostumamos a ser dois, viajávamos, tínhamos liberdade, e os cães, sempre nos acompanhavam. Até que um dia, bummmm, surpresa aconteceu. Meu marido ficou doidão. Não podia ver artigos infantis em lojas que comprava. Não tinha nem quatro meses de gestação, o quartinho estava montado, roupas que talvez o bebê nunca usasse, fraldas em estoque, brinquedos. Meu esposo militar chegou a comprar pequenas armas para o menino, porque era menino, mesmo antes de saber o resultado do ultrassom. Essas pequenas armas doei, ele nem percebeu.

A gestação foi tranquila, me afastei só na licença maternidade, e o rapazinho chegou calmamente. Muito chorão a princípio, mas depois de descobrirmos a causa do choro, ficou calminho.

Uma coisa eu preciso dizer, sou mãe, e entendi a frase: O que é bom para tosse. Um mundo inteiro cabe aí. Eu entendi o que é ficar preocupada com um filho, se levantar de madrugada para ver se está respirando. Chorar escondida com medo de não ser uma mãe cuidadosa.

Esquecer um pouco da autoestima, porque não dava tempo de fazer tudo ao mesmo tempo. Amar mais que a si mesma um ser tão pequenino, e que não sabe como você é ou como ele vai ser. Chorar no primeiro dia de aula, ele todo empolgado e a mãe enciumada.

Deixar ir às festas, sair com amigos, e com a namorada. E enfim acompanhá-lo ao altar, vê-lo sair de baixo da sua asa. Sua cria agora, vai ter a própria vida, quem sabe serei avó. E já estou com medo, e a bendita frase que nos acompanhou da infância até a vida adulta, voltou.

Texto: Rosa dos Ventos
Ilustrações: Jornal Rio de Flores 

Ivete Rosa de Souza (Rosa dos Ventos), nasceu em Santo André, São Paulo no ano de 1955. Assídua leitora desde criança, apaixonada por poesia. Foi policial por mais de vinte anos, viu os dois lados do ser humano, mas não deixou de sentir e escrever poesias. Com dois livros publicados e participação em mais de trinta antologias, tanto físicas como digitais. Escreve contos, crônicas, além de poemas. Acredita que escrever é uma libertação. Colunista do Jornal Rio de Flores e Jornal Rol da Internet.

Edição e Direção Geral:
Renato Galvão













2 comentários:

  1. Esxxxxpetacular esse seu texto! Adorei. Magnífica abordagem sobre essa experiência, que a nós homens é negada! Embora negada, pude perceber na qualidade de parceiro, por três vezes. Todas elas, as mães, passaram por momentos como esses que você descreveu. Parabéns!

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