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| Figura 1 - Ilustração Jornal Rio de Flores |
Tudo é motivo para mimimi, cheio de nhenhenhém! Ao invés de avançar para uma pacificação buscando convergências de opiniões, o mundo se degrada e se divide, com uma maior separação das coisas e das pessoas.
Não estou preocupado se alguém vai me “carimbar” como retrógrado,
tradicionalista, negacionista ou lá o que queiram falar, por opiniões
apresentadas ou omitidas! A coisa está ficando tão complicada, que, mesmo se
você ficar calado, daquele jeitinho de quem não quer arranjar briga (pronto!),
logo aparece quem queira saber o motivo de você não ter se posicionado a favor
ou contra.
“Ficou inseguro... (?) ou está em cima do muro?”
Pertenço ao mundo dos “poetas anarquistas dos pinceis”! Minha pintura
é arte da espontaneidade, da liberdade e do autodidatismo, autêntico e
consciente!
Nós, os naïf, não perdemos meios-termos, nem detalhes importantes de
conjuntos. Há muitas gradações de cores e interfaces, imperdíveis, entre aquilo
que se pretenda unir ou distanciar numa tela. Todos nós, como seres humanos,
estamos perdendo, nesse louco mundo dicotômico. Minhas pinceladas conseguem
misturar óleo e água, na mesma tela. Acredita? Não conflitamos, mas
harmonizamos, não disputamos, mas unimos o todo de tudo!
A visão globalista ou as especializações das ciências estão matando o
espírito holístico! A holística, palavra de origem grega
“holo”, dá significado a algo completo, inteiro. É um conceito que valoriza a
totalidade das coisas, onde tudo está interligado. Trata-se de oferecer uma
nova visão de mundo e de universo. (É um conceito criado, em 1926, na obra
“Holismo e Evolução” de Jan Christiaan Smuts).
Em Brasília, desde 1986, existe uma instituição denominada Universidade Holística Internacional da Paz.
Recomendo a busca de mais informações sobre o assunto.
Fantástico!
Foi por perceber derrota nessa forma crítica de discriminação,
de preto ou branco, de guerra ou paz, de vencedor ou derrotado, de mulher ou
homem, que resolvi narrar, a história do “Mário no Armário”, usando pinceladas.
O quadrinho é uma narrativa que faz referência ao cotidiano de um Bar. Ninguém sabe
ao certo onde ficava. Talvez fosse aquele da Rua das Meninas Comportadas ...! Conhece?
Tinha até nome engraçado: BARBINHA! Era assim, meio na galhofa, que as pessoas
costumavam chamar o lugar: “Bar-das-menina-comportadas!”
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| Figura 2 - Tela: "Rua das Meninas Comportadas”! por Rocha Maia |
Ainda muito moço, 18 anos no máximo, foi trabalhar no emprego de garçom, naquele bar frequentado por “mocinhas” do lugar. Delas, o jovem logo se tornou muito amigo, talvez por ser bom profissional. Bem-quisto, era respeitado igualmente por todos os frequentadores do boteco. Discreto, sabia guardar segredos!
Vou lhes contar o pouco que sei sobre o rapaz!
Criado num lar humilde, mas com amor e respeito dos pais, religiosos e
respeitadores das leis, o rapaz tinha o sonho de ser médico. Por vontade dele,
teria procurado um emprego melhor, contudo foi o que conseguiu, e deu graças a
Deus! Afinal, poderia ser uma joça pior!
Deram a ele um apelido
curioso e engraçado: Mario-BarBinha!
O bar ficava num
prédio apertadinho, no número 25, da rua velha, ao lado do Armazém do Zé Galego,
que era aquele tipo de venda do ramo de secos e molhados. Do outro lado da rua,
bem na frente, era o velho casarão n°-24, que pertencia a um amigão do Mário,
como maldosos comentavam, um “paneleiro”! Foi daquele amigão, justamente, que
veio a recomendação do nome do jovem, para ocupar a vaga de garçom. A rua de
fato, cujo nome não me recordo, era uma verdadeira ladeirinha. Bem suave; quem
subia por ela, lá no final, encontrava uma bifurcação: para a direita, seguia até
a prefeitura da cidade; para a esquerda, terminava no portão do cemitério.
