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| Figura 01 - Ilustração - Tela Título "Forrobodó" - Rocha Maia |
Recentemente, tive a felicidade
de participar da Antologia “Velhice, vida ou morte?”, Editora Rio de Flores,
sob a “batuta” editorial do artista plástico e escritor/poeta Renato Galvão.
Indagado se o tema havia sido assustador, capaz de afastar algum escritor menos
afoito nesse tipo de tema, prometi que daria minha opinião, tão logo pudesse
ter lido todos os poemas e artigos reunidos na obra.
Antes de chegar ao ponto de
resposta, quero aproveitar para ressaltar a excelência do profissionalismo da
Editora Rio de Flores, agradecendo a acolhida e o destaque que me foi
oferecido, desde o primeiro momento, até a atual posição dos meus contatos com
a Empresa. Li todos os artigos e poemas da publicação. Todos estão de parabéns!
Vamos agora respostar! Darei
primeiro minha opinião pessoal.
Em razão da idade, quase 76
anos, serei sincero. Não tive problemas frente ao tema proposto no Edital; não
me senti em nada constrangido; pelo contrário, foi uma bela oportunidade para
nortear minha opinião, no pequeno texto que produzi sob o título “Um dia tem
início o declínio!”, páginas 84/85 da Antologia, onde considerei exatamente
minha visão e experiência.
Talvez, por saber da dificuldade
que algumas outras pessoas têm, quando estão frente ao termo “Morte”, eu usei o
subterfúgio de figuras de linguagem, como eufemismo ou metáfora. Pessoalmente,
sou fã de Émile Coué! Acredito no poder da autossugestão, contido no mantra
“Todos os dias, sob todos os pontos de vista, eu vou cada vez melhor”! É dele
também o pensamento – “Não são os anos que nos fazem envelhecer, mas,
sim, a ideia de ficarmos velhos. Há homens que são moços aos oitenta anos, e
outros que são velhos aos quarenta.” Portanto, tento evitar o uso de frase e de
palavras negativas, embora, atualmente, isso esteja ficando muito complicado de
praticar!
Ao escrever sobre o tema
“Velhice, vida ou morte?”, procurei ser menos contundente ao abordar aquilo que
denominei “o destino inevitável de todos nós”. E por qual motivo não falei
diretamente o nome desse “destino”? Seria por medo ou paúra?
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| Figura 2 - Tela Título “Forrobodó!” por Rocha Maia |
Vou lhes contar agora!
Quando menino, me contaram uma
história. Parece brincadeira, mas é pura verdade. Minha tia-avó, Elsie, padecia
de um tipo de fobia que não chega a ser raro. Tanatofobia! Dizendo assim, até
que a morte parece mais “palatável”! No fundo, a verdade é que a palavra fica
só parecendo, porque se tivesse “sabor”, como sabemos, seria amargo tal qual
jiló!
Só de ouvir a palavra “morte”, tia
Elsie entrava em crise de pânico! A síndrome era tão forte que, acionava de
forma incontrolável o “gatilho”. Bastava apenas a possibilidade de ouvir alguma
palavra iniciada por M, O, R, T...! Nas compras de supermercado, tinha um item
que se tonava problemático. Para ela pedir mortadela. Morta...dela? Nunca! Jamais!
Ela tremia convulsivamente e desmaiava! A coisa virava um verdadeiro forrobodó!
Contavam que um carteiro, certo
dia, durante entrega de correspondências, no tradicional bairro de Laranjeiras,
Rio de Janeiro, comeu um delicioso sanduiche de Mortadela, oferecido por alguma
moradora. Tendo já caminhado bastante, começou a ter cólicas intestinais, muito
fortes. Estava fazendo o percurso a pé, quando percebeu aquele momento trágico:
não daria tempo de procurar lugar onde aliviar a situação. Como a coisa estava periclitante, o servidor
público, carregando aquela mochila enorme nas costas, bateu desesperado no
primeiro portão que encontrou. Atendeu a empregada doméstica, a quem ele,
implorando misericórdia, sem praticamente pedir licença, revelou sua
desesperadora situação. A mulher correu na frente, para indicar onde era a
porta do banheiro. Com dificuldade, passos miudinhos e apertados, o homem
entrou na área de serviço da casa. Ele largou do lado de fora, de qualquer
maneira a mochila, repleta de cartas, e trancou-se rapidamente no sanitário! Foi
quando ocorreu fortíssimo estrondo, como uma explosão talvez. O barulho foi
percebido com horror pela empregada; imaginou ter acontecido alguma coisa muito
séria no sanitário!
