Não leio os
sumários dos livros de poesia, gosto da surpresa de virar a página e tropeçar
em um verso inesperado, a liberdade de ler a vida sem saber o que virá. Por que
tudo precisa ser tão calculado e metrificado? Por que precisamos planejar tanto
quando a vida vai dar certo, se o que vem a seguir pode ser tão bom, justamente
no momento que relaxamos e esquecemos das nossas próprias notas de rodapé? Ah,
quanto tempo passamos lendo capas e esperando textos que presumidamente nunca
foram escritos? Julgamos o brilho da literatura pela primeira imagem impressa
na estante.
Quero a
novidade, ainda que tenha sido escrita há 5000 anos, quero o espanto ao
interpretar eu mesmo uma emoção que nunca vi explicada na contracapa, quero um
prefácio escrito por alguém que acabou de acordar e não pensou no lirismo
acadêmico para falar de mim. Tudo que eu quero é raro e ao mesmo tempo de fácil
acesso, acessar o inverso do que a ambição humana prediz em seus manuais
inconscientes de eternidade e memória.
Se meu nome estiver nos livros de história, não será grande coisa, se meus poemas viajarem o mundo, não será um feito heroico, se títulos me forem dados, serei apenas um representante daqueles que ainda virão após minha ida. Gosto do sabor de ler a última página do livro, sabendo que agora faço parte dele em suas minúcias e de alguma forma ele faz parte de mim, como uma pessoa que atravessou meu caminho e me viu nu de alma, viu meu sangue circulando e sincronizou até os batimentos cardíacos pela sintonia entre ler e ser lido.
Se meu nome estiver nos livros de história, não será grande coisa, se meus poemas viajarem o mundo, não será um feito heroico, se títulos me forem dados, serei apenas um representante daqueles que ainda virão após minha ida. Gosto do sabor de ler a última página do livro, sabendo que agora faço parte dele em suas minúcias e de alguma forma ele faz parte de mim, como uma pessoa que atravessou meu caminho e me viu nu de alma, viu meu sangue circulando e sincronizou até os batimentos cardíacos pela sintonia entre ler e ser lido.
Não leio os sumários dos livros, assim fico inspirado, e amo o conteúdo, ainda que já tenha me decepcionado em alguma leitura anterior, pois não temo a dor, a sorte, o amor, o martírio ou a morte... O inesperado às vezes mora no sorriso já conhecido de um verso sem rima, um sinônimo trocado, um dia calmo de sol em algum lugar dentro de mim, uma gentileza tão afetiva que transcende a expectativa de um amanhã. Hoje foi tão bom que eu não me importo de repetir datas, horários, roupas ou palavras. Quero ficar aqui, nesta página da vida chamada hoje, lendo os olhos de quem ao mesmo tempo está me lendo, sem medo de surpresas ou segredos, na exata página que escolhemos... O sumário é o de menos.
Texto: Pedro Garrido
Edição e Ilustração: Jornal e Livraria Rio de Flores
Pedro
Garrido é pedagogo, poeta, escritor e palestrante de São Gonçalo - RJ.
Participou de diversas antologias e eventos literários nacionais e internacionais,
além de ser membro de três academias literárias e de coletivos culturais. Em
janeiro de 2021, lançou seu primeiro livro de poemas, "(Uni)Verso".
Até agora, publicou quatro obras individuais: "(Uni)Verso" (2021),
"duo" (2022), "Teshuvá" (2022) e "Pedrinho e o Cão
Brabão" (2023). Também é o criador e produtor cultural do sarau
(Uni)versos Livres, realizado mensalmente na Casa de Cultura Heloísa Alberto
Torres, em Itaboraí.
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| Edição Geral Renato Galvão |


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