O
povo, malicioso, costumava dizer que, lá no alto, naquela esquina, todos os
mortais chegavam ao momento da grande decisão na vida. Quem alcançava, aquele ponto,
teria que tomar “importante” deliberação! Os que desejassem virar para a
direita, seguiam a vida buscando a “glória” dos políticos. Engraçado notar uma
coisa! Já naquela época, o povo entendia a palavra “político” com a conotação negativa,
como coisa de má fama, desonestidade e corrupção; entretanto, quem desejasse
virar à esquerda, era porque tinha chegado ao final da vida! Coisa de “arrepiar”(!),
diziam aqueles que se aventuraram pela ruela da esquerda. Diziam que, logo à
frente, aparecia o portão grande, com a frase no frontispício: “Sic transit
gloria mundi” ..., transitória é a glória no mundo!
Poderiam
optar, ainda, por não virar para lado nenhum! Equivaleria então a sentar-se na
sarjeta, onde os indecisos poderiam ficar vendo a vida passar! Comentavam
ainda: “Bobagem! Podiam tomar outra decisão!” A melhor decisão, na opinião de
alguns engraçadinhos, era ficar no BarBinha, tomando umas e outras, até não
conseguir mais subir a ladeirinha. Assim, devidamente “abastecido”, só restaria
descer tropegando, retornando ao lugar de onde tinha vindo! Portanto..., voltar
para casa?
Exatamente
por isso, para ajudar alguns a tomarem tão “difícil” decisão, é que existia o
Bar, com aquelas “meninas comportadas”. Entre um gole e outro, ofereciam aos
clientes, já meio bebuns, a possibilidade de fazer aquele “programa”
descontraído! Sabe como é...?
O
Mário, que era o garçom, atendia as mesas e anotava o consumo. Normalmente,
nesses lugares, um homem parrudo dá garantia ao movimento pacífico da casa; são
chamados de “Leão de Chácara”! Como o boteco BarBinha era um estabelecimento
pequeno, não comportava ter um “leão” solto no salão. Sobrava para o Mário, de
“última forma” e quando necessário, a função de acalmar as coisas e aparar os
excessos de alguns clientes. Mário estava longe de ter um físico musculoso ou uma
carranca agressiva. As “moças” o chamavam, carinhosamente, por “Gatinho”!
Acontece
que o Mário, muito discreto, tinha um lado escondido no “armário”, de onde não
gostava de sair por inteiro; questão de preferência, por segurança e conforto.
Era o tal do livre-arbítrio! De certa forma, posto que, em casa, a mãe aceitava,
mas o pai não admitia falta de filho homem, então ele equilibrava a questão no
armário. Dentro do guarda-roupas, o “gatinho” se sentia mais à-vontade, se
defendia contra os preconceitos. Ele não era uma figurinha à toa, dessas sem
presença física! Isso não! Ele tinha uma bela estampa masculina!
Quando
algum cliente queria dar o cano nas moças, saindo sem pagar a conta de “consumo
e serviço”, o Mário saia do “esconderijo”; e mostrava sua boa habilidade nos
passos ensaiados de capoeira. Tudo encenação! Afinal, no mínimo, acreditava
ele, aquilo de não pagar a conta, era injusto com as pobrezinhas! Com
sacrifício e paciência, elas haviam suportar o bafo de cachaça dos clientes, bem
como tinham investido, tempo e atenção, no serviço como “acompanhante” de algum
daqueles grosseiros clientes, metidos a “machões”, fedorentos!
Brigar
de verdade? Mário, isso nunca fez! Na hora dos finalmente, as raparigas, elas
mesmas, se organizavam e de pau na mão, botavam o caloteiro safado para correr.