Preocupada, ela batendo na
porta, chamou pelo carteiro, com voz enérgica, várias vezes, querendo saber se
ele estava bem. Chamou, gritou, bateu muito na porta! Como resposta só percebeu
aquele forte odor de esgoto, e um silêncio sepulcral. Naquela altura dos
acontecimentos, a dona da casa, minha tia Elsie, veio da sala querendo saber o
que estava acontecendo. Ao chegar na área de serviço, já encontrou a doméstica trepada
numa escadinha velha, olhando pela bandeira da porta do banheiro. Antigamente,
era comum as portas terem a parte de cima móvel. Como o pé-direito das casas era
muito alto, obrigava que as portas tivessem uma espécie de janelinha móvel, que
se abria para ventilar, independentemente de que a porta estivesse aberta ou
não. Era a bandeira da porta!
Olhando por cima, a empregada
teve perfeita visão da trágica posição que se encontrava o carteiro. Desmaiado?
Certamente que sim! Sentado com as calças arriadas, o tronco emborcado numa
espécie de cócoras invertida, tinha a cabeça tombada para a frente, na direção do
chão. Um horror! O cheiro era insuportável! Sem poder abrir a porta por fora, a
pobre mulher gritava lá da bandeira da porta, na tentativa de que o homem
atendesse seus chamados. Gritava tanto que atraiu moradores de casas vizinhas.
Nesse ínterim, tia Elsie
resolveu intervir; perguntou o que estava acontecendo. Do alto da escadinha, a
moça respondeu: - “Dona Elsie, acuda “nois” Deus! Acho que o carteiro morreu!”
Pronto! Foi o bastante para despertar o
pânico da tia; em segundos, tremendo como vara verde, espumando pela boca, a Dona
Elsie caiu como um saco de batatas! Pabuffti! Foi o barulho da velha no chão desmaiada!
Tanatofobia! Sim, é esse o nome do treco!
Encurtando a história! Enquanto
a Dona Elsie estava tendo a crise, parecendo até forrobodó, o pobre coitado do
carteiro, muito discretamente, após recobrar consciência, tomou fôlego, recolheu
a mochila e as cartas; foi saindo bem de mansinho... à francesa; sumiu na rua
Farani, onde nunca mais foi visto.
Conclusão! Cuidado para não
criar um forrobodó à-toa! Primeiro: nunca ofereça aos carteiros sanduiches de
Mortadela. Segundo: se oferecer, lembre-se de que pode ter por perto alguém que
sofra de TANATOFOBIA, isto é, PAÚRA de morte! Nesse caso, o sindrômico não
participaria, nunca, de uma Antologia, como essa, lançada pela Editora Rio de
Flores com grande sucesso!
Luiz Roberto da Rocha Maia –
nasceu no Rio de Janeiro/1947. Morou em Teresópolis e Brasília e, atualmente,
em Rio das Ostras. Em 2023, completa mais de cinquenta anos de atividade
cultural.
Membro de diversas entidades culturais, no Brasil e em Portugal, é
Fundador da Associação Candanga de Artistas Visuais - Brasília /DF. Membro da
Academia Brasileira de Belas Artes – ABBA do Rio de Janeiro; e da Academia de
Letras e Artes ALEART, Região dos Lagos/RJ. Participou de mais de duzentos
eventos de artes no Brasil, Cuba, Portugal, França e Bulgária. Recebeu mais de
setenta premiações e destaques em salões de artes plásticas.
Citado em catálogos e sites, possui obras expostas em galerias no Brasil
e no exterior; bem como nos acervos do Museu Naïf de São José do Rio Preto/SP;
MIAN/Rio/RJ; SESC/SP, na coleção do Château des Réaux; e do Museu Internacional
de Arte Naïf de Vicq, na França. Seus quadros estão presentes também em
pinacotecas de diversas entidades e coleções de aficionados por arte naïf no
Brasil, Cuba, França, Itália, Espanha, Chile, Japão, Bolívia e Portugal.
Por três vezes foi selecionado para a Bienal Naïfs do Brasil, tendo
recebido o prêmio aquisição 2006, em Piracicaba/SP. Na literatura, publicou o
catálogo “Ingenuidade Consciente”, Editora A3 Gráfica e Editora – 2010; o livro
“O Diário de Lili Beth”, pela editora Videu – 2021; e colaborou com a Coluna
Arte Animal, da revista digital Animal Business Brasil, escrevendo artigos
versando sobre a presença de animais como tema nas belas artes.
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| Edição e Direção Geral: Renato Galvão |



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Parabéns muito sucesso.
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