Deus, a natureza, o destino me fizeram nascer mulher. Não sei se em outro plano, tempo ou mundo, eu tenha decidido ser quem eu sou, mas sinto que fui criada e moldada a semelhança do Criador.
Me sinto abençoada, outras me senti amaldiçoada em ter nascido. Esta maldição presenciei quando me vi nascida em meio a falta de recursos, financeiros e culturais, mas aprendi a driblar as dificuldades, diante do inesperado, estudei, me esforcei, trabalhei até minhas forças chegarem quase à exaustão, desistir nunca foi uma opção.
Não fui trazida a este mundo para mendigar, vim para viver, lutar e vencer. Há quem diga que fui desmiolada, provavelmente até muito tola em alguns momentos. Se fui, já não o sou, o que fiz de mim foi por escolha. Escolhi viver do meu jeito, com minhas posses, meus desapegos, meus amores, meus dissabores.
Não culpo ninguém, pelo que fiz ou deixei de fazer. Se houve culpa, foi minha e há muito já concedi o perdão; a liberdade de sermos deste ou daquele jeito é de cada um.
Amei quem eu quiz, certo ou errado só cabe a mim mesma entender, meus pecados, meus enganos, erros e acertos, somente eu, para dar minha absolvição ou condenação. Sou puramente eu.
Não nasci com asas, mas as criei, não tive facilidades, mas venci os obstáculos. Não fui santa, sou pecadora e daí, quem, não é? Não julgo ninguém, quem me julgou, perdeu um tempo precioso de olhar para si mesmo.
Nunca cultivei o ódio, nem ressentimentos, mas o perdão só favoreceu quem eu escolhi. Os outros meramente coadjuvantes do acaso, permaneceram lá no acaso da obscuridade. O triste é ser um espinho para os outros, porque muitos retiram os espinhos do caule da flor, para poder apreciar e sentir a maciez da rosa, eu prefiro ser acarinhada.
Prefiro ser eu, mulher de fases, como na música, que alguém um dia escreveu. Prefiro ser a chama, que acende o fogo, e não a fogueira que queima.
Prefiro ser a voz que fala de poesia, a mão que escreve sem ódio, sem desmerecer ou machucar.
Prefiro ser semeadora, de minha prole que contaminei com amor a vida, respeito ao outro e com a centelha de querer saber mais, a predileção por livros, música e arte. O doce pulsar de ser curiosa, de querer alcançar as estrelas e voar tão alto que a Terra seria somente um ponto em meio a imensidão.
Sim sou mulher, de fases, de escolhas, de gratidão eterna por ter nascido e gerado meus rebentos. Sou mulher nascida em século e atravessando outro, com a esperança de ver mais mulheres voando mesmo sem asas, com a liberdade de ser apenas dignas de amor e respeito, e ser sempre aquelas a quem vivem cobertas de razão.
Ivete Rosa de Souza (Rosa dos Ventos), nasceu em Santo André, São Paulo no ano de 1955. Assídua leitora desde criança, apaixonada por poesia. Foi policial por mais de vinte anos, viu os dois lados do ser humano, mas não deixou de sentir e escrever poesias. Com dois livros publicados e participação em mais de trinta antologias, tanto físicas como digitais. Escreve contos, crônicas, além de poemas. Acredita que escrever é uma libertação. Colunista do Jornal Rio de Flores e Jornal Rol da Internet.



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