Podia ser até que o cabra não pagasse a conta? Sim, podia! Entretanto, de lá o
safado saia corrido, com pequenos hematomas, isso sim, o cabra levava como
lembrança!
Mário
ficava com a fama de brabo e corajoso; logo que possível voltava para o “armário”!
Como já falei, na rua, o Mário sabia ameaçar! Ensaiava dar rabos de arraia e
coisa e tal; engrossava a voz, falava alto...; tentava mostrar macheza! Enquanto
isso, as “moças” se organizavam, para o revide, com gritaria e palavrão de
montão. Logo elas avançavam! Era surra de porrete! Cabo de vassoura, que era pra
não judiar muito do devedor!
Naquele
momento, Mário entrava no recôndito do Barbinha, com rodopios ligeiros e alguns
saltinhos estranhos, no mais puro estilo do balé, de dar inveja à grande
bailarina Ana Pavlova, no clássico “A Morte do Cisne”. Parecendo uma libélula
esvoaçante, ele ia rapidinho se esconder no “guarda-roupas”! Nunca ninguém viu
o Mário na rua do Bar, “fazendo barraco”, como se diz na roda de malandragem! Nas
mãos dele, nunca se viu o brilho de uma navalha Solingen! O que se conhece
sobre ele, um quase nada, foi contado pelas “Meninas Comportadas”. Sobre o
Mário, só falavam coisas boas; um gentleman, amigo sincero, discreto e leal!
Jamais se soube de algum tipo de má conduta que o desabonasse.
Anos
mais tarde, com o advento de movimentos sociais, desses que “lutam” pela
liberação de gêneros. Mário foi hostilizado pela classe, sentindo-se forçado a
sair do “armário”, coisa que feriu muito a autoestima e a dignidade do rapaz.
Sem a liberdade de manter a intimidade preservada, ele cometeu um desatino!
Largou o emprego no Bar! Nunca mais foi visto nas imediações. Seguiu rumo
ignorado! Algumas daquelas “moças” contavam que o Mário foi daqueles que, nem se
sentou na sarjeta, nem foi em direção à Prefeitura. Teria ele preferido virar à
esquerda? Não, nada disso! Discreto, desceu a ladeira, buscou o sucesso! Anos
mais tarde, foi visto numa praia famosa, no Sul da Bahia! Trancoso! Era o dono
do badalado “point” “MarAmar-Quadrado”!
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| Figura 3 - Tela: “MarAmar Quadrado”, por Rocha Maia Texto e Telas (Figura 2 e 3 ) Rocha Maia Ilustração: Jornal Rio de Flores |
Luiz Roberto da Rocha Maia –
nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente,
em Rio das Ostras. Em 2023, completa mais de cinquenta anos de atividade
cultural.
Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em Portugal, é
Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais - Brasília /DF. Membro da
Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro; e da Academia de
Letras e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ. Participou de mais de duzentos
eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal, França e Bulgária. Recebeu mais de
setenta premiações e destaques em salões de artes plásticas.
Citado em catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil
e no exterior; bem como nos acervos do Museu Naïf de São José do Rio Preto/SP;
MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do Château des Réaux; e do Museu Internacional
de Arte Naïf de Vicq, na França. Seus quadros estão presentes também em
pinacotecas de diversas entidades e coleções de aficionados por arte naïf no
Brasil, Cuba, França, Itália, Espanha, Chile, Japão, Bolívia e Portugal.
Por três vezes foi selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo
recebido o prêmio aquisição 2006, em Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o
catálogo “Ingenuidade Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro
“O Diário de Lili Beth”, pela editora Videu – 2021; e colaborou com a Coluna
Arte Animal, da revista digital Animal Business Brasil, escrevendo artigos
versando sobre a presença de animais como tema nas belas artes.
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| Edição e Direção Geral Renato Galvão |





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