Conta a lenda que Francisco, era um cabra macho, valente,
acostumado a se meter em brigas. Não era de grande estatura, ao contrário. Era
um sujeito baixo, com seu 1,60, moreno com a pele ressecada pelo sol. Vivia se
gabando de seus feitos, a quem quisesse lhe ouvir.
Estava de certa feita em um boteco, lá pelas bandas de Pernambuco. Um homem bem trajado, chegou perto dele, com um sorriso maroto lhe disse:
— Comprei uma propriedade, que antigamente era um hospital
de loucos, pretendo fazer um conglomerado de casas. Mas andam roubando material
do local, e os empregados contam que há almas penadas no lugar. Nunca vi
nenhuma, nas vezes que visitei o local. Estou precisando de um vigia, que fique
por lá durante a noite. Vi que o Senhor é um homem de bem, muito corajoso,
quero lhe fazer uma proposta, acho que o Senhor vai gostar.
Francisco cheio de pose, puxou as calças para cima, quase à altura do estômago. Se ajeitou na cadeira virada ao contrário, de frente para o homem e falou:
— Diga lá, patrão, do que se trata. O homem continuou:
— A propriedade, segundo me disseram foi um hospício, o
prédio é muito bem construído, por isso pretendo, ajeitar tudo, e vender casas
de bom tamanho.
Posso até lhe dar uma se o Senhor aceitar o cargo de vigia.
Francisco, que já se apresentou como: — Chico a seu dispor.,
se aprumou todo dizendo:
— Não há vivo ou morto, que me faça perder uma oportunidade de ganhar um dinheiro, ainda mais fácil desse jeito.
O homem então lhe adiantou um mês de salário. Deu-lhe as
chaves e o endereço do imóvel. Chico partiu para seu novo trabalho.
Quando chegou, encontrou um cabra tremendo.
— Danou-se, que é isso homem? Isso é coisa de um cabra macho
se comportar? Tome vergonha. E o homem quase a chorar, foi dizendo:
— Não há dinheiro, que me faça ficar nesse lugar amaldiçoado. Tem alma gritando, você ouve, corre atrás e não tem ninguém. Outra hora derrubam as coisas. Até tábuas e ferramentas andam pelo ar. Eu não fico mais aqui não.
Chico riu de dar gosto. Então se vá cabra frouxo, deixe que
eu vou tomar conta de tudo. E o homem se foi dizendo:
— Você não sabe o que te espera Chico.
Chico ficou, no restante da noite, não viu ou ouviu nada.
Logo pela manhã, o patrão veio e perguntou:
— Como estão as coisas aqui Chico? Ele respondeu:
— Olhe patrão aqui está tudo nos conformes, não vi ou ouvi
nada.
Na noite seguinte, tudo tranquilo. Na terceira noite, ele
ouviu, algo que parecia um cochicho. Saiu de arma na mão, avisando:
— Olhe aqui, seja quem for vivo ou morto eu meto bala.
A falação parou, mas ele não encontrou ninguém. Na quarta noite, ele já achava que era coisa de outros empregados, mexendo no material de construção. De arma em punho foi ver, viu placas de madeira andando para lá e para cá. Cordas que se amarravam e se soltavam, ele simplesmente começou a bater o pé e cantar, para que as cordas dançassem no ritmo da música. Tudo parou de repente. E ele voltou a sala de vigia.
Na noite seguinte, o patrão já havia dobrado o salário de Franscisco. Estava contente, afinal tinha encontrado o empregado perfeito. E o vigia ficou ainda mais feliz e confiante. Fantasma não existia, era só imaginação. Ter medo de quê? Homem que é homem tem de honrar as calças que veste.
Passada a primeira semana, Chico até tirava uns cochilos na
madrugada. Mesmo com sussurros e barulhos estranhos, ele se acostumou com a
perturbação. Mas na primeira segunda feira da semana seguinte, logo pela manhã,
quando o patrão veio conferir o andamento dos trabalhos diurnos, encontrou
Chico na porta.
Com as chaves na mão, e o pacote de dinheiro que havia
recebido dois dias antes. Foi logo entregando ao patrão:
— Olhe homem, fantasma que anda e fala e eu não vejo, até tolero, mas quando vem me passar a mão, isso eu não tolero não. E foi andando. O patrão riu quando viu o fundilho das calças de Chico, todo borrado. — Danou-se, exclamou o homem, nem o cabra mais valente destas bandas, aguentou.
Dizem que realmente há um corredor de casas, construídas
onde era um hospital de loucos, e que ainda hoje ocorrem fatos inexplicáveis.
Vozes e choro são ouvidos, muitos dos habitantes do lugar, já mandaram rezar
missas para as almas perturbadas.
Edição e Ilustração: Jornal e Livraria Rio de Flores
Direção geral: Renato Galvão
Ivete Rosa de Souza (Rosa dos Ventos), poetisa, cronista e contadora de histórias.Nascida em Santo André. SP, atualmente participando de antologias físicas e ebooks, contabilizando mais de 80 participações.Publicou dois livros de poesias, descobriu-se contista no gênero de Suspense e terror e outros de fantasia, onde houver história sempre haverá alguém para contar.


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